quarta-feira, 25 de abril de 2012

Chorar não é feio e nem pode causar assim tanta comoção, chorar é natural, sou eu água procurando chão.




Eu queria ter um tempo ou dois, seriam minutos, um dia? Ou seria um tempo infindo, incontável, aquele que desprezamos ao olhar os ponteiros do relógio mas que só ele edita minha história e a de vocês, a nossa?

Queria ter esse tempo para chorar todas as lágrimas que não caíram e também, inclusive, as que cairão. Sim, quero chorar tudo de uma vez só. Quero chorar sem dó de mim e sem desejo de solução. Não quero me recorrer à mandigas, simpatias, benzeção. Não quero me perder em fotografias. Não quero lembrar, recordar o já vivido e tudo aquilo que imaginei viver e nem cheguei perto. Não quero conselhos. Não quero o consolo da profecia. Eu só quero chorar, não de fraqueza ou insegurança, eu quero chorar para expurgar de mim tudo que acumulou, que foi demais, que ultrapassou minhas fronteiras.

Não importa mais o que me fere, quem me feriu, o que perdi, o que fui obrigada a largar. A importância deu lugar ao cansaço, e, por cansaço, eu prefiro me render. Na rendição, encontro esse tempo incalculável, encontro a minha pele, a sensação que sempre carreguei comigo, a de que posso me manter bem em cima de minhas pernas, e caminhar, mesmo que o terreno pareça bem maior que elas, minhas pernas, pois só saberei atravessando-o. E eu quero fazer isso e quero chorar, porque chorar não é feio e nem pode causar assim tanta comoção, chorar é natural, sou eu água procurando chão.

por Suzana Guimarães


Nota: texto originalmente publicado em 24 de abril de 2012, no Facebook.

SOBRE CASULOS

(fotografia, por SCG)


Querida Lunna,

Outro dia, escrevi para a Andrea, o anjo do Sul, "preciso continuar no meu casulo, frágil casulo que rompo a cada dois ventos...". O que é esse vento? Ou melhor, quem seria esse vento? Só gente seria capaz... É ela, é você, é a minha mãe tão longe de mim. São meus filhos. Uma prima convidando-me para um almoço ou dois... Um colega que questiona "que cara é esta?".

Casulo prata, da cor das águas frias do Pacífico quando batem na areia e molham meus pés. Casulo verde, da cor dos cactos, lírios e ervas que ando namorando, inclusive das rosas brancas que parecem irreais de tão fabulosas, rodeando casas de telhados vermelhos...Casulo vermelho, da cor da paixão que mato todo dia, paixão pela efervescência.
Casulo de silêncio oculto em alguns risos falsos, quase de carnaval.

O casulo me chama, me atrai, e os ventos também. Cartas pedem para serem escritas, boca para ser beijada, amizade pra ser esquecida, passado pra ser enterrado. E um medo medonho me faz derramar lágrimas, tenho medo de telefonemas que gritam em horários incomuns.

Assim, venho me refazendo e desfazendo, talvez embaralhando as linhas dos novelos, mas é preciso. Hoje, o rio da minha vida segue curso próprio, alheio à queixas, mas enamorado por ventos, por gente, por poemas... por um anjo que vela na vela acesa, eterna."

Por Suzana Guimarães


Nota: texto originalmente publicado em 17 de abril de 2012, no Facebook.

domingo, 8 de abril de 2012

VOU ALI, APRENDER A OLHAR DE LONGE

(fotografia, por SCG)

"... Ocasionalmente precisamos descansar de nós mesmos, olhando-nos de cima e de longe e, de uma artística distância, rindo de nós ou chorando por nós; precisamos descobrir o herói e também o tolo que há em nossa paixão do conhecimento, precisamos nos alegrar com a nossa estupidez de vez em quando, para poder continuar nos alegrando com a nossa sabedoria..." Friedrich Nietzsche