domingo, 28 de julho de 2013

ANTÍDOTO

Imagem encontrada na Internet

O inferno é aqui mesmo, planeta Terra. Gente certinha demais é venda falsa. Imposição é sinônimo de fraqueza. Tudo o que é belo pode se tornar horroroso, se mal usado. Generalizar é coisa de broncos. Ignorância e loucura são os maiores males do mundo. Quem é feliz não tem tempo para mais nada e quem é infeliz, só o é porque não sabe caminhar, e ninguém o ensinou, e, se houve oferta, houve recusa. Impossível separar o mundo em bons e maus. Quem se cala dá chance ao diabo de rir, cuidado, então, ele está ao seu lado... mas, cuidado também porque um pode virar o outro, troca de postos. Coisa normal e previsível. O céu existe: está dentro de você. Se parecer que não, segura sua cabeça, respira, saia de si, dá uma volta e volta melhor, mais tolerante consigo e com os outros.

Suzana Guimarães


Nota sobre a imagem: somos todos iguais.

SOBRE O SEXO QUE FIZEMOS


By  XI PAN
 

Sensação de sexo consumado. Fechando os olhos, dá para relembrar, sentir o odor, o gosto, calor... Sensação de sexo consumado, nó na barriga que se contrai, uma engolida seca... Constante sensação a velejar nas artérias, fluidez, sossego pós ato. Foi sexo, não foi? Um centímetro de distância, ai, isso ainda mata. Mata sem dor, sem sexo.


Por Suzana Guimarães

sexta-feira, 26 de julho de 2013

QUE EU...



Desconheço autoria da imagem


Que eu fosse limitada, melhor palavra, burra. Que eu me calasse, apenas ouvisse, jamais contestasse. Que eu sentisse pudores de meus erros, vergonha por não saber... Que eu deixasse as ofensas debaixo das toalhas das mesas e me cegasse para o prazer da carne. Que eu fosse submissa, jamais debochada, nunca tão clara e vidente. Que eu me comportasse diante dos machos e das convenções. Que eu soubesse fechar bem os botões e dobrasse as pernas e dobrasse a língua... Que eu fosse outra. Que eu vestisse a roupa a mim ofertada... Porém, fui e fiz do jeito que eu quis. Não nasci para ser enfeite. Não sou galho de flor seco que adorna aparadores.
Por Suzana Guimarães


Nota: originalmente publicado em 25 de julho de 2013, no Facebook.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

sexta-feira, 19 de julho de 2013

PRESCRIÇÃO

 
 
Imagem: Google
 
 
 
Preciso de gente para apenas me tocar, para mais nada.
 
Suzana Guimarães

quinta-feira, 18 de julho de 2013

QUANDO NASCE O MONSTRO



Ontem, ouvi uma história. T. contou-me que sua mãe, na casa dos 40 anos, um dia, surtou e sumiu. Sua mãe havia se divorciado quando T. tinha 9 anos. Aos 17, T. teve um filho após dar imenso trabalho para ela, sua mãe. A avó, quando viu que estava tudo muito bem encaminhado, a criança já estava grandinha, desapareceu. T. a entende perfeitamente e diz que também sumiria, hoje, se fosse possível... mas, ainda não é. Essa mulher de 40 anos telefonava para dizer que estava tudo bem e namorou, viajou, trabalhou, ficou mais bonita. Um dia, voltou. Mas, nada mais é como antes, pois ela virou o monstro. Um sábio monstro, dita as regras da sua vida, não tolera conversa sem fim e só cozinha quando quer. Trabalha, viaja muito e não aparenta a idade que tem, até engordou. O que ela faz? Sopra o seu bafo de cansaço na cara de quem lhe incomoda e não permite mais, às vezes, dá alguma licença.

Cansaço do abuso, da falta de limites dos outros. Eu também sou um monstro, apesar de ninguém acreditar ou ver. Engano bastante. A fraude não faz parte do meu caráter, mas há coisas em mim muito incontroláveis. Não posso contra a minha aparência física, meu bom humor e a minha velha mania de rir de repente, das coisas boas e até das ruins. Isso é bem de família, assim são as mulheres da família da minha mãe. 

Durante o tratamento com meu psiquiatra, ele disse: "Cuidado, Suzana! Pessoas que se curam deste seu mal, costumam virar 'monstros". Graças a Deus e a você, Dr. J., eu virei, e mantenho esse monstro atado a mim, em constante vigília.

Quando eu disser sim, é afirmativo. Quando eu disser o contrário, acredite. Quando eu disser talvez, dê-me um tempo para pensar, saia de perto, não atole de palavras os meus ouvidos. Quando eu pedir água, por favor, não entenda nada mais além disso. Queima os manuais ridículos que ensinam a tratar as mulheres de outra maneira. Bom, quem sabe, para a maioria, o manual encaixa-se perfeitamente, mas para mim e a minoria, não. Não é não e sim é sim. Apesar de escrever muito por entrelinhas, não vivo nelas. É só poesia. Poesia...

Não me fale o que já sei, quero o que ainda desconheço. Não brinque com os meus sentimentos, posso vir a queimá-lo com meu bafo quente, antigo, velho, conhecedor das almas, sou o rio velho, onde muitas se jogaram. Saiba sempre, que mesmo nesse caso, pouparei você do pior, guardarei para mim, debaixo das minhas roupas os seus fedores. Isso é outra característica incontrolável, alheia à minha vontade. Nada posso fazer se posso sabê-lo sem ao menos vê-lo. 

Venha comigo, simplesmente, venha. Não finja que me deseja, pois eu posso acreditar. Não finja que não me deseja, pois eu posso decidir crer, feito discípula fiel. O monstro nasce quando descobrimos que só nós mesmos podemos nos machucar. Eu me machuco quando permito, eu me curo da mesma forma, pois, lamber ferida é algo absolutamente normal, mas desaprendi a amar. Não sei amar porque isso exige planos e eu não tenho mais planos. Eu nunca mais convidei alguém para viver uma história comigo, eu somente chamo para ir ali. 

Você é capaz de ir ali comigo?


Por Suzana Guimarães

segunda-feira, 15 de julho de 2013

QUEM É O LOUCO?

iMAGEM eNCONTRADA nA nET.

Será que louco é quem chegou muito próximo? Será que louco é quem inventa da noite para o dia o que há de ser com ou sem sentido? Louco é quem invade ou quem permite? Nos últimos anos, criei a arte da máxima aproximação. Aprendi enfim a fazer contato, e, a língua que nunca foi presa, soltou-se de vez. Passei a encostar as pessoas nas paredes, sem ao menos tocá-las. Totalmente sem medo, encarei corpos e almas. Falei muitas verdades, as dos outros e as minhas. Tirei os véus e muitos outros caíram por conta própria...

Restou-me, agora, os céus. Só eles para me dizerem que a loucura alheia é simplesmente coração em lonjura. É só loucura? É só maldade? Ou é maldade e loucura? Uma gente pensando que engana, uma gente que não quer a emoção, apenas números, uma infinita carreira de números a contar vantagens. Todos muito bons de cama, de emprego, filhos e cultura. Tudo muito certo, mas os olhos falam em língua totalmente diversa. Dá medo ler certos olhos. Dá pena perceber alguns outros e dá choque sentir a vontade presa num corpo vendido e amaldiçoado.

Ninguém dirá que sou louca. Só porque estou de branco não significa que todo o resto, de preto, é que é normal. Só porque sou racional não significa que não posso sentir. Louco é quem inventa sentir. Louco é quem se garante por poucas moedas. A loucura é incongruência. É tudo o que é óbvio ser arrastado pela covardia humana como se não tão óbvio fosse; arrastado para lugares obscuros com a desculpa hipócrita e conveniente do certo e errado.

Loucura não é a audácia do abrir de portas, loucura é dizer que não há saídas somente porque o labirinto parece não ter fim.


Por Suzana Guimarães

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Uma carta para R.

 
 
Raíssa Medeiros, fotografia gentilmente cedida
 
 
Em algum lugar do passado, julho de 2013.
 
 
 
Querido R.,
 
 
Eu vou gritar! Diga-me, diga-me o que fazer, pois foi-se o tempo em que eu acreditava em gritos. Na realidade, você bem sabe, jamais acreditei. Cavalos aprendem aos sussurros... o mundo é um grande silêncio, presente dos deuses, mas que ninguém vê ou valoriza... se fôssemos mudos, nós, os humanos, não teríamos tantos problemas. Mas, vou gritar. Gritar, gritar, gritar até perder a voz, para sempre. Só assim.
 
Por que eu lhe escrevo? Por que não telefono? Por que não o convido para um café? Um chá? Um passeio, uma viagem, uma luta no tatame, um treino... porque há o tempo para todas as coisas e encontro-me em pleno descascar de espinhosas frutas. Pela demora no ato, posso vir a encontrar fraco suco ou gosto amargo; talvez podre.
 
Insuportável mesquinharia humana me alucina, tira-me o eixo e eu nem sei mais se digo que a manhã se faz fresca ou a noite aconchegante. Então, escrevo para você. Talvez, este seu humor irreverente e esta sua mania prática de ser venham a me salvar. E tua doação. Sei, sei, andamos cansados, mas sabemos carregar malas. Simples, não é? Não prometemos, fazemos.
 
Doamos aquelas sacolas de quimonos, e hoje, negam-me dois emprestados, mesmo que surrados e rasgados. Doamos nosso tempo e nossas empreitadas, e hoje, dizem que há preço para tudo, valores que se discrepam, muito acima do real. Estão vendendo caro, estão pedindo muito, estão se omitindo bastante, cobram demasiadamente e em algumas vezes, gritam por moralidade enquanto bolinam por detrás de pesadas cortinas em xadrez.
 
R., estão apontando o dedo para mim, dizem o que devo fazer, a carta a oferecer, jogam comigo como se eu nunca houvesse jogado. Na grande mesa de pôquer, perdi, me confundi entre caras. No tatame, na beira dele, deram-me uma rasteira, bem antes dos cumprimentos. Falam em dinheiro e gritam. Fui jogar pôquer pelo prazer do bem viver, mas os cães continuam roendo os ossos e arrotando inverdades. Não sou pura, se eu pudesse, mataria a dentadas, não antes de avisar da morte. Sim, eu aviso, sempre fui assim, não é? Mas, hoje, quem manda é quem fica na virada da esquina, onde pouca luz se vê. Quem manda é quem nunca se revela.
 
R., os loucos estão soltos e gritam que louca sou eu.
 
 
Por Suzana Guimarães.


P.S.: a boca secou, perdi a saliva.

O QUE MACHUCA


Rodrigo Rolim


Eu poderia listar tudo o que machuca. Tanta coisa... a vida machuca, o corte da faca, a queda no chão duro. Um tapa na cara. O cárcere privado. A guerra. A humilhação, a fome, a tortura física e mental. Escravidão machuca. Medos machucam. A indecisão. Machuca tudo o que causa enfastio ou desespero. A rotina machuca, os olhos obrigados a estarem abertos. Uma noite longa machuca, senão seria curta. Cartas apunhalam, bilhetes desprezam. Indiferença machuca. Falsa diferença também machuca. A acne no rosto do adolescente, o mênstruo e o aborto. Cegueira de alma, desperdício.
Eu poderia listar... mas o que realmente dói é o susto. Machuca feito um raio a trespassar a alma. Um flash, mas rápido e certeiro.
Machuca, sim, machuca, o susto.
Por Suzana Guimarães.

sábado, 6 de julho de 2013

SOBRE HOMENS E PÊNIS

 
 
 
Suzana Guimarães, by Hilário
 
 
A primeira revolução sexual feminina surgiu com a descoberta da pílula anticoncepcional. A segunda, com a criação do vibrador. Os machos inteligentes sabem que ele não é suficiente para uma mulher, pois ela quer mais, ela sempre quer mais que mecanismos.
 
O macho destituído de inteligência (único possível sinônimo para o que é absolutamente perfeito, divino) crê em seu pênis, na supremacia do órgão ereto e desbravador. O comedor. Sua pouca inteligência não lhe permite enxergar a realidade do vibrador, que serve bem melhor que o pênis em sua função quase única para elas... um órgão que não cintila, não cheira a frutas, não é extremamente maleável, sem vibrações lentas, vagarosas e rápidas e lentas e vagarosas e com exaustão e necessidade de recuperação... e que está sempre de um ou de outro tamanho. Sem variantes.
 
Mulheres podem muito bem dispensar eretos pênis, elas só não conseguem dispensar os homens inteligentes.
 
 
Por Suzana Guimarães