sábado, 25 de dezembro de 2010

SINE DIE


Caros leitores,

Este Blog só poderá ser encontrado até aqui, temporariamente.

Aos amigos que sei que se preocupam, quero dizer que estou bem. Não estou cansada daqui, nem doente, nem triste, nem deprimida, nem sem tempo, nem sem computador e  nem com ele "dando pau", nem sem inspiração, nem sem vontade de escrever. Vocês merecem a minha satisfação, por isso estou aqui. Decidi fechar a casa, apenas isso.

O Blog ficará fechado sem previsão de volta,  mas eu continuarei visitando os amigos, lendo textos, divertindo-me, chorando e sentindo junto.

Suzana/LILY


Nota: mesma publicação, na mesma data, em Contos de Lily.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A VOCÊ


arquivo pessoal


A você que por aqui passou, ficou, me leu, me lê. A você que não me leu, fingiu não leu, comeu e bebeu minhas palavras... A você que por aqui passou e me amou, em silêncio, escandalosamente, ou não, a você que aqui veio para descansar, se encontrar, se perder de vez ou somente saber de mim, matar curiosidade. A você, que por você, eu nem quis ter globo em casa, girando, para que você se sentisse à vontade, não vigiado, não controlado. A você que eu dei asas, a você que preencheu minhas lacunas, equilibrou meu desequilíbrio tolo, a você que me deu palavras, que jorrou letras com aguardente em minhas entranhas, que me enlouqueceu e me curou. A você que conheci por que aqui passou, e que cumpriu nosso destino. A você que não me quis, mas retornou dezenas de vezes, a você que me quis, num misto de querer e desgosto, a você que acrescentou sorrisos na agenda da minha alma, que se deu sem medidas ou contou, um para você, um para mim. A você que nada escreveu, nada berrou, mas eu li e ouvi. A você que me busca feito amiga ou alguém de tantas vidas...

fique em paz, esteja em paz, sinta conforto na virada do ano.

Confesso, não gosto dessa época, para mim não haveria dia no mundo para se comemorar, principalmente por obrigação, mas sim, haveria, teria que haver comemoração diária. A festa para mim é hoje, a hora é agora. Não espero os convidados chegarem, como e bebo muitas horas antes, a partir do momento em que entrego meu espírito para a festa.

A você, meu carinho, meus votos de que o ano que está chegando seja o palco, a pista, o caminho para a tua melhor valsa, luta, dança.

                                        Suzana C. Guimarães


Nota: mesma publicação, na mesma data, em Contos de Lily.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

2010

fotografia, por SCG

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

UM FUTURO VIVIDO



Hoje, estou aqui (clica no endereço abaixo):


A Ana enviou-me esta imagem e três palavras. Pediu-me um texto. Para lê-lo, clica no endereço acima.

Suzana Guimarães


Nota posterior: texto reeditado e republicado em 9 de dezembro de 2013, em Contos de Lily.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

PARCERIA

fotografia, por SCG




por ter acreditado, colhi todas as maçãs
amorosamente fatiadas
por ti
a mim ofertadas com votos de bem amada


e assim, caminho
pelas manhãs...


[não são tantas as alegrias
mas tenho sempre a ti
a velar na chama ardida
curar minhas feridas
das paixões mais vãs]


em amanhãs

(suzana c. guimarães)

sábado, 4 de dezembro de 2010

DESAFIO DOS 7

fotografia, por SCG

A Rosana Ventura ( http://zanaventura.blogspot.com/)  e a Thais Allana ( http://thaisallana.blogspot.com/ ) convidaram-me para participar do DESAFIO DOS 7.
Aceitei e espero que gostem de saber um pouco mais de mim.

7 coisas que pretendo fazer antes de morrer:

ver meus filhos adultos

aprender a fazer essa lista do "antes de morrer"

conhecer em carne e osso Saint Paul/Minnesota/USA

aprender a fazer malas

obter a faixa roxa (vai combinar com os roxos no corpo)

falar em Inglês com mais fluência que em Português (sonha, criatura, sonha)

voar novamente de ultra-leve (de preferência, na Bahia, feito a primeira vez)


7 coisas que mais digo:

neim! (não de mineiro, sou mineira)

vá que tô te vendo (típico de mineiro...)

mãe (por qualquer via, telefone e afins)

quaaalé?

merda

p. m.!

tô velha e cansada (herdei do meu pai)


7 coisas que faço bem:

cozinhar (e acho chique quem também sabe)

dormir no sofá (rimou)

cuidar dos meus filhos (podem me condenar por tudo, menos nesse quesito)

acordar sem despertador

pintar as unhas das mãos (confesso que ando preguiçosa)

perder-me com um mapa nas mãos

e que não faço bem: malas, organização de uma geladeira e contas


7 qualidades:

ser franca

paciência enorme para esperar

O&M (organização e método)

gostar de gente errada

ter medo

rir ao invéz de chorar

total capacidade de distrair-me


7 defeitos:

ser franca

total falta de paciência com o resto

O&M (organização e método)

gostar de gente errada

ter medo

rir ao invéz de chorar (naquelas horas inconvenientes ao riso)

total capacidade de distrair-me


7 coisas que amo:

chocolate (comer/beber/lamber)

jiu jitsu

nado peito (gente, não sou atleta)

Loja do Cabeleireiro (principalmente as prateleiras de esmaltes)

ler revista

peixe cru, homem nu (só pra rimar, mas não deixa de ser verdade... Porém, não juntem, aí na cabecinha de vocês, os dois, em nenhuma hipótese)

dirigir ouvindo música (prefiro rádio, pois nunca sei qual é a próxima e gosto de teclar/mudar as opções o tempo todo)


7 coisas que odeio:

tomar chá (exceto de erva-cidreira)

os roxos provenientes do jiu jitsu

todos os outros nados

Banco (apesar de que dinheiro é muito bom)

ler jornal (suja as mãos e o tamanho & encadernação incomodam-me)

comprar revista (gosto de ler as dos outros, sou pão-dura mesmo!)

televisão e telefone (exceção: falar ao telefone com a minha mãe e meus filhos, mas meu filhos também não gostam... de falar ao telefone, é claro!)

                      Suzana


Gente, não vou indicar 7 pessoas, mas gostaria que 7 amigos fizessem o mesmo.

sábado, 27 de novembro de 2010

MINHA ALMA


fotografia, por SCG


Minha alma tem o tamanho das vezes todas em que meu corpo morreu e reviveu. Sem contar, as todas vezes também em que meu corpo resistiu.

(Suzana C.Guimarães)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

CARTA À MINHA AVÓ

fotografia, por SCG

O vento que bate na minha cara é sempre mais frio. O cheiro que sinto é de maresia, não de Caratinga. Eu enfio a cara para fora da janela do meu quarto e sinto estar vendo a avenida onde você morava. Toda noite em que consigo parar um pouco. Não é sempre. Às vezes, não tenho tempo, fecho a janela num tapa e puxo as cortinas. Mas há noites em que o vento gelado marítimo puxa minha cara para fora. E então penso estar diante da avenida, onde eu, pendurada na janela, costumava olhar por horas e horas, madrugada adentro. Pergunto-me se há algo que me faz recordar. Nada. Nada. Eu nem moro de frente para a avenida - quatro pistas a mais que a outra, a do passado, moro de lado para ela. Mas, dentro da visão que tenho, do enquadrinhamento que faço, vejo tudo o que eu via antes, durante longos anos. Morei em vários endereços no Brasil, inclusive aqui, e nunca tive uma impressão assim, tão forte. Penso se é a cor da casa da esquina, se é o burburinho de vozes ao longe - vozes ao longe chegam iguais em qualquer idioma, se é o céu que é o mesmo ou a Lua. Mas não é. É algo mais. Os letreiros em língua inglesa provam-me que não estou lá. É algo que vem no vento. Feito o cheiro da roupa de cama quando estendo o lençol limpo para dormir. O cheiro que vem lembra você.

Lembra-se, vó, de quando varávamos a madrugada jogando burro deitado ou burro em pé? Pois, peço-lhe, venha jogar comigo, venha me fazer rir por ter ganhado o baralho todo. A realidade do ganhar que significava ter perdido e muito. Sem o mesmo naipe da carta na mesa, devia-se comprar cartas. As em pé, inclinadas em "v" invertido, as piores. Mão firme não adiantava e a vontade de rir era imperiosa, fazendo a pilha desmoronar. Cartas, tantas cartas, esparramadas na mesa, esperando o burro pegá-las.

Vem, vó. Convida-me para assistir à televisão e eu que tanto odeio, irei. Assistirei aos teus programas favoritos e também Miss Brasil e Miss Universo. Permanecerei fiel a teu lado, até a cabeça tombar para o lado e eu babar, até percebemos num susto que acabou. Lembra-se de quando você não queria dormir e só havia quatro ou cinco canais de televisão? A tela no aparelho avisava fim das transmissões.

Vem, vó. Vem me apertar. Esprema-me feito aqueles saquinhos de confeitar bolo. Esprema-me para que de mim saia creme ornamentado. Quero ornamentar os bolos dos meus eleitos, e, quem sabe, o meu próprio. Já não sou mais aquela menina que não sabia tocar outro corpo. Nas aulas de jiu jitsu, estou aprendendo a tocar e a ser tocada. A usar e a ser usada. A apertar com força, sentir o corpo estranho, sabendo que só se aprende, só se aprende. E, aquele que poderia ganhar, na realidade, ali, se põe a perder, igual no jogo, quanto mais cartas, pior. Ele se deixa usar, sem pensar que está perdendo. Ele, desta forma, ganha muito mais, aprende, aprimora enquanto se faz menos, passivo. E eu me permito e permito ao outro, que me toca, me prende feito uma naja, uma jiboia, e eu aprendo a ser menos, mas ser precisa, constante e calma.

Eu me deito à noite em minha cama. Olho para o teto, vejo imagens que lá se refletem, saídas do fundo ocular. Não gosto delas, visões que molham meus olhos. Viro a cabeça para a direita, tento alcançar novos horizontes, não me satisfaço, passo rápido para o lado esquerdo, olho e desisto. Fecho então as órbitas e fixo por dentro. Tento alcançar a barca parada à beira-mar.

Deriva à beira-mar, nossas cartas de baralho, nossos sonhos findos. Disseram-me, "Estamos todos mortos", e eu não acreditei, pensei apenas em burro deitado, burro em pé, um jogo, um tempo compartilhado.

Disseram-me também, "Meu medo é me tornar clichê, o cara que comprou um sofá e volta do trabalho para deitar nele, vê o mesmo canal da televisão, dá comida para o mesmo peixe, que por mais que morra é trocado por outro e sempre vai parecer o mesmo peixe... meu medo é passar a vida deitado no mesmo sofá, aquele do primeiro salário". Mas, vó, sabe o que ando vendo? Que as pessoas têm mais medo que eu. Eu, que tanto escrevi sobre medo. Eu, que tanto sei disso, conheço os sintomas, conheço o mal, todos os arrependimentos. Descobri, vó, que a fé é o momento preciso entre o fato e o aceite. É o segundo que antecede o primeiro beijo na boca, é a mala feita para não mais regressar, é quando você deixa teu país e embarca para o desconhecido, é o instante dentro do avião, quando ele decola e você já não pode mais recuar; é o instante em que a caixa em papel colorido lhe chega às mãos e você decide se a abre ou não, puxa o laço ou não, sacode para ver o que é ou não, rasga as folhas afoitamente ou não, ou nem rasga, deixa o presente de lado e finge que jamais o ganhou. A fé desconhece o medo. O medo não sabe o que é fé. E, então, por medo, você haverá de comprar um peixe após outro, até o fim da sua vida. Sequer passará por um cachorrinho ou um gato de unhas afiadas, pois dá trabalho vivenciar o novo e você já está bastante acostumado com o cheiro de sofá velho.

Disseram-me também, "Não é boa a sensação de ser descartado". Mas eu vi nesta vida gente colecionar canetas Bic sem tinta, findas, só por dó de descartá-las num voo leve e direto ao lixo. Eu vi essa mesma gente se agasalhando em jaquetas de caneta Bic, de tanto que as acumulou, mas que descartou o melhor amigo, a melhor confidente, da mesma maneira com que eu descartava as minhas canetas: num arremesso silencioso, certeiro, direto à lixeira, sem dor ou ais.

Vó, escrevi essa carta porque você está mais viva que eu. Será que estou morta, morri no jogo? Guardo comigo todas as cartas. E se você viesse e na calada da noite roubasse as minhas cartas, meu baralho completo?

Não. Decididamente não. Não estou morta. Já morri várias vezes e renasci outras tantas e estou aqui, permaneço. Sei que estou viva porque já segurei a felicidade entre as mãos, já senti meu coração desbaratinado dentro do peito. Igual a todos, eu também não sabia o que fazer com ela, eu nunca soube. Mas mesmo assim eu a agarrei. O medo matou a fé, o medo desviou alguns caminhos, mas eu acabei por dominá-lo, numa luta onde eu ainda não sabia que o segredo era prender e apertar devagar, sem pressa. Mas, agora sei. E ficou para mim a certeza, qualquer coisa que eu venha a pegar, que eu a segure com tudo, mãos, pernas, braços e equilíbrio, aquele mesmo que me faltava ao tirar a carta do baralho em pé.

Sei que pode dar tudo errado, posso pegar a condução contrária, pensar que vi, mas não vi, posso desenhar no mapa um percurso jamais possível de se concretizar, mas aprendi, vó, que preciso também aprender a abarcar as cartas, rir bastante e acreditar que o jogo não continua, mas a vida permanece.

                                           Suzana C. Guimarães

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

NOTÍCIA DE MIM



fotografia, por SCG


...desde outono de outubro
resgato-me
de tudo que em mim eu mesma rasguei
embora
cinza o mar
cinza o céu
cinza que piso
embora primavera aí
outono aqui
resgato-me
sirvo-me bolachas pardas
café claro
muita é a fome
deixo-lhe aí
uma nesga de pensamento meu
numa xícara do mais puro chá
claro feitos os dias aqui
mas em pétalas.

(suzana guimarães)

sábado, 13 de novembro de 2010

Jovanotti - A TE

http://www.youtube.com/watch?v=ZWGB2A7S6pg

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

INFORMAÇÕES TÉCNICAS OU PSIQUIÁTRICAS



Você, certa vez, pediu literatura a respeito de transtornos de ansiedade, pânico e fobias. Decidi enviar um resumo do que li ao longo de dez anos. No final, passo as fontes, caso queira se aprofundar mais na matéria.

O diagnóstico, classificação e tratamento dos quadros ansiosos passaram por uma enorme transformação após a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico, 3º versão (DSMIII) da Associação Psiquiátrica Americana em 1980.

Os conceitos e os tratamentos dos distúrbios de ansiedade, que compreendem cinco perturbações mentais distintas - síndrome do pânico, fobias (incluindo agorafobia, fobias simples e fobia social), distúrbio obsessivo-compulsivo, stress pós traumático e distúrbio de ansiedade generalizada - passaram a ser vistos não mais como fenômenos oriundos de conflitos e experiências inconscientes, mas também como alterações que poderiam ser garimpadas ou medicadas com tranquilizantes e antidepressivos. São transtornos distintos, mas, há uma sobreposição significativa entre eles, e, embora possam ocorrer separadamente, com frequência ocorrem dois ou mais juntos.

O período entre o final da década de 1970 e início da década de 1980 assistiu à explosão do conhecimento sobre o funcionamento do cérebro. Não passava uma semana sem que um neurobiólogo ou psiconeurologista anunciasse a descoberta de um novo mensageiro do cérebro: os chamados neurotransmissores - substâncias químicas que as células do cérebro usam para se comunicar e que governam todo o nosso ser consciente e inconsciente. Descobriu-se, então, que os distúrbios de ansiedade tinham origem biológica.

Uma das primeiras descobertas no início da década de 1980, nos EUA, foi a de que os distúrbios de ansiedade constituíam o problema de saúde mais comum no país.

A verdadeira extensão desses distúrbios só se tornou conhecida com a primeira pesquisa do Instituto Nacional de Saúde Mental sobre doença mental realizada nos EUA, no início da década de 1980. Conhecida como Epidemiological Catchment Area (ECA) - área de captação epidemiológica -, essa pesquisa coletou informações de aproximadamente 20 mil pessoas em cinco cidades: Baltimore (Maryland), New Haven (Connecticut), St. Louis (Missouri), Durham (Carolina do Norte) e Los Angeles (Califórnia). Evidenciou-se que 23% da população estudada apresentava um transtorno ansioso. As entrevistas eram longas e detalhadas, gerando dados que se tornaram importante fonte de informação sobre incidência, prevalência, história familiar, idade das vítimas, tratamento, custos e outras estatísticas relacionadas com a doença mental.

Mais tarde, um estudo conhecido como Pesquisa Nacional de Comorbidade (PNC) descobriu que a prevalência era ainda maior que a estimada pela ECA: um, entre quatro dos pesquisados, registrava uma história de pelo menos um distúrbio de ansiedade. Os resultados desse estudo também sugeriram que os distúrbios de ansiedade são mais crônicos do que a depressão ou o abuso de drogas.

A Síndrome do Pânico, um dos mais aterrorizantes e ao mesmo tempo mais tratáveis distúrbios de ansiedade, foi somente considerada, e tratada como condição real e séria, apenas em outubro de 1991.

Entretanto, apesar da proliferação de artigos em jornais e revistas, programas de televisão, rádio e livros que vem ocorrendo desde o final da década de 1980, a ignorância por parte do doente, o despreparo de muitos médicos e o estigma que recai sobre todas as doenças mentais inviabilizam tratamentos e curas.

Foi estimado que, antes de um paciente ter seu distúrbio de ansiedade diagnosticado, ele terá consultado uma média de dez médicos. Muitos passam por formas tradicionais de psicanálise ou psicoterapia.

A Fobia Social é um transtorno crônico, sem períodos de remissão. É o medo patológico de comer, beber, tremer, enrubescer, falar, escrever, enfim, de agir de forma ridícula na presença de outras pessoas. Inicia-se na adolescência, afetando igualmente homens e mulheres, atingindo em torno de 3% da população. A Fobia Social pode ser circunscrita, isto é, restrita a apenas um tipo de situação. A pessoa teme, por exemplo, escrever na frente de outros, mas no restante das situações sociais não apresenta qualquer tipo de inibição exagerada.

Uma fobia é caracterizada por: 1) medo excessivo, imensurável de um objeto ou situação; 2) comportamento de esquiva em relação ao objeto temido; 3) grande ansiedade antecipatória quando próximo do objeto em questão; 4) ausência de sintomas ansiosos quando longe da situação fóbica.

Sem tratamento, a Fobia Social, que afeta significativamente 2 a 3% da população, pode levar a limitações vocacionais, debilitação social e dependência financeira, bem como agorafobia, alcoolismo e depressão. Suas vítimas podem também ser assediadas por ideias de suicídio, ou mesmo tentar efetivamente se matar.

Um terço dos que têm Fobia Social sofrem também de Depressão. A maioria das pessoas reconhece as mudanças de humor da Depressão: tristeza e irritabilidade, sentimentos de desesperança e inutilidade, perda de interesse em atividades anteriormente satisfatórias. Além disso, a Depressão provoca, na maioria das vezes, sintomas fisiológicos perturbadores, como fadiga e perda de energia, dores não identificadas e mudanças de peso (ganho ou perda), apetite (maior ou menor) e sono (excesso ou falta). Sintomas cognitivos também podem ocorrer como dificuldade de se concentrar, de lembrar coisas ou tomar decisões.

Histórias familiares de distúrbios de ansiedade, frequentemente, atravessam várias gerações. Certos fatores ambientais talvez interajam com susceptibilidades herdadas, pois, um membro da família pode ter fobia por elevadores e outro de falar em público.

Vasculhar o passado atrás de eventos potencialmente favoráveis a serem os precursores de problemas de ansiedade atuais não ajuda na eliminação dos sintomas. Voltar ao passado e falar sobre a família e a infância é apenas tentar compreender e aceitar, mas não é a solução.

O "insight" sozinho, isto é, sem acompanhamento médico, não é eficaz no tratamento dos distúrbios de ansiedade. Conhecer a origem da fobia, tal como saber que é irracional, não faz com que ela desapareça. Quando a maioria das pessoas procura ajuda, a reação fóbica já está profundamente entranhada.

“Se fizesse sentido, não seria uma fobia.”(Jerilyn Ross)

As pessoas com Fobia Social descobrem, com frequência, que as bebidas alcoólicas atenuam a ansiedade. Estudos mostram que cerca de 10 a 20% dos fóbicos têm também problemas com bebida. E, um terço dos alcoólatas tem uma história de síndrome do pânico ou alguma forma de Fobia Social antes de começar a beber.

A Fobia Simples ou Fobia Específica é uma categoria residual dos quadros fóbicos. Caracteriza-se pela presença persistente de temor circunscrito a um determinado objeto ou situação. É comum na população em geral, embora não necessariamente entre os que procuram tratamento. Envolve animais, escuro, espaços fechados, alturas, tempestades, etc.

O diagnóstico de Fobia Simples somente deve ser feito quando o comportamento de evitação fóbica interfere de maneira importante no funcionamento ocupacional e na capacidade de relacionamento interpessoal e social ou se acarreta grande sofrimento ao indivíduo.

Agorafobia, em Grego, significa literalmente “medo da praça” (praça: espaço amplo e aberto). Cerca de um terço das pessoas que sofrem de Síndrome de Pânico desenvolvem Agorafobia, que é o medo e o hábito de evitar lugares e situações públicas, das quais é difícil evadir-se ou, nas quais a ajuda não é disponível, no caso de ocorrer um ataque de pânico. O paciente restringe as suas atividades e deslocamentos desacompanhado, ou o faz sempre acompanhado por outra pesoa, ou procura enfrentar as situações apesar da intensa ansiedade.

Pânico: palavra originada do grego “panikon”, que nessa Língua significa o medo provocado pelo Deus Pã. Susto ou pavor repentino, às vezes sem fundamento, que provoca uma reação desordenada, individual ou coletiva, de propagação rápida.Segundo os estudiosos de mitologia, o Deus Pã, metade homem e metade bode, era considerado muito feio e era muito temido pelos gregos. Confinado nas montanhas da Arcádia, seu divertimento era aparecer repentinamente e assustar as pessoas. Outra versão é que era seu hábito perseguir as ninfas e violentá-las. Em Atenas, teria sido erigido na Acrópole um templo ao Deus Pã, ao lado a Ágora, que era a praça do mercado. Parece que algumas pessoas tinham medo de frequentar esse lugar público e que esse medo era associado ao Deus Pã.

A Fobia Social apresenta início insidioso, e o Transtorno do Pânico agudo.

Diferentemente do Ataque de Pânico que dura apenas alguns minutos, o fóbico social sofre antecipadamente e durante a exposição. Essa é a diferença básica entre o Transtorno do Pânico e a Fobia Social. Embora inesperado, o Ataque de Pânico, como o seu próprio nome indica, é um ataque; isto é, tem início agudo, alcança intensidade máxima em pouco tempo (menos de 10 minutos, geralmente), dura cinco a vinte minutos, e depois desaparece. Na Fobia Social há uma ansiedade antecipatória antes de se enfrentar situações sociais ou mesmo apenas as imaginando. Quando o paciente está na situação, os sintomas aumentam acentuadamente (palpitações, sudorese, tremores, distúrbios gastrointestinais, urgência urinária, dispnéia, gagueira, etc.) e dura todo o período da situação social, podendo chegar a horas.

O Ataque de Pânico manifesta-se através de sintomas psíquicos de grande intensidade: sensação de medo de perder o controle, de perder a razão, de perder a consciência, de desastre iminente ou mesmo de morte. Esses sintomas psíquicos vêm acompanhados por uma grande variedade de sintomas físicos: taquicardia, palpitações, opressão precordial,dispnéia, ondas de frio ou de calor, sudorese, tremores, tonteiras e visão turva.

O início da doença ocorre com maior frequência no adulto jovem entre 20 e 35 anos. Entretanto, o primeiro ataque pode ocorrer em diversas faixas etárias.

No que tange a grupos sócio-econômicos, há uma distribuição uniforme nas diversas classes sociais.

Tendo em vista que os sintomas também se assemelham aos que acompanham várias anormalidades cardíacas, problemas de tireóide ou problemas respiratórios, os pacientes com pânico temem muitas vezes que estejam morrendo, em vias de desmaiar, tendo um ataque cardíaco, ou perdendo o controle mental.

Distúrbio de Ansiedade Generalizada (DAG): a característica principal deste distúrbio é a presença de ansiedade e preocupação excessiva e não realística em relação a duas ou mais circunstâncias da vida rotineira (casamento, trabalho, filhos, finanças). Nesse tipo de transtorno, os sintomas flutuam no tempo, são quase persistentes, e não se relacionam com períodos específicos. Os pacientes têm mais sintomas ansiosos que os fóbicos sociais, como por exemplo, insônia. Quem sofre de DAG se preocupa sem nenhum motivo: com dinheiro, embora tenha uma situação financeira satisfatória; com um filho que está na escola, em perfeita segurança; com quase tudo. Eles se consomem com essas preocupações quase o tempo todo. Sentem-se sempre trêmulos e, como costumam dizer, “no limite”. Com frequência, sofrem de depressão, pelo menos moderada. Podem também sentir calafrios, ter dores musculares, ficar inquietos, estar sempre cansados, perder o fôlego e sofrer com palpitações, suor, mal-estar abdominal, tontura, dificuldade de concentração e irritabilidade. De acordo com o DSM, a presença de pelo menos seis desses sintomas com nenhuma outra causa aparente autoriza o diagnóstico de DAG.

O Stress Pós-Traumático (SPT) foi identificado pela primeira vez como um distúrbio psiquiátrico distinto no final da década de 1970, quando veteranos do Vietnã começaram a registrar "flashbacks" apavorantes de experiências de combate. Esse distúrbio, após a Guerra de Secessão, recebeu o nome de “coração de soldado”. Depois das duas grandes Guerras Mundiais e da Guerra da Coréia, soldados apresentaram os mesmos sintomas, então denominados de “neurose de guerra” ou “estafa de batalha”.

O DSPT afeta entre 2 e 9% da população norte-americana, não se restringindo apenas aos veteranos de guerra. Ele pode acontecer após qualquer acontecimento extraordinariamente doloroso, tal como estupro, incêndio, enchente, abuso sexual, cativeiro, acidente de avião ou de automóvel.

O DSPT tem como traço fundamental o desenvolvimento de sintomas característicos que se seguem a algum acontecimento psicologicamente perturbador, que possa ser considerado além do limite habitual de experiências humanas. Os sintomas habituais envolvem a reexperiência do acontecimento traumático, o evitamento de situações associadas ao estímulo, o entorpecimento da capacidade de reagir e o aumento de excitabilidade.

Distúrbio Obsessivo-Compulsivo (DOC): Obsessão é o pensamento, imagem ou impulso perturbador, persistente e repetitivo. Compulsão é a necessidade de realizar um ritual ou uma rotina para ajudar a aliviar a ansiedade causada pela obsessão.

Embora recentemente tenha havido um progresso considerável no entendimento, diagnóstico e tratamento de DOC, ainda não se sabe, com certeza, sua causa. No passado, acreditava-se que o DOC resultava de atitudes familiares ou experiências da infância, entre elas a disciplina rígida dos pais. Atualmente, os indícios apontam para fatores biológicos como sendo os principais causadores do desenvolvimento de DOC.

A pessoa que sofre de DOC sente uma necessidade imperiosa de realizar certos rituais, como se uma tragédia pudesse abater sobre ela ou uma pessoa querida se o rito não for executado. A ânsia é tão intensa que a única forma de aliviá-la é realizando-o, quer seja contando, lavando, conferindo, guardando ou repetindo ditados ou orações para si mesma. Entretanto, o alívio é temporário e, com isso, cresce, aumenta a necessidade de repetir o ritual sem parar.

“Superar o conceito vago de loucura e o preconceito nele contido é fundamental para permitir que as pessoas possam procurar ajuda mais rapidamente e de maneira correta, sem o temor de serem definidas como “estranhos” ou “esquisitos”. (Prof. Dr. Táki Athanássios Cordás)

Um grande obstáculo ao tratamento é a pobreza de linguagem. O Dr. Frederick K. Goodwin, então diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, disse: “Todo mundo entra em pânico. Eu estava a uns trinta quilômetros daqui e tinha vinte minutos para chegar e então entrei em pânico. Isso é uma trivialização e é culpa de nossa Língua, que usamos palavras comuns como pânico, depressão e ansiedade para falar de sentimentos humanos normais e, ao mesmo tempo, esperamos que as mesmas palavras indiquem um distúrbio mental sério. Temos de corrigir isso. Temos que educar o público que pânico com P maiúsculo é uma questão diferente do pânico a que todos se referem como fazendo parte de suas vidas normais.”

O Dr. Thomas Uhde, da Universidade Estadual de Wayne, EUA, que dirigiu o programa de pesquisas sobre distúrbios de ansiedade no Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA por muitos anos, acredita que outro obstáculo ao tratamento é a tendência de muitos terapeutas de se agarrar a uma única terapia ou a um único medicamento. Ele destaca que os diferentes distúrbios de ansiedade são governados por diferentes neurotransmissores e diferentes medicamentos e terapias agem em sistemas específicos. Um grande número de neurotransmissores já foi identificado, e, embora eles se sobreponham com frequência, cada um desses mensageiros regula funções mentais e físicas específicas. Pacientes com sintomas semelhantes podem estar sofrendo de um distúrbio em territórios de neurotransmissores diferentes.

Os distúrbios de ansiedade são crônicos e podem reaparecer, especialmente após algum acontecimento traumático. Porém, é preciso estar atento para o fato de que é possível controlar uma recaída, é possível controlar os sintomas, matando o mal no seu nascedouro.

Pessoas que sofrem de distúrbio de ansiedade passam uma boa parte do seu tempo inventando desculpas e/ou manipulando pessoas e situações para não ter de falar sobre seus terríveis pavores. É frequentemente difícil ou impossível aos familiares perceberem qualquer motivo racional para o comportamento de evitação. E, uma vez que os distúrbios de ansiedade consomem muita energia, suas vítimas também podem negligenciar suas relações pessoais.

O cérebro tem aproximadamente 100 bilhões de neurônios, e cada um desses 100 bilhões tem uma média de 10 mil ligações com outros neurônios. Para todos os propósitos práticos, o cérebro é infinito. É o sistema mais complexo dentro do universo conhecido.

A biologia cerebral é complexa, reativa e sempre subjetiva quanto ao crescimento e à mudança. Quando se trata de alterar as funções cerebrais, não existe um caminho simples para a cura, na maioria dos casos. Opções de tratamento são muitas, mas não há dois pacientes iguais e enquanto um deles pode responder bem a um determinado e único tratamento, por exemplo, fazendo uso de medicamentos, sem uma abordagem terapêutica, outro pode necessitar também de terapia cognitivo-comportamental.

Cada cérebro é distinto e único, inclusive os cérebros de gêmeos idênticos. Nenhum médico ou psicoterapeuta pode prever o efeito de uma pílula ou uma terapia verbal sobre a biologia individual. O clínico pode basear-se em médias estatísticas e tentar o tratamento para ver o que acontece. Essa observação não é pessimista. Na verdade, a maioria dos pacientes que opta pelas drogas experimenta melhora real e significativa. Metade dos pacientes que consultam um psiquiatra recebe a ajuda de que necessita.


                    FONTES CONSULTADAS



PAPROCKI, J.; ROCHA, F.L.

Doença do pânico ou distúrbio do pânico – uma aula destinada ao médico não psiquiatra.

Bol. CBPTD – Supl. Arq. Bras. Med., 64(3): 155-161,1990



VERSIANI, M., A. E.; DINIZ, F. M.

Fobia Social

Separata de Jornal Brasileiro de Psiquiatria – set/out., 1989, vol.38, n.5



NARDI, A.E.; FIGUEIRA, I.; VERSIANI,M.

Fobia Social: Aspectos diagnósticos e terapêuticos

Temas, São Paulo, 1996, 51:113-125



RATEY, J.J.; JOHNSON,C.

Síndromes silenciosas – Título original: Shadow Syndromes.

Tradução de Heliete Vaitsman

Editora Objetiva, 1997



ROSS, J.

Vencendo o medo. Título original: Triumph over fear: a book of help and hope for people with anxiety, panic attacks, and phobias. Tradução de Pedro Maia Soares

Editora Ágora, 1995

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

SOBRE SER INSUBSTITUÍVEL OU NÃO

arquivo pessoal
                                 



                                         Dedico este "post" aos meus leitores, principalmente a você que me lê (não apenas os textos), comenta, interpreta, agradece, insinua, pergunta as razões, se faz presente, se faz eterno em minha vida.


Tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto de você(s). Sim, eu sei o tamanho dos laços que vamos criando neste mundo estranho, onde não nos vemos, não nos pegamos, não sentimos cheiros e nem ventos. Sim, tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto. Mas gosto, por isso a agonia.

Agonia, curiosidade, mania, hábito. Vocês pensam que não sei de vocês e eu penso que de mim nada sabem, mas descobri nestes cinco meses de "vida além dos teclados", que somos todos muito espertos, bisbilhotamos, fuçamos, lemos por entrelinhas, sentimos o peso dos dedos nas teclas. Quando penso que vocês nem chegaram perto dos meus sentimentos, vocês ironizam, divertidos, sabendo, revelando minhas verdades...

Tudo seria mais fácil se eu não gostasse tanto de vocês, mas eu não gosto de verbos no subjuntivo. Eu não sei viver subjuntivamente. O mundo não se fez a partir de um verbo tão precário. Desconheço esse tempo verbal, conheço o presente e estico os olhos para tentar planejar ou imaginar o futuro. Então, eu digo: por gostar tanto de vocês, esta minha saída, mesmo que temporária, dói.

Estou aqui para tentar explicar o meu afastamento, inclusive a razão de marcar uma data longínqua para o meu retorno. Meu coração, principalmente ele, e a minha mente não querem que eu me afaste, mas meu corpo exausto e a alma desgostosa gritam para eu parar. Eu preciso me esconder para poder me achar. Preciso organizar os meus armários, dobrar as saias e guardá-las por ordem de serventia ou cor, ou mesmo desfazer-me delas. Preciso polir meu anéis, abrir livros fechados, enfileirar meus sapatos. Preciso brincar no quintal do meu mundo e me ocultar atrás dos lençóis que balançam desinteressadamente ao vento.

Preciso parar de escrever para vocês pedindo um tempo. Cinco meses de "Blogs", quatro pedidos de "break". Certa vez, contaram-me a história de uma louca. Ela fugia todos os dias. E era encontrada todas as vezes no mesmo lugar: em cima do muro do hospício, andando de um lado para o outro. E, se permitissem, de lá não sairia. Ela andava rindo ou cantando, vestida num camisolão, alheia ao mundo, não caía nunca e ia e voltava fielmente, cumpria a jornada do muro. Eu não nasci para isso. Ou pulo de vez para dentro e fico ou ganho a rua.

Nas vezes anteriores em que parei, eu planejava ficar um bom tempo ausente, mas os insubstituíveis chamaram-me de volta e eu voltei. Ao longo da minha vida, ora ouvia dizer que somos substituíveis, ora ouvia dizer que não. Aprendi com elas, com todas as pessoas que cruzaram o meu caminho, que somos insubstituíveis, mas, se quisermos, conseguimos o contrário. São as pessoas que decidem se serão ou não substituíveis na vida da outra. A minha mãe é insubstituível, porque ela quer ser assim na minha vida, ela faz a parte dela, ela se compromete comigo todo o tempo.

Você(s) é insubstituível para mim porque você assim quis e assim age. Você insiste, você quer, você teima. Você me ganha todos os dias, estando você bem ou não, feliz ou não. Você faz questão de estar na minha vida e quer que eu esteja na tua. Não há quem o substitua, você não cede o teu lugar, você se faz presente, você não vive subjuntivamente, você é o momento agora, esse em que me encontrou.

Por isso, eu sofro. Por isso, eu cantei a música "Agonia", do Oswaldo Montenegro no "post" anterior.

Fechei a caixa de comentários, mas o "e-mail" que está no meu perfil é o oficial. Quem quiser me escrever, que o faça, sem melindres. As palavras jamais deixarão meu mundo. Preciso ausentar-me, mas carinho e delicadeza não dispenso em hipótese alguma.

Pouco sei de muita coisa, mas muito sei sobre o tempo delas. Quem sabe esperar aprende a contar o tempo. As palavras aqui se ausentarão, mas as imagens, não. Fazendo questão de ser insubstituível em tua vida, passarei aqui ou aí, na tua casa, e deixarei um pouco do meu cheiro, aquele que só você consegue sentir.

Beijos,


Suzana C. Guimarães


Nota: mesma publicação, na mesma data, em Contos de Lily.



segunda-feira, 18 de outubro de 2010


ilustração, por R. Meneghini



Nota: mesma publicação, na mesma data, em Contos de Lily.




quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O QUE SEI SOBRE ESCAPAR


fotografia, por ROSE DALY



                     Suzana C.Guimarães


Sim. Fui (e talvez ainda seja) um muro, um galho de árvore, um bebedouro, um fio de alta tensão, um poste, uma grama, a areia da praia, os céus dos pássaros. Sim. Aceitando ou não, querendo ou não, fui.

E vinham eles me sobrevoar, alçar voos longos, rasteiros, me bicar. E vinham eles, em bandos ou solitários, se esfregar em mim, sacudir as penas, rodopiar, depositar seus minúsculos excrementos disfarçadamente, cantar para mim, fazer longos silêncios, sentir suas pernas machucadas, asas quebradas, roçar seus bicos, morrer em paz.

Fui feita para aceitar, acordar e esperar. Eu sempre soube disso. Minhas antenas ligadas, minha constante capacidade de prever atos e passos alheios, sonhar destinos, sentir com antecedência foram presentes a mim ofertados ao nascer; mas paga-se caro por serem tão especiais.

E, mesmo predestinando, eu vivi a pedir desfechos. Desfecha nossa paixão, meu tesão, faz água rolar com razão, desfecha nosso amor, envia-me pombos com cartas longas, longas queixas, verdades quer sejam fragmentadas ou não, dá término, conclui, põe ponto final. Mas os pássaros sempre de nada souberam ou quiseram, preferiram as reticências, ou da poesia, de tudo aquilo que se aspira e não pode, ou aquelas, frutos da ignorância (tão fácil escrever et cetera!). Para mim, isso tudo hoje pouco importa.

Fui feita para aceitar, acordar e esperar, mas aprendi a escapar. Aprendi a fugir das prisões e da minha própria previsão. Aprendi a não mais implorar por ratificações, por meus à partes. Não os quero mais.

Que venham os pássaros e façam de mim pousada (breve estadia) ou mesmo um muro, um banco de praça, onde caem penas e excrementos, onde ouço música ou piu-pius, bater de asas e mais nada.

Que venham, pois eu me atirei ao chão, vestida em quimono, atada de largos esparadrapos nos punhos. Aprendi a desligar as antenas, desfazer-me da necessidade eterna de despedida, do "adeus", de ver o fim em tudo que cresce e acontece, pelo desespero de não querer nunca o abandono ou o desaparecimento sem corpo que prove a morte.

Encontro então o prazer de sentir a mim mesma e sentir bastante, pernas, músculos, tudo tão tenso, tão duro e apertado dentro de mim! Prazer incomensurável ao sentir meu corpo em espasmos, esquecer que poderia prever, mas não há tempo e eu digo "what do I do?" e vrumpt, estou presa e já nem sei mais que Língua falar. E não quero a minha língua e nem a tua. Não quero a nudez, a preliminar, o sexo. Não quero a sedução, o ato é em si o verdadeiro tesão, a garra, a força, a consciência de dois corpos agarrados. Não me importa teu cheiro, sequer tua saliva, teus gostos e desgostos. Quero a força do ato em si, do poder dele, único, sem futuro, sem finalidade aparente, sem finalmente. Cansei-me do pedido eterno de despedida, do gozo, da exaustão e deleite do fim. Quero a luta sem glória, sem medalha, a luta por lutar. Quero sentir dores onde nunca pude imaginar, meu corpo se jogando ao chão, sem medo da queda, quero a minha cabeça rodando, minhas labirintites se anunciando, minhas cãibras, minha sede. Quero a água da garrafa jorrando por fora da boca, molhando a cara, escorrendo pelo pescoço quente. Quero abrir minhas pernas por cima dos teus quadris, apertar teu estômago, espremer meus dedos em teu quimono, rir dos erros com você, tentar novamente e ganhar ou perder. Quero você em cima de mim, quero sentir teu corpo pesado, espremendo-me, suado também, sem intenção de mais nada. Quero aprender, quero que você seja mais sabido que eu, que você saiba qual o meu próximo movimento, quero que você tenha em mãos o dom da antena, o dom da previsão. Quero ver tua faixa colorida na cintura para sentir o prazer do respeito, e a minha tão branca, eu tão pouco, eu tão sem saber. Gosto de sentir minhas juntas se abrindo, sinto prazer da consciência dos pés, das pernas, das costas no chão, do virar por cima, dos panos entre, do não pegar na pele, pegar com o peso do corpo, sem falsas delicadezas, sem falsos pudores, sem tolas mãos. Um corpo pegando outro. Um corpo pesando outro. Dois num só, sem desejo de fim, um estar vivo impróprio, pois, se um dia eu precisar defender-me, não será de você, e, as medalhas, dispenso-as. Nossos atos, nossos passos no tatame diferem-se dos voos dos pássaros, tão vagos, e eu tola procurando neles concretude...

Quero a precisão e a beleza do movimento, onde poucas palavras bastam, ou nenhuma mesmo. Quero me esquecer dessas, que percorrem por todo o dia o meu corpo, frenéticas, desequilibradas, enfermas. Quero o silêncio de dois corpos. Quero me sentir macia sobre ti tão rígido. E saber que a maciez pode virar força. Quero espremer as mãos no teu pescoço, ver meus dedos lá marcados. Ouvir tua risada, escutar meus nervos pulando dentro de mim, as águas - não aquelas da libido - mas as que escorrem desinteressadamente.

Sim. Eu escapo. Saio por debaixo, empurro-o, viro-o e percebo que tolos são os pássaros que de nada sabem sobre força, tesão pela vida, um corpo pressionando outro, a luta. O prazer do sorriso compartilhado, o prazer de saber que conseguimos, que tentamos, tentamos, repetimos, repetimos até a plenitude de sentir uma bela queda, nem que seja por tão pouco tempo num dia tão longo, nem que seja.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS

fotografia, por SCG



                                                                     Suzana C. Guimarães


Eu ainda residia no Brasil. Vivia correndo de um lado para o outro, tentando resolver todas as questões antes de partir para a minha nova vida em outro país. Meu carro nunca foi um exemplo de limpeza, tenho crianças e, naquela época, carregava outras também. Não dá para mantê-lo limpo, mas sempre estou a catar as garrafas vazias, os papéis de balas e as pipocas, pedaços de comida, latas de refrigerante. O melado, o farelo, a areia, o suco derramado, não limpo sempre.

Um dia, sozinha dentro do meu Ford KA, a minha baratinha eficiente, aguardando por uma pessoa que pegaria carona comigo, vi, ou melhor, revi, no chão, por cima do tapete, num canto em frente à cadeira do carona, uma tira de papel azul celeste, cortada em linha reta, limpa, lisa, um retângulo, pouco menor que aqueles papéis que vêm dentro do biscoito da sorte.

Aquele papel azul estava lá há dias e eu nunca me prontificava a agachar e pegá-lo, enfiá-lo dentro da bolsa para depois lançá-lo ao lixo. Naquele dia, eu estava com tempo. Estendi o corpo e o peguei. Havia uma frase escrita, datilografada, na parte do papel que ficou escondida, "faça oferenda a Iemanjá".

A única vez que fiz festa para a Rainha do Mar foi na virada de 2001 para 2002, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Festa inesquecível, a mais linda que vi em toda a minha vida. Entreguei palmas, pulei ondinhas, bebi champanhe, vestida de branco, feito a maioria ali na areia da praia.

Naquele dia, dentro do meu carro, entendi: eu estava deixando a minha cidade, a minha singela terra rodeada de montanhas, e indo morar na beira do Pacífico. Eu deveria então, ao chegar no meu destino, ofertar flores à Nossa Senhora, Iemanjá, a Rainha do Mar. O papel, eu não joguei fora, deve estar dentro de algum livro ou numa daquelas caixas de papelão que deixei para trás. Não joguei fora também o respeito que sempre tive por mensagens da vida para mim, guardei na memória a promessa de cumprir o pedido. Sem questionar, sem duvidar, sem pedir respostas. Aprendi no curso de Direito que fatos são fatos e contra eles não há argumentos. Pouco me importava, no momento da promessa, a minha religião, minha crença, minhas práticas e o meu desconhecimento sobre várias questões, inclusive sobre o culto à Rainha dos Mares.

O tempo passou, engoli os dois ou três últimos meses em Belo Horizonte, como se engole cachaça brava, fecha os olhos, toma atitude e jorra tudo goela abaixo de uma vezada só. Vim, vi o Pacífico no terceiro dia, já morando em meu novo lar (fiquei três dias sem sair de casa, desfazendo malas e refazendo-me do adeus), mergulhei meu corpo quente em suas águas geladas e não cumpri a promessa, mas também dela não me esqueci. Feito fome, sede, escovar dentes, tomar banho, eu me lembrava todos os dias. Mas nada fazia porque eu não sabia como lançar as flores.

No verão passado, fui visitar uma amiga num acampamento. Comprei um buquê de flor, fiquei com ele no carro, amolecendo todo, procurando um local, no caminho até à cidade onde ela estava, um pedaço de mar, despovoado, livre, sossegado, sem pedras, sem agitação, para ofertar meu agrado. Quando as flores já estavam quase desfalecidas, segui direto para o acampamento, parei de girar em círculos, e as entreguei para a minha amiga. Enfeitou a mesa de refeições estendida na varanda da moradia provisória.

Rodei a minha cidade e descobri que verão aqui dura apenas três meses e isso faz com que haja pessoas em todos os cantos, praias, "piers", inclusive à noite. Decidi que não passaria de um determinado domingo, comprei flores, procurei a praia mais deserta (não poderia chegar na madrugada, após determinado horário é proibido ficar nas praias ou entrar no mar) e fui, decidida a cumprir minha promessa, visse quem quisesse ver, se importasse quem quisesse se importar. Encontrei apenas algumas pessoas, sentadas naquelas cadeiras de metal, sentadas de frente para um mar escuro. Com certeza, nem ali presentes estavam, viajavam. Joguei as flores e metade voltou. Considerei mal dado o presente, mas me dei por vencida.

Um dia, caminhando pela cidade, a pé, encontrei a Santa, a poucas quadras da minha casa. Lá estava ela, majestosa, branca, na calçada de uma avenida movimentada, dentro de uma enorme concha, rodeada de vasos de plantas, flores em jarros, frutas, moedas e incensos. De frente para o mar, num gramado bem tratado, verde, um oásis no deserto. Parei em frente a ela, abri a boca e custei a fechá-la. Lá estava Iemanjá, recebendo oferendas, dando alívio a qualquer passante. Um lugar de orações, sem grades, sem portões, no tempo, aberto, respeitado, principalmente respeitado. Nem uma flor pisada, um jarro derramado ou quebrado. Um lugar que o espera. Dois tambores enormes com constante água limpa, duas dezenas de jarros de vidro, e enormes colheres para enchê-los, escondidos atrás da grande concha.

Eu queria rezar de costas para ela, de frente para o mar, mas não sou uma pessoa que gosta de causar estranheza (já me basta a oculta que carrego), eu queria assim fazer porque, para mim, tudo ali é apenas um símbolo, um belo significado, mas ela mora no mar, no ar, ela voa, ela mergulha, nada. Ela não se encontra ali tão parada e quieta, ela inclusive sai por aí deixando bilhetes nos carros das pessoas.

Passei então a levar um buquê de rosas, um punhado de flores ou um vaso, orquídeas, palmas, margaridas ou crisântemos, um por semana.

Até que parei, há quatro meses. Quando me lembro de que passaram semanas, conto-as nos dedos, compro os presentes que não foram comprados na data certa e levo-os todos de uma vez só.

Hoje, eu deveria ter comprado seis agrados. Comprei dois, comprei "lilys". Eles estavam na entrada do supermercado, enrolados em papel transparente, com o nome - tão meu conhecido agora - estampado em preto: "lily". Decidi entregar os seis, não de uma só vez, mas um por dia, mas comprei dois buquês porque não queria ver a Lily sozinha.

O curso de Direito também me ensinou: fatos são analisados da forma como se apresentam. Pois vou agora apresentar um fato.

Caminhei quinze minutos para ir e quinze para voltar. Na ida, parei no semáforo próximo à Santa e esperei o momento de atravessar a pista de pedestres. Do outro lado, havia uma senhora oriental, uma moça, igual a ela, empurrando um carrinho de bebê e um rapaz. Os três estavam juntos, também esperavam o sinal verde. Só havia nós. Passamos lado a lado ao chegarmos no meio da pista de rolamento, estávamos então num mesmo passo. Fui carregando os "lilys" para Iemanjá, eles seguiram em direção à praia, ao mar. Fiz tudo no meu ritmo normal, não tinha pressa. Enquanto os olhos ardiam por detrás das lentes escuras, peguei um jarro grande, enchi de água, depositei-o aos pés de Nossa Senhora, afastei-me um pouco e falei dois textos mal redigidos para ela. Expliquei a razão de eu ter me esquecido das oferendas semanais. Enxuguei as lágrimas, poucas, caminhei de volta para a faixa de pedestres. Do outro lado, havia uma senhora oriental, uma moça, igual a ela, empurrando um carrinho de bebê e um rapaz. Os três estavam juntos, também esperavam o sinal verde. Só havia nós. Passamos lado a lado ao chegarmos no meio da pista de rolamento, estávamos então num mesmo passo.

Num mesmo passo, no mesmo caminho, só nós, os mesmos, em sentidos contrários, mas repassando. A mais velha sorriu para mim, não resisti, devolvi o sorriso.


fotografia, por SCG

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O DESTINO DAS COISAS

(fotografia, por SCG)
 (Um texto de Robson Ezequiel)



"Imagine o seguinte; Alguns milhares de anos após o big bang as primeiras estrelas que surgiram ( chamadas de estrelas de primeira geração) eram formadas quase que na sua totalidade de hidrogênio ( não havia outra coisa no universo além de hidrogênio e hélio, ou seja a tabela periódica era bem mais fácil de se decorar) essas estrelas super gigantes brilharam no universo como faróis na escuridão iluminando o universo recém-nascido...


Um dia essas estrelas explodiram em supernovas fazendo germinar nas suas redondezas novas estrelas que por sua vez também chegariam ao fim da vida...e assim através desse processo novos elementos foram se formando no núcleo dessas estrelas...


Um dia em algum canto desse universo essa nuvem de restos de antigas estrelas mortas se condensaram novamente para formar uma nova estrela e dessa nuvem surgiram proto planetas que ainda giram no mesmo sentido dessa nuvem primordial...


Quis o destino que nesse sistema planetário as coisas se equilibrassem e a natureza de forma bastante caprichosa colocou os gigantes gasosos com maior influência gravitacional mais afastados da estrela mãe para assim servir de escudo de proteção para os planetinhas que se formavam no interior e mais próximo a sua estrela, dessa forma os planetas interiores estariam a salvo de grandes colisões com cometas e meteoros....


Um dia, um enorme corpo se chocou justamente com o terceiro planeta desse sistema e do sistema caótico desse choque surgiu após alguns milhões de anos seu enorme satélite...


Após intensa explosões cósmicas que irradiaram sob esse sistema quantidades enormes de radiações gama que junto de moléculas primitivas que estavam em cometas e asteroides que “mais uma vez” por capricho colidiram com o terceiro planeta que há essa altura já tinha bastante água, e com sua condição climática que bombardeava esses oceanos com chuvas de elementos como metano... surgiu a vida !


Se não bastasse tudo isso a forma de vida inteligente que surgiu nesse planeta desde o inicio da sua história fez guerras e teve também doenças que com tempo foram melhorando mas nem tanto...


Sexta 17 de setembro


Hoje você tá aqui lendo esse blog e carregando em seu sangue o ferro (taí o motivo dele ser vermelho) gerado lá naquela nuvem que formou nosso sol...e eu te pergunto: foi fácil chegar até aqui?


Você não imagina o numero de coisas que poderia dar errado e pra ser sincero muitas deram, mas o que importa é que você tá aqui.


O que importa é que alguma coisa deu certo e ainda podemos nos encontrar e fingir que não estamos sozinhos nessa imensidão, no meio de tanta gente e de tanta coisa, só assim fica fácil entender o amor...buscar no outro esse calor para justificar nossa existência nessa viagem que fazemos pelo cosmos.


Por isso mesmo que eu digo a você para amar bastante, ame com força, se alguma mulher mexe com você pare o trânsito por ela sem pensar no depois...beije-a como se só fosse dessa vez! Você pode não ter outra chance. Pense que no meio de todo esse caos que contei vocês se acharam e isso não pode ser por acaso... se existir algum plano nisso tudo...esse plano inclui vocês dois juntos pra sempre ou por duas horas, tanto faz , nessa escala das coisas vocês também são como estrelas cadentes destinados a cair no esquecimento...então meu amigo viva e ame!


Visto por esse lado você no meio de tanta gente de tanta coisa de tantas épocas está aqui agora, junto de mim, do seu vizinho, do jornaleiro, estamos nesse momento morando mesmo que de passagem nessa casa que é nosso planeta. Portanto não acredite que exista acaso, se você ama alguém ela está aqui por você! Como disse, não interessa se só por hoje ou para o resto da sua vida.


Não estou justificando a existência do amor, isso muita gente já tentou e errou. Estou dizendo que aqui, agora é o seu momento, se quer alguém busque, se está com alguém dê o seu melhor, as coisas acabam e na escala do universo não interessa o que você faz ou deixou de fazer, ele seguirá seu curso de expansão indiferente a tudo e portanto não devemos nos preocupar com detalhes idiotas como se você vai ou não parecer ridículo se fizer aquela declaração ou levar flores para ela no trabalho...as coisas estão aí para isso.


Nesse redemoinho de existências ninguém sabe nada! Por isso aquela mulher linda que você viu no metrô hoje pode ter sido a pessoa da sua vida, e você deixou ela escapar? Tudo bem! Como disse nesse redemoinho não temos para onde fugir, amanhã você esbarra com ela de novo pode apostar!


O que quero dizer é que duas pessoas se encontrarem nisso tudo é a coisa mais especial que pode te acontecer, e a ela também! É o milagre da natureza que nos criou do caos da destruição de estrelas, que precisaram morrer para um dia em algum momento você meu amigo, encontrar aquela mulher linda no metrô! Viu? Como uma simples coisa como essa não pode ser tão trivial? Não deixe que a rotina das coisas tire de você a visão da real importância das coisas simples, achar alguém, no metrô, na rua, na fila do banco...é a coisa mais sublime e bonita que pode te acontecer! Agora, quando você esbarrar com alguém que lhe chame a atenção simplesmente diga isso a ela e seja feliz."


                                 Um texto de Robson Ezequiel


                                         http://horizontedoseventos.blogspot.com/




O sinal de que a gasolina do meu carro estava acabando começou a apitar. Senti um frio na barriga. Ia ter que parar meu carro num posto de gasolina e colocá-la eu mesma. Aqui, onde vivo, não existe  "frentistas". O posto tinha oito bombas. Escolhi a oitava por causa do número, tenho cisma boa com ele. Não fui feliz em minha empreitada, a bomba número oito estava com dois defeitos, mas eu sequer imaginava. Fiquei enlouquecida. Eu já havia pago a conta e não estava sabendo lidar com aquela máquina. Não sou uma pessoa paciente, não gosto de lidar com aquilo que não entendo, não gosto desse tipo de situação e meu Inglês é péssimo.

Desesperada, vi um carro parado na bomba número sete, atrás de mim. Vi um homem olhando-me . Gritei: "Can you help me?", querendo morrer ali mesmo.

Ele, calmamente, respondeu: " É claro que eu posso ajudá-la".

O som da Língua mãe entrou em mim como se viesse de muito longe, deslizando, infiltrando-se em minhas entranhas, parecia um som conhecido e me senti calma, meus pensamentos voaram para além do meu entendimento. Gastei segundos que pareceram horas e voltei no tempo, enquanto ele se aproximava. Ele havia visto uma pequena bandeira do Brasil no traseira do carro e ouviu palavras soltas que pareciam ser em Português, enquanto eu falava ao telefone celular. 

Bom, ali foi o começo de uma grande amizade. A bomba de gasolina tinha dois defeitos e o meu "anjo da guarda" gastou tempo ajudando-me.

Hoje, pergunto-me: eu tinha que parar o carro justo na bomba com defeitos? Ele tinha que parar o carro dele atrás do meu? Ele tinha que ser brasileiro?

Não se deve procurar respostas, apenas aceitar, isso nos faz mais felizes.


                                                                               Suzana