quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

MIGALHAS DE PÃO

(por Suzana Guimarães)


Obrigada, senhor de todas as coisas, senhor universal, pelas pessoas delicadamente retiradas da minha vida, obrigada, Deus.

​Insistente que sou, neguei-me a retirar a venda dos olhos, insisti em aceitar as migalhas   do pão - como se faminta eu fosse. Insisti no laço, no passado, no amargo. Insisti no pouco, no quase nada. Eu queria os nós, as fitas amarfanhadas, tudo que me mantivesse presa, agarrada, de boca aberta a esperar migalhas de pão.

Pássaros minúsculos alçam voos com essas migalhas. Em mim, por quase todo o tempo, pesaram iguais a concreto. Como são pesadas as migalhas de pão! Só sendo pássaro, só sendo vento, e eu não sou! 

Insistente que sou, apeguei-me à venda nos olhos. Delicadamente, como tu és, fizeste com que todas elas, entrepostas, caíssem uma a uma, assim como caem as maçãs de suas macieiras indiferentes.

Delicadamente, como tu és, mostraste que a luz para fora das vendas pode arder, mas será sempre luz, nunca escuridão onde almas desinfelizes gostam de atirar farelos de pão. 



Por Suzana Guimarães