quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

SOLIDÃO





Solidão é você carregar a si mesmo, sentindo todo o tempo que nada, nada lhe preenche. E, quando pessoas e momentos tocam esse teu corpo vazio, você chora.


(Por Suzana Guimarães)

sábado, 17 de dezembro de 2011

OLHANDO VOCÊ, LAVEI MEUS OLHOS



(Suzana Guimarães - arquivo pessoal)



Um ano que termina e eu quase me terminei nele. É dezembro! É final de ano, num final de mim, no recolher de flores do varal, ao perceber que uma decepção desorienta, dois desgostos e a certeza das perdas embaralham a mente; no recolher das frustrações, deparo-me com você.

Não sei bem ao certo quando você chegou. Nem sei se chegou. A sensação que me alcança é a de que você esteve sempre por perto, mesmo que distante a milhas... A você, dono dos meus mais belos poemas, do meu riso, dos meus dias felizes, este texto.

Eu dançava com fantasmas, num baile de solidão, e, perdida em minhas distrações, sequer percebi que escrevia para ti. Sim, para você, pousei os dedos no teclado, sem esforço, sem lágrimas - exceto um molhar feliz, agora - , para você, eu compus, teci, remendei, inventei. Por você, eu abracei cordas que me levaram a um infinito sempre azul, azul... virei pássaro, o bastante para fugir das prisões; virei gente, com pele, com vontade, renascida.

Olhando você, lavei meus olhos. Enxerguei. Olhando-o, entendi que a vida pode ser macia, pode ser sussurro, toque leve, mãos em nuvens. Entendi que palavras são na maioria das vezes, descabidas. Entendi que passei a vida fazendo esforço para me explicar e que isso nunca foi preciso. Entendi que eu nadava em mares de confusão. Vivi uma vida onde eu dominava a língua e eu falava, falava e ninguém me entendia... descobri que para me entender, desnecessário é o conhecimento de qualquer idioma, você provou isso. Basta me olhar, sou pouco, tudo se resume na minha face, basta ter olhos para ver, responder antes que eu pergunte, entender que compreender é entender junto, é ser companheiro, é estar com.

Deparo-me com você na curva da estrada, logo após o despenhadeiro, quando as rodas do carro cantam fino, mas você já estava ali, eu apenas não tinha olhos para vê-lo. Eu só tinha dedos, e a ti, escrevia. Hoje, sorrindo, carrego teu cheiro neles, nas pontas dos dedos, nas pontas d`alma.

Meus olhos viam cores no cinza dos outros. Meus olhos enxergavam demais. Eu colori outras vidas e desbotei a minha... Nos teus olhos, lavei os meus. Purifiquei minha alma. Reaprendi a sorrir, a rir, a desmanchar de rir. Reaprendi a respirar. Teu corpo carregou o fardo do meu, aquele que ninguém via, nem eu. Cada toque seu, um descarrilhamento meu, meu passado, esquecido, meu futuro, sem pensar, meu presente, meu hoje, para mim, o fluido que ninguém vê, que escorre de teus poros para os meus, lavando tudo, descarregando, depurando, no milagre do silêncio, a comunhão do nosso bem querer.


Por Suzana Guimarães

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

RECORDAÇÃO DOS PASSOS




A cada passo
Um rasgo
Em eterno deserto

No tempo da maturação
As costuras
Em engasgos secretos

Não sei o que foi pior
Os rasgos
Ou os alinhavos


(Por Suzana Guimarães)