sábado, 30 de maio de 2015

SOBRE O MEU PAÍS



Todas as coisas trouxeram-me até aqui, todos os fatos isolados e a conjunção deles. Eu tinha um armário lotado de casacos de inverno e não entendia para quê. Os fios de água alcançam rios que alcançam mares e ninguém presta muita atenção, mais ou menos assim foi se formando o meu caminho. Quando tudo mudou, eu nada vi, apenas ia, em frente, sem pensar muito. Cedo me disseram que tudo aquilo que precisa de muita reza para dar certo não presta. Nem houve reza! Tudo está em seu devido lugar e eu gosto de tudo do jeito que está. Contudo, aquele país verde, gigante, morno, de calçadas esburacadas, aquele país que joga na minha cara seu bafo quente assim que piso o chão do aeroporto de Belo Horizonte - ou que seja o chão de São Paulo -, e lança em mim seu cheiro inigualável, aquele país parece gritar, chamando-me, porque um ano passa, dois anos, não, agarra tudo na saudade. Eu amo a minha gente porque é minha, sou eu, e eu a entendo via poros, brilho nos olhos, e eu posso amá-la e odiá-la. Todas as coisas trouxeram-me até aqui e deixaram envelope selado e endereçado, para retorno.

Suzana Guimarães

terça-feira, 26 de maio de 2015

(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)

Alguma coisa sempre há de incomodar. Às vezes, em doses pequenas, às vezes, em avalanches. Uma coisa atrás da outra incomodando. Um monte delas e você começa a pensar no sentido da vida. Isso até que você insiste com alguém na razão de um olhar tão triste... É quando nos alcança algo avassalador e nos cala. A moça de 19, "quase 20", diz, "Minha mãe morreu. Ontem. 40 anos. Câncer." Fim.

Suzana Guimarães



(Publicado originalmente no Facebook, em 25 de maio de 2015)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Rosa dos Ventos

Dica: quando eu disser que vou para o norte, me espera lá, mas pensa também no sul. E não se esqueça de que há leste e oeste. Quatro lados! Mas, pensa bem porque a Terra é redonda!

(Suzana Guimarães)

domingo, 10 de maio de 2015

Dias de calmaria...


Imagem: Daniela Ferreira


Indeterminado é tudo aquilo que não pode ser decidido, resolvido ou estabelecido... Determinado, claro, o contrário. E eu vejo o quão é determinado meu desejo de apossar-me daquela terra aprazível e chamativa, gritante, eco de desejos passados, todos eles. Determinada vontade de afundar-me nessa terra, como nunca antes, pela primeira vez e que seja essa a última, que seja, pouco importa. Mas, afundar sem escrúpulos, apalpar cada centímetro, vasculhar o que faz promessa; tocar o que chama, ardendo. Terra estranha que nada entende da minha língua. Água escondida. Céu que nunca vi. E voltaria eu lá, quantas vezes fosse a vontade, pouco importa. Indeterminado é o desejo de não prosseguir na caminhada, é parar antes da hora. Cansei de gozos antecipatórios. Quero morrer todas as vezes, na hora do grito - de todos eles - que ainda não dei.


​E assim eu estaria em dias de calmaria...


Suzana Guimarães

sábado, 9 de maio de 2015



Se acontecesse a loucura, eu não me importaria; se fosse loucura de Deus.

(Suzana Guimarães)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Suzana sem freios



(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)

Só agora dei-me conta de que estou há dezoito anos comemorando a maioridade. Fazendo contas, para esclarecer, tenho 48 anos, então, estou  desde os trinta anos bem pior do que eu era. Porque eu era bonitinha e boazinha e só de vez em quando eu surtava. Meus surtos não foram poucos, mas, para ser franca, ah, como engoli sapos! Hoje, dezoito anos após, sou prazerosamente madura e isso significa que não dou satisfações, não explico direito, debocho e espano a sua cara quantas vezes eu entender interessante porque, passando a vontade, abstraio-me e vou para onde bem quero; sem você no pensamento, claro, sem qualquer coisa. Viver de verdade é algo meio que ser nada, ser vento, ser à toa, ser mesmo qualquer coisa. E qualquer coisa é melhor que gente chata e pequena. É isto: sou maior de idade. Eu sei a minha. Você sabe a sua?


P.S.: perdi os freios. Não me socorra, por favor!

domingo, 3 de maio de 2015

O amor grande demais faz calar.

(Suzana Guimarães)