quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Espera aí! O que é pouco? O que é muito? Basta; sério?



(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Pensando, pensando... Trinta dias é tão pouco, nem os vejo, assim como não vejo trinta pingos de chuva em meu corpo, sequer no asfalto. 'Vejam lá, o semáforo para pedestres abriu, vamos, corram!'. E ficam aqueles trinta no chão que os evapora... E sessenta dias? Também pouco! Noventa? Mais ainda. Pouco. Pouco e eu sei sorver um sorvete numa engolida só, sei muito bem fazer descer uma taça de bebida forte goela abaixo, sei receber amor e sei doar. Mas, seis meses também é muitíssimo pouco. Como pode? Vim das Crônicas de Nárnia, Luís? Conseguiu você analisar matematicamente a caixa de Suzana esteticamente posicionada no rasgo que desce pescoço abaixo? Não, eu sei. Em trinta, sessenta ou mesmo três vezes trinta dias, eu mal atravesso a rua, imagina então um inventário de mim, de nós, de tudo, das histórias vividas. Não posso! Vim de Nárnia. Converso com cavalos que sorriem para mim e fico sabendo das aventuras do mundo - eles sorriem, " Tudo mentira, Suzana, somos apenas pescadores de almas entristecidas banhadas em bronze, dos bem puros e duros!". Sou ficção, não galopo em noventa dias, imagina então em trinta? Seria mesmo isso? Sou espectro de gente, nado todos os dias nos mares da ilusão. Sou a palmatória do tempo. Bato nele quando ele corre? Contaram-me também, os cavalos, que em um dia alguns mudam de nome e país, atravessam a nado todos os canais do tédio. Ai, sou um fardo! Peso em mim, peso em você. Pesei o mundo. Mereço a morte através dos pontudos ponteiros de um velho relógio. Sei da potência de um dia, da força vibratória, do barulho que um corpo faz por dentro em dez minutos ou menos, certo, dois, três segundos...parece um ronco de motor, parece o eco de uma gruta trancada no mais profundo dos solos, de onde eu grito: como? Como podem sorver assim a glória e a desgraça da existência?


Por Suzana Guimarães



Nota: Publicado originalmente no Facebook, em 30 de dezembro de 2014, às 22:36.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Nota:


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Nota:


Aprendi com ele: não sou reação à ação de ninguém. Reajo quando bem entendo. (meu querido Dr.J.) 

Vivo por conta de meus próprios anseios, traumas, alegrias e conquistas. Calço meus próprios sapatos, não uso sapatos de outros pés de forma alguma - nem desejo isso! Não sorrio ou choro porque você fez ou não festa para mim. Tudo que falo, escrevo e faço é resposta do meu interior para qualquer um, salvo explícitas exceções. Normalmente, só faço o que quero e não me importo com o que você pensa. Finjo a maior parte do tempo; finjo que não estou vendo você alma adentro porque sua alma é sua e é você quem tem que cuidar dela. Amo quem eu quero e não me sinto com obrigação de dar explicações, nem para o meu amado, sim, amarei até quando eu assim desejar.

Aproveita tudo o que lhe pertence e seja feliz!

Eu continuarei agindo ou não de acordo com minhas vontades, mas não se esqueça, tenho corpo sensível, vejo sem precisar olhar.


Suzana Guimarães

quinta-feira, 13 de novembro de 2014



Vou ali. Por estar indo ali, não escrevo mais - por isso, o outro perfil está inativo -, o livro que comecei a escrever parou; não leio ninguém, não correspondo, não cumpro promessas. Não penso em pessoa alguma por mais de cinco minutos, não rezo, não sonho, não estou atrás. Vou ali e eu tenho esperado por isso há muito tempo, sem aguardar, contudo. Nada mais cabe em mim e eu não me caibo em mais nada. Sinto ânsia, vontade de gritar, já me perdi e me encontrei em cada segundo dos dias que passam... Desprezo o passado que tanto amo e só penso neste futuro de pouco tempo. O presente não existe, pois não existo mais dentro dele. Sinto muito, mas eu vou ali, talvez eu nada encontre; talvez, eu volte transbordando ou descubra que ter ido foi besteira: tudo estava a um palmo de distância de mim. Mas eu vou.

Por Suzana Guimarães



Nota: Publicação originalmente feita em 11/11/14, no Facebook, em minha página.

sábado, 8 de novembro de 2014




(arquivo pessoal de SCG)



Vai.
Toma o tempo, será senhora das horas mortas
Caminha.
Deixo-lhe a oferta:
Seguirá na força de um relâmpago
ou no passo de quem caminha?

Seguirei no passo de quem caminha, sorvendo toda a ânsia, pois eu tive toda a vida para poder caminhá-lo.

Suzana Guimarães.

domingo, 24 de agosto de 2014

E, então...


Novamente, venho para dizer que este espaço ficará por algum tempo inativo. Estou escrevendo o meu segundo livro e tudo o que chegar em mim será material para ele. Enfim, irei hibernar.

Obrigada a todos pela leitura.


Um abraço,


Suzana Guimarães


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

SOM EM LINHA

(Imagem: desconheço autoria)


Na sua mudez,
Ouço alto som.
Na sua mudez,
Compreendo o tom.
Todo o mais que não possa imaginar,
Em seu desequilíbrio equilibrado,
Em sua firmeza de uma única palavra:
Seca, polida, seca

leio frases...

Em suas frases,
Breves e curtas,
Curtas de medo, leio livros...
No seu silêncio,
Ouço te quero.
No te quero
Ouço te amo.
Sabotado,
De um não-amado.
Se você falasse,
Eu não leria.
Se você risse,
Eu não ouviria.
Se você me tocasse,
Eu não saberia.
Mas você não fala, não ri, não toca.
Você se cala.
Quanto mais cala
Mais fala.
Menos embaralha.
Eu queria que você me enviasse um livro
Pra embrulho.
Aí sim,
Eu saberia que você escrevia apenas uma linha.


Por Suzana Guimarães

Publicação original: 

SEGUNDA-FEIRA, 7 DE JUNHO DE 2010, em "O medo de suzana".

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Labirintite ou Vertigo Posicional?

(desconheço autoria da imagem. Encontrada no Google)

A primeira crise de Labirintite, eu a tive aos 17 anos, logo após saber que havia passado no Vestibular. Foram meses de estudo e muito nervosismo, principalmente no dia em que o resultado saiu. Na minha família sempre houve casos de Labirintite, daí, eu não procurei médico, já que os sintomas eram os mesmos. Tomei o remédio indicado que era o único no mercado farmacêutico. Ela durou cerca de dez dias. Após isso, voltei a tê-la, mas não durava 48 horas e não vinha de forma seguida. Cheguei a ficar anos sem Labirintite, mesmo em ocasiões em que passei por momentos de extremo nervosismo, dias complicados, vida agitada demais.

Quando eu tinha a crise tomava Stugeron 75 mg (nome fantasia). Os sintomas eram: fortíssima tontura, enjoo, perda de direção ao andar, dor de cabeça (às vezes, sim, outras, não), intolerância a sons altos e luminosidade. Nunca precisei ser internada em hospital e nunca vomitei.

Em 31 anos, muita história, mas nada que me deixasse preocupada. Apareceu um remédio chamado Vertix (nome fantasia) e eu experimentei. Ficava mais tonta ainda, o mesmo acontecia com outras pessoas da minha família.

Há dez anos, fiquei sabendo por um dos meus médicos da época, que Labirintite estava sendo tratada com Rivotril (Clonazepam). Eu já fazia uso dele por outros motivos e pensamos, o médico e eu, que, com certeza, eu não tinha mais Labirintite e enxaqueca porque fazia uso dele. O que é verdade. 

Entretanto, após uns 3 ou 4 anos sem Labirintite, comecei a tê-la por meses seguidos. Em 2011, por 42 dias. Assustei-me e tripliquei a quantidade de Rivotril. Um erro que não levou a nada. Ela se foi quando "quis". Em 2012, por 4 meses. Nesta ocasião, após a crise, sequer parei de fazer jiu jitsu de tanta raiva que fiquei. Eu ia às aulas e fazia apenas aquecimentos e treinos, não lutava. Eu sempre resisti à tonteira, aprendi a lidar com ela, a manter meu pescoço sempre esticado ao fazer certos movimentos, como por exemplo, para pegar coisas no chão ou no alto; eu acostumei-me a não dobrar a coluna para ir ao chão, acostumei-me a agachar-me primeiro para fazer isso. Em 2013, o pior ano da minha vida, eu não tive Labirintite.

No final de maio deste ano, ela chegou e ficou, dois meses. Uma pessoa da minha família estava igual a mim. E essa pessoa estava fazendo check-up. Um dos médicos pediu uma Tomografia. Ela, por conta própria, levou esse exame ao seu médico que estava tratando sua Labirintite, sem muito sucesso, com um remédio novo, Labirin (nome fantasia), Dicloridrato de Betaistina - 16 mg -; e ele disse, "Foi ótimo você trazer esse exame para mim. Você teve um pequeno infarto e um pequeno AVC há muitos anos, que, com certeza nem ficou sabendo, e que não deixou sequelas. Você não está com Labirintite. Precisa tomar um remédio para ralear o sangue". No segundo dia de uso do remédio, ela sarou.

Após relutar bastante, decidi procurar meu médico de família (nos EUA) para que ele me indicasse um caminho. Ele indicou-me uma clínica de ouvidos. Eu teria que procurar, depois, segundo meu médico, um neurologista, caso nada encontrassem. Mas, como tudo na vida tem seu tempo útil, dentre dez médicos, fui atendida por um que também é neurologista. E fala em Português. 

Fiz exames de audição, Ressonância Magnética e uma sequência de outros que visam analisar o balanço dos ouvidos. Não sei explicar sobre isso. A técnica em radio fez exames para analisar o grau de tontura, a qualidade dos ouvidos... ela me disse que pessoas com "Labirintite" ou não ficam tontas durante os jatos de água fria ou morna nos ouvidos. E que, preocupante e ruim é não sentir nada. Disse que algumas pessoas se entregam à tonteira e deixam de fazer as coisas, o que é errado. Disse que é preciso lutar contra. Resistir. Disse que meus ouvidos têm ótimo balanceamento, um muito bom, o outro, pobre, mas perfeito.

Daí, veio o diagnóstico do médico: eu não tenho, e provavelmente nunca tive Labirintite.

Na primeira consulta, percebi que ele iria esperar os exames serem feitos, claro, mas que ele não acreditava ser Labirintite. Disse-me algo que eu nunca havia ouvido falar: todos nós temos pedrinhas, calcificações, pequeninos cristais dentro dos ouvidos. E essas "pedrinhas" podem sair do lugar. A técnica em audio havia me explicado, elas se esbarram nos nervos e daí surgem todos aqueles males, acima citados. Há quem precisa passar por cirurgia para cortar esses nervos porque não consegue ter uma vida plena, ela disse. O médico disse que tenho Vertigo Posicional. Durante a crise, devo tomar remédios tipo Dramin, para viagem. Deu-me uma lista de exercícios para fazer em casa, e, se retornar, quando retornar, para eu ir à clínica. Para o quê? Para fazer os exercícios que também fiz com a audio, nos quais, ela tenta jogar as "pedrinhas" de volta para o lugar delas. Confesso: é cansativo, é torturante, mas eficaz. Sinto-me bem. Estou na fase de espera, não posso fazer os exercícios por agora, tive que dormir duas noites com vários travesseiros, não abaixar a cabeça, nunca deixar o corpo em posição reta, mas estou bem. Acredito que meus "internos cristais" tenham voltado para o lugar deles.

Labirintite existe, claro. Decorre de inflamação nos ouvidos ou de problemas outros, como os circulatórios. Porém, tenho agora que mudar o disco, a fala, não dizer mais "Estou com ou tenho Labirintite", algo que fiz por 31 anos, e, simplesmente dizer, estou com Vertigo.

As denominações às vezes importam pois são elas que nos levam aos medicamentos.


Suzana Guimarães

sábado, 9 de agosto de 2014

O carinho de alguns leitores por dOloreS Crônicas...

(Alex e dOloreS...)
(Ana Beatriz e dOloreS Crônicas, de Suzana Guimarães)
(Hilton e dOloreS Crônicas, de Suzana Guimarães)


"(...) Eu a amo muito, porém, nem sempre sei dizer o quanto pois me perco na constante mania de tentar decifrá-la. Eu deveria apenas amá-la, sem tentar entender, sem tentar achar explicações porque o amor não se explica, não se escolhe. Ele é o livre senhor, eu, a simples escrava. É ele quem decide o dia e a hora em que chega, num zigoto ou nas fendas que se abrem para as águas de um parto. Ou quem sabe, num dia quente e você está com os braços cheios demais para agarrar algo mais, mas ele chega e lança-lhe a prenda. (...)". Trecho de uma das crônicas publicadas em meu livro, dOloreS Crônicas.

Por Suzana Guimarães.



(Karla, Francisco e dOloreS...)
(Thelma Ramalho e dOloreS Crônicas, livro de Suzana Guimarães) 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Um pouco sobre loucura


(Suzana Guimarães, by Hilário)


Antes mesmo de abrir os olhos, pelas manhãs, sinto presentes meus fantasmas, meus delírios, meu mundo cão do qual não me desfaço. De lá para cá - não se importe com datas - disseram-me que se apaixonaram por mim porque sou bonita e escrevo bem. E, por isso, como consequência, devo retribuir a paixão, ou amizade, como queiram. De lá para cá, ouvi e li de tudo. Uma amiga escreveu um texto sobre hospício, loucura própria e alheia. Ela, a Tânia*, disse que não se pode abraçar e carregar para si a doideira do outro. Diz que o perigo está aí, quando você vive a loucura alheia, e não a sua.

Pois bem, às vezes, eu me atrevo, e, diante de um chamado, coloco um dos meus pés dentro do seu círculo, só para ver como é, só porque gosto de sobrevoar áreas belas e também as fedidas. Contudo, retiro-o, retiro esse pé, e faço isso normalmente com bastante barulho, quase aos berros.

Então, por que pensaria alguém que eu viveria loucuras alheias? Porque coloquei um pé lá? Fui apenas espiar. Não fiquei para o contágio. 

Ser bonita e escrever bem não lhe dá nenhuma prerrogativa sobre mim, assim, de você para mim. Qualquer consequência será de mim para mim mesma. Entendeu? Ou eu deveria levantar numeração de álgebra?

Às vezes, nem coloco meu pé, nem olho, nem presto atenção porque estou ocupada, vivendo minhas loucuras, mas há de aparecer alguém...

De lá para cá, disseram-me que eu levava ao delírio, à confusão mental... pessoas que chegaram e me convidaram para fazer um passeio com elas. Claro, ninguém mencionou a palavra loucura. Eu fui, não atrás de maluquice alheia, mas por diversão, por encantamento ou por nada, porque sair por aí para fazer nada é algo extremamente normal. O mundo está tentando dizer que não, mas discordo veementemente. Chamaram-me, e, quando pulei fora, gritaram para mim, "Sua louca! Foi você quem me induziu!". 

Há pessoas que sabem de seu poder de influência sobre as outras, e, assim sendo, aglomeram multidões, todas querendo viver a loucura delas, de quem as convidou. Por isso, o mundo não conserta, porque há muita gente desprezando sua própria demência para viver a de qualquer um outro; de preferência, que tenha alguma magia, alguma coisa de endoidar mais ainda.

Faço minhas as palavras da Tânia, viva o seu próprio delírio porque não há mesmo escapatória e a vida pode até se tornar muito chata. 

Não inventa de mergulhar em mundos que você desconhece mais ainda, muito além do seu próprio. Não leia livros de autoajuda se você nem sabe ler. Leia a si mesmo, tenho certeza, o resultado será pouco satisfatório, então, deixo uma dica para você, procura ajuda de terceiro competente. Sozinho, no poço, tudo fica mais escuro.


Suzana Guimarães


Nota: *Tania Contreiras - Arte terapeuta

quinta-feira, 31 de julho de 2014

SOBRE GOSTAR OU NÃO


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Dou-lhe toda a liberdade de gostar de mim ou não; de dar-me atenção ou não; de considerar-me eterna em sua vida ou não. Dou-lhe esses espaços porque aprendi a desgarrar-me. Você será importante para mim enquanto você quiser. Ao desgarrar-me, entendi que fica e continua quem quer, inclusive eu, com os mesmos direitos que você. Aprendi que estaremos bem se nos fizermos insubstituíveis, algo extremamente frágil, que quebra por muito pouco e aprendi que amizade e amor verdadeiros são o principal alvo dos invejosos e incompetentes. E do seu eterno dedo apontado para mim, julgando-me.

Deixa para Deus os julgamentos. Você é tão carne e mortal quanto eu.


Suzana Guimarães



Nota: Texto originalmente publicado em minha página no Facebook, no dia 29 de julho de 2014.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Trechos (cartas que escrevi) - II

(Ilustração, Antonio Cláudio Zamagna)


"(...) Aos vinte anos, eu me questionava sobre a minha vida aos quarenta porque seria essa a época de renovar a carteira de motorista. Quando essa data chegou, eu estava desmontando meu mundo para recriar outro, aqui. Atualmente, questiono-me onde estarei na minha velhice, o que estarei fazendo, com quem estarei, se terei conseguido alcançar algum estágio de plenitude... Então, percebo o quanto tudo é insustentável, etéreo demais, volátil. 

Será que ao invés de Portugal, eu estaria ganhando esta Europa que fascina? Não sei, sei que estou aqui, onde tudo é muito moderno e perfeito. Isso me basta, mas não mata as questões.

Alguma coisa contra a perfeição? Nada. Porém, a vista às vezes cansa. Não sei se você sabe, todos os shoppings e condomínios da Califórnia são semelhantes. Algum arquiteto ficou muito rico e nós bem pobres. Poucos em Los Angeles saem do padrão, mesma cor, mesmo design. No mais, sequência de déjà vus.

Sinto falta de cheiro de terra, de mato, de bosta de cavalo. Como são os voos dos pássaros daí? Eu vejo e escuto maritacas escandalosas - uma praga indestrutível, reproduziram-se em demasia - sobrevoando os altos das palmeiras Imperiais, e muitos corvos que nada têm de coisa ruim. Gosto do som que fazem, do jeito que bicam as calçadas de concreto. As gaivotas são belas quando se perfilam na areia da praia para assistirem ao pôr do Sol, mas agressivas por um naco de pão.

É março. Creio que voltarei a compactuar com os ares daqui. Penso que tudo é uma fase, longa, mas inexorável e esperada, quem entrou na chuva não pode reclamar do que se molhou ou não. (...)"

Suzana Guimarães



P.S.:  Estou relendo cartas que escrevi no passado, cartas reais. "Trechos" serão publicações de partes dessas missivas.

Trechos (cartas que escrevi) - I

Ilustração por Antonio Cláudio Zamagna


"(...)Descobri em minha solitária viagem que, em nosso cotidiano, muitas vezes, pegamos sentimentos concretos e os transformamos em utopia. Cansados, pegamos utopia e a transformamos em realidade. A razão disso, desconheço. O que importa, ao final, é descobrir que realidade pode ser sonho bom, muito diferente do que acontece na utopia.(...)"

Suzana Guimarães





P.S.:  Estou relendo cartas que escrevi no passado, cartas reais. "Trechos" serão publicações de partes dessas missivas.

domingo, 27 de julho de 2014


(Por Suzana Guimarães)


Estar apaixonada. 
Que coisa é essa que nos embeleza, nos enleva e faz a vida ser festa, alegria, pássaros em pradarias?

Suzana Guimarães

quarta-feira, 23 de julho de 2014

HÁ UMA VARANDA DENTRO DE MIM



O escritor chinês me deixou a lembrança da varanda... Não me lembro mais do seu nome e sequer o nome do livro, um exemplar bastante amarelado, guardado em minhas coisas, dentro de alguma caixa, no Brasil.

Ando tão confusa, preciso de um tempo interno. Escrevo daqui, da CA, para uma amiga no Brasil, sobre um escritor que viveu na China... Ando cansada... Esgota-me falar em várias línguas! Até do Português ando esgotada e estou errando muito.



Preciso abrir a minha varanda do nada e nela me encontrar. Ele, o escritor, escreveu que na China antiga, as pessoas construíam em suas casas uma varanda que haveria de ficar vazia. Uma varanda criada para o nada. Uma varanda para reflexão, imune ao desejo humano de decorar.


Tenho uma varanda à minha frente, enquanto escrevo. Hoje, mal a vejo, puxei as cortinas, entranhei-me em casa e em mim mesma. Nessa varanda há uma árvore que dá flores Havaianas, Espadas de São Jorge, uma única minirroseira, um jasmineiro que ressuscitei. Há um vaso de lily. Há cactos e descaso, não cuido muito dela. Por ela, eu passo, molho as plantas, vejo como está o tempo para escolher a roupa que usarei. E só.

Atrai-me a varanda interna. Todos nascem com uma varanda para reconstrução íntima, para juntar os cacos da alma que foi estilhaçada, do amor-próprio ferido, das dores todas do mundo. É... ando assim, para dentro, no começo pensei que fosse amor mal tratado o que me dilacerou, mas nessa varanda, encolhida nela, percebi que não foi amor por outro, foi apenas e pobremente amor excessivo por mim mesma. Fui menosprezada, largada, deixada de lado, fui preterida. E isso cortou fino, caco de vidro finíssimo rasgando rápido a seda da alma. O corte alcançou a pele do corpo, minha engrenagem interna, o fluxo sanguíneo, fiquei doente.

O escritor relatou a necessidade da varanda. Não tenho varandas propícias, e nem quero, tenho a principal, a que existe dentro de mim.

A de fora está no frio, é outono aqui. Ela para mim também é importante, apesar da minha quase desatenção, porque, por ela, percebo que escrevo sabendo que o mundo existe, e não enclausurada em minhas vãs filosofias. Por ela, vejo as pessoas passarem nos corredores do prédio, quando as cortinas não estão cerradas, feito hoje. A enorme porta de vidro que separa a minha mesa, o meu computador, dela, mostra-me isso.

A de dentro andava largada - eu também sei abandonar! - mas agora dedico meu tempo a ela, ao nada, a mim mesma. Faço varreduras, arejo com sal grosso, perfumo com alfazema, clamo por um poder maior às minhas pequenezes. Escolho as flores que amarei, as músicas que permitirei, evito possíveis invasões. Nela, tenho permissão para controlar os sóis, as luas, as marés e todos os ventos. Nela, tenho permissão, total e absoluta, para impedir a entrada de pés em lama.

O escritor deixou de lembrança a varanda. A minha amiga, Sil Antunes, deixou-me uma frase:

"Em teu mundo, não é qualquer pé que sabe entrar. Nem qualquer alma."


por Suzana Guimarães.




Nota: Crônica originalmente publicada na Revista Mostra Plural (São Paulo).

terça-feira, 15 de julho de 2014

SOBRE O QUE É REALMENTE ETERNO


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Tive uma colega, muitos anos atrás, que me contou algo sobre a sua vida no Japão. Enquanto morou lá, ela fazia agrados, favores ou pequenas ou mesmo grandes gentilezas aos seus vizinhos japoneses. No dia seguinte, o vizinho agradado estava à sua porta segurando com muita honradez uma cumbuca de comida para ela. 

Já escrevi que adoro o livro "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry, mas que tenho birra dele em alguns momentos. O "eternamente responsável" soa bastante ditador e hipócrita. Sou mesmo responsável por toda a eternidade por certos gostares, pelo que conquistei nos corações alheios ou não? Sério? Por quê? Ele só diz isso e não justifica. 

A vida é redonda, as pessoas nem sempre nos gostam despretensiosamente, muitos atos são recebidos por educação de ambas as partes envolvidas e nem sempre "tudo aquilo" foi tão espontâneo assim. Mas, não importa, apesar de qualquer "senão", temos que estar o mais rápido possível diante da casa do outro com uma cumbuca de arroz nas mãos, para ofertar. Hipocrisia? Não. Educação. 

Deixo o "eternamente" para um único caso: se alguém salvar a minha vida - e eu sei como é -, estarei eu eternamente responsável por essa pessoa, de uma forma ou de outra. Porque é bem que só se paga na mesma moeda. Porque é mesmo para sempre. É inesquecível. Porque fica guardado no fundo da memória e dos pulmões. Porque eu só posso pagar com vida.

Se hoje você me dá um beijo, amanhã, retribuo com um abraço ou mesmo outro beijo. Uma cumbuca para cá, outra para lá e está tudo de muito bom tamanho.



Por Suzana Guimarães

domingo, 6 de julho de 2014

FIGURINHAS...

(Figurinhas do Facebook)

Se eu as tivesse, as figurinhas do in box do Facebook, à disposição, em mãos, se fosse possível tê-las, eu as teria aos montes nos bolsos dos casacos, para ir me comunicando assim: cada hora um sinal ou desenho mostrando claramente meus ânimos. Tenho certeza de que a comunicação seria mais fácil. Minha voz e minhas letras já não me servem muito. 

Momento filosófico de enorme grandeza com a Fátima Amaral, in box, claro.


Suzana Guimarães, em 5 de julho de 2014, no Facebook  -  Um retrocesso às cavernas...



domingo, 22 de junho de 2014

Assim, muito feliz ao me ver

(Fotografia gentilmente cedida por Daniela Ferreira)



Assim, muito feliz ao me ver. 

Passava a procissão das rosas e no tapete verde, extenso verde, réstia de luz entre as folhas, entre as moças, entre as pernas que seguiam; mornas, mulatas, maciças... Cálidas pisadas até você, assim, muito feliz ao me ver.

Passou tempestade, furacão, uma manada de efefantes. Passou uma brisa. Um menino e uma bola. E a moça, dona das rosas.

Passou uma cambada de idiotas, uma parva imperatriz, passou o homem que sonhou ser pássaro. Um helicóptero.

Assim, muito feliz ao me ver, passou e ficou você.




Por Suzana Guimarães

quinta-feira, 5 de junho de 2014

By Suzana Guimarães

quarta-feira, 5 de março de 2014

Trecho da apresentação do livro "dOloreS Crônicas" por B. Leonardo


(fotografia de João Ricardo Sousa)


"Será fácil explicar a força dum tornado, a solidez duma gota de chuva? (...) – Talvez que alguns, os uns o possam afirmar que sim, os outros que não e ainda uns quantos nadas, como este, que não explicam, não sabem como explicar nem o pretendem: à escrita, à palavra que se faz vida, morte e ressurreição na sua escrita não se deve procurar pelo entendimento dos comuns… ou não fosse Suzana Guimarães um extraordinário e singular ser que em si já transportou a maternidade, esse princípio e encerrar de mundos, escritos e por escrever. A sua escrita não se explica; arrebata como só o acontece a quem domina as mais límpidas e violentas emoções dentro da mais ínfima das palavras. (...) nas palavras de Suzana Guimarães não existem jogos de espelhos, sombras artificiais, abrigos temporários – instigante e contundente, o tanto-quanto pura e delicada, Suzana Guimarães entrega-nos por este e neste livro que “é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”, a vida, como todos os livros deveriam entregar… (...)". Por Breve Leonardo, em "Dolores Crônicas".

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O MEDO DE SUZANA PARA AQUI, sem data prevista para continuação

 Suzana Guimarães

Publiquei "Dolores Crônicas" e pretendo agora escrever um livro de cartas. Por isso, este espaço para aqui.
  • Agradeço os 3 anos e 9 meses da leitura de vocês!
  • Paz e sucesso em suas vidas!


Suzana Guimarães



P.S.: Estarei presente em "Ana por Ana" e em "Eu disse que gostava de diários?", esporadicamente. Endereços acima, no cabeçalho da página.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

dOloreS CRÔNICAS

(Meu livro)


Meu livro está disponível no www.Amazon.com para e-books ou www.Lulu.com para livros impressos. E também no www.amazon.com.br


Nota: No Amazon.com e no Lulu.com há um retângulo no alto da página. Digita: Dolores Crônicas e clica em GO ou IR. E o livro irá aparecer.
Links diretos:

http://www.lulu.com/shop/suzana-guimar%C3%A3es/dolores-cr%C3%B4nicas/paperback/product-21441581.html

http://www.amazon.com/Dolores-Cr%C3%B4nicas-Portuguese-Edition-Meneghini-ebook/dp/B00ICC4C2K/ref=sr_1_2?ie=UTF8&qid=1392074561&sr=8-2&keywords=dolores+cronicas

http://www.amazon.com.br/s/ref=nb_sb_noss?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&url=search-alias%3Daps&field-keywords=dolores%20cronicas


Para quem não tem o kindle: 

No site do Amazon, onde você compra o livro virtual, também tem um ícone onde se pode baixar um app (aplicativo, software) GRÁTIS para o seu PC, Android, iPhone, iPad etc. Com esse App você pode ler o livro em seu aparelho eletrônico seja ele qual for com a maior facilidade e conforto!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

"Sou todos os cantos em que seu machucado irá bater". Uma das crônicas do meu livro.


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Prometi uma surpresa para fevereiro, é meu livro de crônicas. Setenta crônicas, dentre elas, algumas já postadas nos meus blogs nos últimos três anos, porém, revisadas, e também inéditas. Será um E-book. O idealizador do projeto é Roberto Meneghini. Definimos que ele seria publicado assim que entrasse fevereiro, mas eu inventei de escrever um pouco mais... o que seria cinquenta virou setenta... um número, o sete, que, particularmente, detesto. Aí você pergunta: "Se detesta, por que assim será?". Também não gosto de ler no computador. E também dizia que eu só escreveria em papel e hoje só escrevo no meu laptop. Por que será? Porque a gente vai deixando de lado muitas tolices e vai aprendendo que o importante nem sempre vem rico em detalhes. Então, se ele for publicado em fevereiro, ainda estaremos no mês, não é? E ainda estou cometendo o pecado de revisar eu mesma... Beijo!

Suzana Guimarães

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

HASTA LA VISTA!

Suzana Guimarães (arquivo pessoal)


Vim correndo só para dizer, estarei ausente por todo o mês de janeiro, mas desta vez é por uma boa causa.
Tenho uma novidade para fevereiro.

Hasta la vista!

domingo, 5 de janeiro de 2014

UMA CARTA PARA AÇORES




Long Beach, 4 de janeiro de 2014. 


Querida L.,

Escrevo-lhe para encurtar meus dias que parecem muito longos, uma claridade constante a invadir-me, os sons de um dia eterno, o entardecer que não me alcança...

Assim, neste ato de me virar para você, aí, tão longe, do outro lado de mim, escondida em terras de Portugal, onde o Atlântico parece-me mais convidativo....sei, eu sei, é gelado também, mas o nome soa meu, é minha casa materna, o fundo daquele reino que ficou para sempre, o quintal de todas as fantasias que vi passar por entre minhas pernas finas e meus braços desengonçados. Assim, nesse ato de me virar para você, eu entardeço e anoiteço, fecho-me em portas dobradiças, janelas de onde só se passa luz fina, mínimas frestas... e eu descanso.

Ouço 'Arrival of the birds', penso em você que dorme, não irei assustá-la, posso caminhar sem sons, sou desprovida deles, tenho até um péssimo hábito, o de suspender a minha respiração a todo momento. Seu quarto cheira a mirra, você gosta de cobertas claras, dobradas aos pés da cama e seus gurus cochicham enquanto lhe velam na chama que arde, amarela, hoje, amanhã, rosa... em um rosário sem fim de pedidos e ladainhas.

No cômodo ao lado, sinto cheiro de hortelã, e sei que lá fora há rochedos e silêncio; ruas estreitas que ora se cruzam para depois se estenderem até onde não mais alcança a vista.

Há um varal de roupas brancas, posso vê-lo, posso tocar os lençóis, as longas vestes e suas capas, posso contar para você a história de um guerreiro que pedia à mais bela das moças da vila para lhe besuntar com óleos sagrados, pois ele acreditava nos poderes dela e no poder de um corpo forte e escorregadio, cujos olhos pintados de negro afastavam espíritos malignos imbuídos de fazê-lo perder a batalha.

Posso lhe dizer como esses dedos brancos e finos o tocavam. E posso lhe garantir que ela desenhava nas costas desse guerreiro um mapa. Sempre o mesmo. Incontáveis vezes, tantas, que até hoje pode ser relembrado e desejado, o caminho da volta.

Esqueci de lhe dizer, eu sou a moça dos sonhos, aquela que os vendia por alimentos e você os comprava. E hoje retorno para ratificar um por um, sem ônus, por agora, um único, para você e para ele, meus sonhos tornaram-se de graça porque a fome do mundo não me ganhou, eu sobrevivi a ela, e jurei juntar as mãos que perdi num tempo que ninguém dele se recorda... só eu. Meu único pedido é que vocês sejam mais resistentes que o tempo que nos come.

Eu vim aqui para lhe dizer, principalmente, que meu nome é Recordação e não aquele com o qual me alcunham. E, depois que eu partir, assim que eu dobrar a esquina do seu jardim em labirinto, você se lembrará de um nome, do nome dele. E do seu, que você esqueceu.

A música cessa e junto com ela os sons da casa, todos eles, imbuídos de um poder maior, ancestral, o mesmo que sibilava ao passar pelas roupas expostas nos varais e fazia a gente acreditar que ali iniciava e morria toda a criação.
Mas, não, a criação é obra oculta, de criador que não vende sonhos, apenas tampa-os para que nós, somente nós possamos os desvendar.

Nesses dias intensivamente claros, apresso-me, já que a hora se faz. Há uma morada sem sua dona, eu; há pequenas velas, redondas, acesas, apesar de toda a claridade... preciso recolher-me neste inverno que começou faz tempo. Faz-me falta o interior, o sombrio e o estar completamente só.

Desmontei a árvore de Natal com suas luzinhas, errei a tradicional data, tamanha é a pressa. Comprei tinta nova para os cabelos e um perfume diferente para neutralizar os do passado recente. Ouço outras músicas, enquanto ajeito minha casa para meu retiro, quero, a partir de agora, aprender a gostar do barulho que os ponteiros de um relógio fazem, aquele mínimo que eu tanto detestava, mas que traduz realmente minha vida germinando.

Aguardo suas novas, aguardo seu acordar.

Beijo,

Suzana


Por Suzana Guimarães