quinta-feira, 31 de julho de 2014

SOBRE GOSTAR OU NÃO


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Dou-lhe toda a liberdade de gostar de mim ou não; de dar-me atenção ou não; de considerar-me eterna em sua vida ou não. Dou-lhe esses espaços porque aprendi a desgarrar-me. Você será importante para mim enquanto você quiser. Ao desgarrar-me, entendi que fica e continua quem quer, inclusive eu, com os mesmos direitos que você. Aprendi que estaremos bem se nos fizermos insubstituíveis, algo extremamente frágil, que quebra por muito pouco e aprendi que amizade e amor verdadeiros são o principal alvo dos invejosos e incompetentes. E do seu eterno dedo apontado para mim, julgando-me.

Deixa para Deus os julgamentos. Você é tão carne e mortal quanto eu.


Suzana Guimarães



Nota: Texto originalmente publicado em minha página no Facebook, no dia 29 de julho de 2014.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Trechos (cartas que escrevi) - II

(Ilustração, Antonio Cláudio Zamagna)


"(...) Aos vinte anos, eu me questionava sobre a minha vida aos quarenta porque seria essa a época de renovar a carteira de motorista. Quando essa data chegou, eu estava desmontando meu mundo para recriar outro, aqui. Atualmente, questiono-me onde estarei na minha velhice, o que estarei fazendo, com quem estarei, se terei conseguido alcançar algum estágio de plenitude... Então, percebo o quanto tudo é insustentável, etéreo demais, volátil. 

Será que ao invés de Portugal, eu estaria ganhando esta Europa que fascina? Não sei, sei que estou aqui, onde tudo é muito moderno e perfeito. Isso me basta, mas não mata as questões.

Alguma coisa contra a perfeição? Nada. Porém, a vista às vezes cansa. Não sei se você sabe, todos os shoppings e condomínios da Califórnia são semelhantes. Algum arquiteto ficou muito rico e nós bem pobres. Poucos em Los Angeles saem do padrão, mesma cor, mesmo design. No mais, sequência de déjà vus.

Sinto falta de cheiro de terra, de mato, de bosta de cavalo. Como são os voos dos pássaros daí? Eu vejo e escuto maritacas escandalosas - uma praga indestrutível, reproduziram-se em demasia - sobrevoando os altos das palmeiras Imperiais, e muitos corvos que nada têm de coisa ruim. Gosto do som que fazem, do jeito que bicam as calçadas de concreto. As gaivotas são belas quando se perfilam na areia da praia para assistirem ao pôr do Sol, mas agressivas por um naco de pão.

É março. Creio que voltarei a compactuar com os ares daqui. Penso que tudo é uma fase, longa, mas inexorável e esperada, quem entrou na chuva não pode reclamar do que se molhou ou não. (...)"

Suzana Guimarães



P.S.:  Estou relendo cartas que escrevi no passado, cartas reais. "Trechos" serão publicações de partes dessas missivas.

Trechos (cartas que escrevi) - I

Ilustração por Antonio Cláudio Zamagna


"(...)Descobri em minha solitária viagem que, em nosso cotidiano, muitas vezes, pegamos sentimentos concretos e os transformamos em utopia. Cansados, pegamos utopia e a transformamos em realidade. A razão disso, desconheço. O que importa, ao final, é descobrir que realidade pode ser sonho bom, muito diferente do que acontece na utopia.(...)"

Suzana Guimarães





P.S.:  Estou relendo cartas que escrevi no passado, cartas reais. "Trechos" serão publicações de partes dessas missivas.

domingo, 27 de julho de 2014


(Por Suzana Guimarães)


Estar apaixonada. 
Que coisa é essa que nos embeleza, nos enleva e faz a vida ser festa, alegria, pássaros em pradarias?

Suzana Guimarães

quarta-feira, 23 de julho de 2014

HÁ UMA VARANDA DENTRO DE MIM



O escritor chinês me deixou a lembrança da varanda... Não me lembro mais do seu nome e sequer o nome do livro, um exemplar bastante amarelado, guardado em minhas coisas, dentro de alguma caixa, no Brasil.

Ando tão confusa, preciso de um tempo interno. Escrevo daqui, da CA, para uma amiga no Brasil, sobre um escritor que viveu na China... Ando cansada... Esgota-me falar em várias línguas! Até do Português ando esgotada e estou errando muito.



Preciso abrir a minha varanda do nada e nela me encontrar. Ele, o escritor, escreveu que na China antiga, as pessoas construíam em suas casas uma varanda que haveria de ficar vazia. Uma varanda criada para o nada. Uma varanda para reflexão, imune ao desejo humano de decorar.


Tenho uma varanda à minha frente, enquanto escrevo. Hoje, mal a vejo, puxei as cortinas, entranhei-me em casa e em mim mesma. Nessa varanda há uma árvore que dá flores Havaianas, Espadas de São Jorge, uma única minirroseira, um jasmineiro que ressuscitei. Há um vaso de lily. Há cactos e descaso, não cuido muito dela. Por ela, eu passo, molho as plantas, vejo como está o tempo para escolher a roupa que usarei. E só.

Atrai-me a varanda interna. Todos nascem com uma varanda para reconstrução íntima, para juntar os cacos da alma que foi estilhaçada, do amor-próprio ferido, das dores todas do mundo. É... ando assim, para dentro, no começo pensei que fosse amor mal tratado o que me dilacerou, mas nessa varanda, encolhida nela, percebi que não foi amor por outro, foi apenas e pobremente amor excessivo por mim mesma. Fui menosprezada, largada, deixada de lado, fui preterida. E isso cortou fino, caco de vidro finíssimo rasgando rápido a seda da alma. O corte alcançou a pele do corpo, minha engrenagem interna, o fluxo sanguíneo, fiquei doente.

O escritor relatou a necessidade da varanda. Não tenho varandas propícias, e nem quero, tenho a principal, a que existe dentro de mim.

A de fora está no frio, é outono aqui. Ela para mim também é importante, apesar da minha quase desatenção, porque, por ela, percebo que escrevo sabendo que o mundo existe, e não enclausurada em minhas vãs filosofias. Por ela, vejo as pessoas passarem nos corredores do prédio, quando as cortinas não estão cerradas, feito hoje. A enorme porta de vidro que separa a minha mesa, o meu computador, dela, mostra-me isso.

A de dentro andava largada - eu também sei abandonar! - mas agora dedico meu tempo a ela, ao nada, a mim mesma. Faço varreduras, arejo com sal grosso, perfumo com alfazema, clamo por um poder maior às minhas pequenezes. Escolho as flores que amarei, as músicas que permitirei, evito possíveis invasões. Nela, tenho permissão para controlar os sóis, as luas, as marés e todos os ventos. Nela, tenho permissão, total e absoluta, para impedir a entrada de pés em lama.

O escritor deixou de lembrança a varanda. A minha amiga, Sil Antunes, deixou-me uma frase:

"Em teu mundo, não é qualquer pé que sabe entrar. Nem qualquer alma."


por Suzana Guimarães.




Nota: Crônica originalmente publicada na Revista Mostra Plural (São Paulo).

terça-feira, 15 de julho de 2014

SOBRE O QUE É REALMENTE ETERNO


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Tive uma colega, muitos anos atrás, que me contou algo sobre a sua vida no Japão. Enquanto morou lá, ela fazia agrados, favores ou pequenas ou mesmo grandes gentilezas aos seus vizinhos japoneses. No dia seguinte, o vizinho agradado estava à sua porta segurando com muita honradez uma cumbuca de comida para ela. 

Já escrevi que adoro o livro "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry, mas que tenho birra dele em alguns momentos. O "eternamente responsável" soa bastante ditador e hipócrita. Sou mesmo responsável por toda a eternidade por certos gostares, pelo que conquistei nos corações alheios ou não? Sério? Por quê? Ele só diz isso e não justifica. 

A vida é redonda, as pessoas nem sempre nos gostam despretensiosamente, muitos atos são recebidos por educação de ambas as partes envolvidas e nem sempre "tudo aquilo" foi tão espontâneo assim. Mas, não importa, apesar de qualquer "senão", temos que estar o mais rápido possível diante da casa do outro com uma cumbuca de arroz nas mãos, para ofertar. Hipocrisia? Não. Educação. 

Deixo o "eternamente" para um único caso: se alguém salvar a minha vida - e eu sei como é -, estarei eu eternamente responsável por essa pessoa, de uma forma ou de outra. Porque é bem que só se paga na mesma moeda. Porque é mesmo para sempre. É inesquecível. Porque fica guardado no fundo da memória e dos pulmões. Porque eu só posso pagar com vida.

Se hoje você me dá um beijo, amanhã, retribuo com um abraço ou mesmo outro beijo. Uma cumbuca para cá, outra para lá e está tudo de muito bom tamanho.



Por Suzana Guimarães

domingo, 6 de julho de 2014

FIGURINHAS...

(Figurinhas do Facebook)

Se eu as tivesse, as figurinhas do in box do Facebook, à disposição, em mãos, se fosse possível tê-las, eu as teria aos montes nos bolsos dos casacos, para ir me comunicando assim: cada hora um sinal ou desenho mostrando claramente meus ânimos. Tenho certeza de que a comunicação seria mais fácil. Minha voz e minhas letras já não me servem muito. 

Momento filosófico de enorme grandeza com a Fátima Amaral, in box, claro.


Suzana Guimarães, em 5 de julho de 2014, no Facebook  -  Um retrocesso às cavernas...