domingo, 24 de agosto de 2014

E, então...


Novamente, venho para dizer que este espaço ficará por algum tempo inativo. Estou escrevendo o meu segundo livro e tudo o que chegar em mim será material para ele. Enfim, irei hibernar.

Obrigada a todos pela leitura.


Um abraço,


Suzana Guimarães


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SOM EM LINHA

(Imagem: desconheço autoria)


Na sua mudez,
Ouço alto som.
Na sua mudez,
Compreendo o tom.
Todo o mais que não possa imaginar,
Em seu desequilíbrio equilibrado,
Em sua firmeza de uma única palavra:
Seca, polida, seca

leio frases...

Em suas frases,
Breves e curtas,
Curtas de medo, leio livros...
No seu silêncio,
Ouço te quero.
No te quero
Ouço te amo.
Sabotado,
De um não-amado.
Se você falasse,
Eu não leria.
Se você risse,
Eu não ouviria.
Se você me tocasse,
Eu não saberia.
Mas você não fala, não ri, não toca.
Você se cala.
Quanto mais cala
Mais fala.
Menos embaralha.
Eu queria que você me enviasse um livro
Pra embrulho.
Aí sim,
Eu saberia que você escrevia apenas uma linha.


Por Suzana Guimarães

Publicação original: 

SEGUNDA-FEIRA, 7 DE JUNHO DE 2010, em "O medo de suzana".

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Labirintite ou Vertigo Posicional?

(desconheço autoria da imagem. Encontrada no Google)

A primeira crise de Labirintite, eu a tive aos 17 anos, logo após saber que havia passado no Vestibular. Foram meses de estudo e muito nervosismo, principalmente no dia em que o resultado saiu. Na minha família sempre houve casos de Labirintite, daí, eu não procurei médico, já que os sintomas eram os mesmos. Tomei o remédio indicado que era o único no mercado farmacêutico. Ela durou cerca de dez dias. Após isso, voltei a tê-la, mas não durava 48 horas e não vinha de forma seguida. Cheguei a ficar anos sem Labirintite, mesmo em ocasiões em que passei por momentos de extremo nervosismo, dias complicados, vida agitada demais.

Quando eu tinha a crise tomava Stugeron 75 mg (nome fantasia). Os sintomas eram: fortíssima tontura, enjoo, perda de direção ao andar, dor de cabeça (às vezes, sim, outras, não), intolerância a sons altos e luminosidade. Nunca precisei ser internada em hospital e nunca vomitei.

Em 31 anos, muita história, mas nada que me deixasse preocupada. Apareceu um remédio chamado Vertix (nome fantasia) e eu experimentei. Ficava mais tonta ainda, o mesmo acontecia com outras pessoas da minha família.

Há dez anos, fiquei sabendo por um dos meus médicos da época, que Labirintite estava sendo tratada com Rivotril (Clonazepam). Eu já fazia uso dele por outros motivos e pensamos, o médico e eu, que, com certeza, eu não tinha mais Labirintite e enxaqueca porque fazia uso dele. O que é verdade. 

Entretanto, após uns 3 ou 4 anos sem Labirintite, comecei a tê-la por meses seguidos. Em 2011, por 42 dias. Assustei-me e tripliquei a quantidade de Rivotril. Um erro que não levou a nada. Ela se foi quando "quis". Em 2012, por 4 meses. Nesta ocasião, após a crise, sequer parei de fazer jiu jitsu de tanta raiva que fiquei. Eu ia às aulas e fazia apenas aquecimentos e treinos, não lutava. Eu sempre resisti à tonteira, aprendi a lidar com ela, a manter meu pescoço sempre esticado ao fazer certos movimentos, como por exemplo, para pegar coisas no chão ou no alto; eu acostumei-me a não dobrar a coluna para ir ao chão, acostumei-me a agachar-me primeiro para fazer isso. Em 2013, o pior ano da minha vida, eu não tive Labirintite.

No final de maio deste ano, ela chegou e ficou, dois meses. Uma pessoa da minha família estava igual a mim. E essa pessoa estava fazendo check-up. Um dos médicos pediu uma Tomografia. Ela, por conta própria, levou esse exame ao seu médico que estava tratando sua Labirintite, sem muito sucesso, com um remédio novo, Labirin (nome fantasia), Dicloridrato de Betaistina - 16 mg -; e ele disse, "Foi ótimo você trazer esse exame para mim. Você teve um pequeno infarto e um pequeno AVC há muitos anos, que, com certeza nem ficou sabendo, e que não deixou sequelas. Você não está com Labirintite. Precisa tomar um remédio para ralear o sangue". No segundo dia de uso do remédio, ela sarou.

Após relutar bastante, decidi procurar meu médico de família (nos EUA) para que ele me indicasse um caminho. Ele indicou-me uma clínica de ouvidos. Eu teria que procurar, depois, segundo meu médico, um neurologista, caso nada encontrassem. Mas, como tudo na vida tem seu tempo útil, dentre dez médicos, fui atendida por um que também é neurologista. E fala em Português. 

Fiz exames de audição, Ressonância Magnética e uma sequência de outros que visam analisar o balanço dos ouvidos. Não sei explicar sobre isso. A técnica em radio fez exames para analisar o grau de tontura, a qualidade dos ouvidos... ela me disse que pessoas com "Labirintite" ou não ficam tontas durante os jatos de água fria ou morna nos ouvidos. E que, preocupante e ruim é não sentir nada. Disse que algumas pessoas se entregam à tonteira e deixam de fazer as coisas, o que é errado. Disse que é preciso lutar contra. Resistir. Disse que meus ouvidos têm ótimo balanceamento, um muito bom, o outro, pobre, mas perfeito.

Daí, veio o diagnóstico do médico: eu não tenho, e provavelmente nunca tive Labirintite.

Na primeira consulta, percebi que ele iria esperar os exames serem feitos, claro, mas que ele não acreditava ser Labirintite. Disse-me algo que eu nunca havia ouvido falar: todos nós temos pedrinhas, calcificações, pequeninos cristais dentro dos ouvidos. E essas "pedrinhas" podem sair do lugar. A técnica em audio havia me explicado, elas se esbarram nos nervos e daí surgem todos aqueles males, acima citados. Há quem precisa passar por cirurgia para cortar esses nervos porque não consegue ter uma vida plena, ela disse. O médico disse que tenho Vertigo Posicional. Durante a crise, devo tomar remédios tipo Dramin, para viagem. Deu-me uma lista de exercícios para fazer em casa, e, se retornar, quando retornar, para eu ir à clínica. Para o quê? Para fazer os exercícios que também fiz com a audio, nos quais, ela tenta jogar as "pedrinhas" de volta para o lugar delas. Confesso: é cansativo, é torturante, mas eficaz. Sinto-me bem. Estou na fase de espera, não posso fazer os exercícios por agora, tive que dormir duas noites com vários travesseiros, não abaixar a cabeça, nunca deixar o corpo em posição reta, mas estou bem. Acredito que meus "internos cristais" tenham voltado para o lugar deles.

Labirintite existe, claro. Decorre de inflamação nos ouvidos ou de problemas outros, como os circulatórios. Porém, tenho agora que mudar o disco, a fala, não dizer mais "Estou com ou tenho Labirintite", algo que fiz por 31 anos, e, simplesmente dizer, estou com Vertigo.

As denominações às vezes importam pois são elas que nos levam aos medicamentos.


Suzana Guimarães

sábado, 9 de agosto de 2014

O carinho de alguns leitores por dOloreS Crônicas...

(Alex e dOloreS...)
(Ana Beatriz e dOloreS Crônicas, de Suzana Guimarães)
(Hilton e dOloreS Crônicas, de Suzana Guimarães)


"(...) Eu a amo muito, porém, nem sempre sei dizer o quanto pois me perco na constante mania de tentar decifrá-la. Eu deveria apenas amá-la, sem tentar entender, sem tentar achar explicações porque o amor não se explica, não se escolhe. Ele é o livre senhor, eu, a simples escrava. É ele quem decide o dia e a hora em que chega, num zigoto ou nas fendas que se abrem para as águas de um parto. Ou quem sabe, num dia quente e você está com os braços cheios demais para agarrar algo mais, mas ele chega e lança-lhe a prenda. (...)". Trecho de uma das crônicas publicadas em meu livro, dOloreS Crônicas.

Por Suzana Guimarães.



(Karla, Francisco e dOloreS...)
(Thelma Ramalho e dOloreS Crônicas, livro de Suzana Guimarães) 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Um pouco sobre loucura


(Suzana Guimarães, by Hilário)


Antes mesmo de abrir os olhos, pelas manhãs, sinto presentes meus fantasmas, meus delírios, meu mundo cão do qual não me desfaço. De lá para cá - não se importe com datas - disseram-me que se apaixonaram por mim porque sou bonita e escrevo bem. E, por isso, como consequência, devo retribuir a paixão, ou amizade, como queiram. De lá para cá, ouvi e li de tudo. Uma amiga escreveu um texto sobre hospício, loucura própria e alheia. Ela, a Tânia*, disse que não se pode abraçar e carregar para si a doideira do outro. Diz que o perigo está aí, quando você vive a loucura alheia, e não a sua.

Pois bem, às vezes, eu me atrevo, e, diante de um chamado, coloco um dos meus pés dentro do seu círculo, só para ver como é, só porque gosto de sobrevoar áreas belas e também as fedidas. Contudo, retiro-o, retiro esse pé, e faço isso normalmente com bastante barulho, quase aos berros.

Então, por que pensaria alguém que eu viveria loucuras alheias? Porque coloquei um pé lá? Fui apenas espiar. Não fiquei para o contágio. 

Ser bonita e escrever bem não lhe dá nenhuma prerrogativa sobre mim, assim, de você para mim. Qualquer consequência será de mim para mim mesma. Entendeu? Ou eu deveria levantar numeração de álgebra?

Às vezes, nem coloco meu pé, nem olho, nem presto atenção porque estou ocupada, vivendo minhas loucuras, mas há de aparecer alguém...

De lá para cá, disseram-me que eu levava ao delírio, à confusão mental... pessoas que chegaram e me convidaram para fazer um passeio com elas. Claro, ninguém mencionou a palavra loucura. Eu fui, não atrás de maluquice alheia, mas por diversão, por encantamento ou por nada, porque sair por aí para fazer nada é algo extremamente normal. O mundo está tentando dizer que não, mas discordo veementemente. Chamaram-me, e, quando pulei fora, gritaram para mim, "Sua louca! Foi você quem me induziu!". 

Há pessoas que sabem de seu poder de influência sobre as outras, e, assim sendo, aglomeram multidões, todas querendo viver a loucura delas, de quem as convidou. Por isso, o mundo não conserta, porque há muita gente desprezando sua própria demência para viver a de qualquer um outro; de preferência, que tenha alguma magia, alguma coisa de endoidar mais ainda.

Faço minhas as palavras da Tânia, viva o seu próprio delírio porque não há mesmo escapatória e a vida pode até se tornar muito chata. 

Não inventa de mergulhar em mundos que você desconhece mais ainda, muito além do seu próprio. Não leia livros de autoajuda se você nem sabe ler. Leia a si mesmo, tenho certeza, o resultado será pouco satisfatório, então, deixo uma dica para você, procura ajuda de terceiro competente. Sozinho, no poço, tudo fica mais escuro.


Suzana Guimarães


Nota: *Tania Contreiras - Arte terapeuta