quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

HORA DE PARAR

By Lelena Terra Camargo

Faz-me mal a escrita? Não, as consequências dela.
Por isso, vou parar por algum tempo.
O Blog ficará aberto para quem gosta de me ler.
 
Suzana Guimarães, a Lily
 
 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

DESENCANTO


 
Parecia leve,
Consistente
Sereno
Ardente presente.
 
Foi ontem...
Numa breve viagem
Um descuido
Um deslize
Uma folha que cai
Um rio que flui
Um cão que passa
 
Parecia...
 
Parecia vida e nova e gostosa, delirantes risos, onde rios alcançariam os mares dos sonhos e os mares os corações de quem os visse passar.
 
Parecia.
 
Hoje, ausência que me espreita, folha pisada, rio sem água, a preponderância do não.
 

Por Suzana Guimarães

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

NÃO ERA PARA TER SIDO ASSIM


 
(Imagem encontrada na Net)
 

Desperdiçadas palavras
enlatados pudores, amores, dissabores
na triste figura da esquina
 
Conta-me uma bela história
pedia, conta-me, embala-me
 
Todos já se foram
Tudo é passado e quieto
Só esta luz artificial...
 
Desperdiçado tempo?
Disputados espaços, truncados desejos, desamores...
na segunda triste figura da esquina
 
E, amanhã, outra e outra
Sombras de tudo o que nem chegou a ser
 
Apenas desbaratadas palavras...
 
Por Suzana Guimarães
 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

AMOR E SEXO NA INTERNET

Suzana Guimarães, By  Hilário

A criação com toda certeza está preocupada... Do outro lado do mundo, fetos femininos são abortados, meninas morrem cedo, de fome ou abuso sexual. Abortos são feitos clandestinamente após estupros, que, a cada dia, elevam os números das estatísticas. Há uma gente impotente de tanto usar droga e álcool. Do lado de cá, mais estupros, mais descuido, mais abortos e o ato sexual humano está perdendo para o coito do cão com a cadela, no meio da rua.
 
Para completar, as pessoas decidiram amar e fazer sexo via computador, como se não estivéssemos em pleno século XXI, como se não houvesse aviões subindo e descendo em pistas por este mundo afora, como se as facilidades não fossem tantas! Parece que ainda tudo se faz na espera dos grandes navios mercantis. Como se não vigorasse a Lei do Divórcio na maioria dos países... não menciono obviamente as nações onde ainda os direitos humanos não são respeitados em sua íntegra, onde os costumes são os mesmos de trezentos anos atrás...
 
Pelo amor de Deus, pelo amor da criação, que amor é esse que não pode ser tocado, suado, trocado, feito, experimentado? Que papo é esse? O medo das doenças sexualmente transmissíveis é tão grande assim? Ah, medo, tempo... só falta agora me dizerem que papai noel realmente existe. A palavra é 'escapismo'. Intolerável cotidiano que me leva ao computador para sonhar com uma imagem e alguns sonetos doces de amor. E, então, o dia se faz cor-de-rosa e as noites azuis da cor dos olhos do(a) amado(a).
 
Amor adolescente. Tive um aos quinze anos. Mas, ele falava comigo, me dava carona, emprestava-me o seu caderno de matemática, ria, me ouvia, contava casos. Amor no Egito? As famílias escolhem os noivos e fazem o casamento e todos dizem amém. É para o bem deles mesmos, para as famílias e a comunidade. As famílias se fazem e se perpetuam por décadas na mesma vila... outros costumes, outros mundos. E é melhor eu parar por aqui porque eu tenho opinião sobre certas coisas, mas dispenso o levante da bandeira. Não é da minha conta. Nem o sexo e o amor dos outros, mas, puta merda, estou neste mundo e me deram boca para falar, olhos para ver e mãos para escrever. Não sou aquele macaco todo medroso, tampando tudo, para não saber, não tomar conhecimento, nem enfio a cabeça para dentro da terra, deixando somente pés e bunda à mostra.
 
Triste humanidade... o que mais temos de humano deixamos registrado somente em casas comerciais, alguma coisa 'ponto com'.
 
Quem possui um vibrador sabe, é interessantíssimo no primeiro dia. Bom na próxima semana e péssimo para sempre, quando usado na solidão de uma cama. Se for a dois, continua bom, se não, melhor lançar na lixeira. Falta braços, falta pernas, cheiros, pele.
 
E o amor? Tão lindo! Não paga conta, nem a do hospital.
 
Continue, continue com teu grande amor virtual e depois me diga quem foi que lhe estendeu a mão quando você se estrebuchava de dores no chão.
 
Por Suzana Guimarães

PRAZER, SOU FERNANDA

 
Fernanda Soares Clemente - arquivo pessoal
 
 
Num passado mais que perfeito, busquei a perfeição do amor e da felicidade como se pintasse óleo sobre tela, lesse Neruda ou caminhasse com Yung por calçadas suíças, interpretando sonhos e escarafunchando mentes humanas. Mesmo que entre passadas irregulares, faltava pouco para os melhores desfechos. No fim, o entendimento, o suspiro da última página e o quadro num museu de Arte. Hoje, tudo folha em branco, com poucos dizeres:
 
Sou mulher, sou Fernanda, não sou menina, não faço birra, dispenso a pose de moça, sou aquela que ousa. Alcancei a capacidade de enrolar-me e desenrolar-me em tramas alheias, na medida do meu querer.
 
Não creio em tudo o que me dizem, apenas no que constato. Não faço bicos, não monto olhares, não treino máscaras diante do espelho, não enlouqueço as pessoas... eu corro, eu corro muito, tenho crias, tenho tristezas, mas não tenho tempo para confinamentos, minha alma é poeta, mas posso ser seca, direta, mais fácil assim, não sou fantasia, não sou miragem de deserto, não tolero promessas vãs, não suporto amor forçado, não me atenho às falsas lágrimas. Sou concreta, mulher em carne e osso, não sou o sonho dos tolos homens Ken, sou morena, sou Fernanda, meus cabelos são escuros como a madrugada, meus olhos, você não penetra, é preciso me buscar além, no toque, na verdadeira conquista, sou a expectativa de um homem de braços fortes, valente, que conta histórias de guerreiros, para eu nunca me esquecer de onde vim.
 
Blefo, se eu quiser, ah, e nunca quero. Tolice! Sou gente, tenho o corpo fechado para o mal, aberto para a vida, mesmo que eu chore, mesmo que eu me acabrunhe, amanhã, estarei melhor.
 
Não abro portas que não poderei sustentar abertas. Não sei o canto da sereia. Minhas crias me amam, minha mãe me ama, meu passado me libera, nada mais sei de descartáveis quimeras.
 
A coroa de rainha, eu mesma ajustei em minha cabeça, e ela é de safira e eu sou Fernanda, e completo, hoje, 40 anos, então, não me diga o que fazer, para onde ir, como estou, pois eu simplesmente sou.
 
A perfeição do amor e da felicidade, rabisquei outro dia num papel de pão, ela existe num frágil ponto, entre o sim e o não, entre o último riso que dei e aquele que sonhei que poderia dar, entre nãos e vãos... nada importa, a partir de hoje, sou apenas a confissão muda de uma mulher de 40, que nada precisa explicar e entender, apenas respirar e viver.
 
Por Suzana Guimarães.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Êmbolo oco vazio



 
Eu pensei que fosse vomitar. Subiu um êmbolo oco vazio do estômago para a boca. A garganta se trancou, fecharam-se todas as portas, janelas, ventilações.
 
Antigo sentimento, conhecido meu. Não se pode sair correndo, pois não há para onde ir, como eu mesma disse, tudo se fechou, em lanças pontudas. Uma enorme rede enredou-se em minhas vísceras. No passado, isso era motivo de desespero, por se perder o chão. Mas, agora, tudo é diferente, eu caminhei muito e alcancei a sabedoria de eliminar males em minutos, seriam segundos? Como é que a gente consegue isso? Simples, porque, quando se aprende, é rápido; complicado, porque o aprendizado é lento. Simples, como suportar pequena vertigem. Complexo, pois, durante anos, você aprende que se vive um pouco todo dia, e todo dia se vive, pouco a pouco, e todo dia é só mais um dia e, amanhã, contarei outro, e depois, outro... assim, sucessivamente, aos goles. Nesta ladainha do pouco, só hoje, só mais hoje, você caminha o mundo todo.
 
Por Suzana Guimarães

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

CARTA PARA O MEU PAI ( # II )

Suzana Guimarães - arquivo pessoal
Los Angeles, 7 de fevereiro de 2013.

Pouco posso lhe dizer agora, talvez sobre o tempo, talvez sobre o cachorro que dorme debaixo dos seus pés. Eu queria lhe contar os últimos acontecimentos. Os de hoje, principalmente esses, e tenho certeza de que você diria, "Você é uma heroína!". Tenho certeza de que nós mudamos, você e eu, eu o vejo melhor, você me reconheceu. Somos amigos, pacíficos, renascidos. 

Tenho dirigido tanto, estou dirigindo, você que me disse que no seu carro eu não tocaria, mas que depois liberou e até me deu algumas aulas, perdidos nós nas ruas estreitas do Prado... e ríamos porque o carro parecia ser um avião de tanto que eu não conseguia dominá-lo. Pois é, estou avistando o porto de Los Angeles que se comunica com o de Long Beach... é enorme, pai, o mundo passa por aqui, e, sem carro, estou sem mãos e pés. Tudo é longe, demorado, e eu sou aquela que você nunca imaginou tão distante. E você sabe, até hoje sabe, no profundo de seus silêncios, na sua mudez, na sua total falta de assuntos, sabe que eu não acompanhei ninguém, sou aquela que empurra, aponta, mostra o caminho.

Ando correndo mais que você, repetindo as mesmas coisas, reclamando que tudo tem que ser explicado. Ando só. Será que você era um homem solitário? Os fortes andam por aí em plena solidão porque todo mundo pensa que força cai dos céus, gratuitamente, feito chuva, e que, nós, os guerreiros, simplesmente de nada precisamos, porque nos basta abrir a boca para ingerir as dádivas. Entendem, os fracos, que o mundo é deles, para servir às suas eternas doenças, inabilitações e descrenças. Eles se dizem à margem, mas a chuva cai para todos e eu me pergunto: por que será que essa gente não consegue se mover? Doença, acomodação... são tantos os termos, dispenso todos, pois, você e eu vimos limitações - você fingiu que nem via - mas, nós fomos, trêmulos ou não, dar a cara às águas.

Você ainda faz isso, de outra forma, mas faz porque quer. Continua decidindo por sua vida. Ah, questão de honra! Um homem igual a você não tomba fácil, mesmo assim, do jeito que está.

Você, hoje, madrugada numa minúscula cidade do interior, onde um avião nunca passou, nem navio nenhum aportou. Onde o rio transborda e assusta, ouve-se o bailado das árvores no mato, os pássaros, os ônibus que passam freiando, onde a poeira precisa de água, os cães andam sarnentos e alheios, olhos vigiam pelas frestas das janelas e um menino corre, sorrindo, mostra para a professora todo o dinheiro que ganhou vendendo garrafas vazias.

Você, hoje, é o silêncio daquelas noites, e eu sou tudo aquilo que eu ainda poderia ter lhe dito.


Por Suzana Guimarães

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

MĀO, LUVA E UM CERTO PERFUME



(Imagem retirada da Internet pelas mãos da Cris Araújo)


Perceba que posso ser aquela que você desejar. Nāo porque me metamorfoseio ao macho, nāo sou daquelas mulheres que trocam de esporte, leitura e roteiro de viagem a cada troca de homem, só para acompanhá-lo, como se tivessem passado a vida escalando montanhas, mas, de verdade, sempre nadando, três vezes por semana, na academia perto de casa.

Perceba que posso ser todos os teus desejos pelo simples fato de que sou, em uma, todas que você desenhou, nas últimas páginas dos cadernos, pensando que nāo houvesse mulher que um dia poderia vir a se encaixar em tuas medidas. Tudo questāo de métrica, meu bem, as melhores vestes dispensam ajustes.


Por Suzana Guimarāes

sábado, 2 de fevereiro de 2013

"(...) ser uma espécie qualquer de ave." UMA CARTA

 
 
 
 
 
Los Angeles, fevereiro 2, 2013.
 
 
Querido,
 
Você escreveu "ser uma espécie qualquer de ave". E a frase colou em mim, andou comigo por aí, tantas coisas para fazer, nesta terra onde tudo é muito longe e demorado... há tempos, venho percebendo bandos de aves que me sobrevoam, justo quando passo, de carro, em diferentes lugares, em diferentes horas. Percebo também que pessoas na rua também olham para o céu e observam o bailado, assim como eu.
 
Parece promessa cumprida. Parece aviso. Ando tão surda, muda e cega que não traduzo bem, não sei o que querem dizer, o que querem me dizer. Eu, que tanto quis sair de meu próprio peito e voar por aí, livre, desapegada, em bando ou de forma solitária, assim como a águia, assim como o pássaro verde que vi, ontem, escondido debaixo de uma folha de palmeira.
 
Eu, que decidi colher ramos de flores para enfeitar a minha solitária casa, eu, que acendi inúmeras velas, pequeninas velas, redondas, brancas, e, que acesas, lembram-me um antigo chalé, uma antiga pessoa, tão conhecida minha... que dispensei campos de morangos, a fome, a sede, o passo, o som de piano, os meus amores, a minha terra, quente e molhada, difícil, esburacada, um mastro com bandeira linda que tenta se manter em pé, firme, aplaudido...
 
Eu, que agora dispenso murmúrios de anjos, que rasgo o mapa e rio das profecias... neste mundo ora chato, ora cruel, uma saga infinita por não sei o quê... estou aqui, a pensar em pássaros voando, em capela, na vida de uma escritora do passado, nem um pouco reconhecida, numa fuga a dois, porém, separados, numa casa que se fechou para sempre, por ninguém, para nada...
 
Eu, e meus sonhos reincidentes que agora se tornaram cansaço constante no meu corpo desejoso de sossego, de descanso, de música ao longe... sonhos reticentes, onde toda a minha vida passa, filme chato, sem cronologia, sem roteiro, apenas um embaralhamento de ideias, e que me fazem acordar sem saber em qual dos meus antigos endereços estou, nunca no atual, perdida, sem saber se depois da quinta-feira é segunda-feira, sem saber se deixei alguém para trás...
 
Alguém chega e diz uma frase qualquer, não, uma linda frase, e leva você para aquele lugar onde você deixou tua blusa de frio, teu diário ou mesmo a merendeira com cheiro de chocolate da infância.
 
Querido, presta atenção no que você me diz ou escreve, pois eu tenho medo.
 
Beijos,
 
 
Por Suzana Guimarães