sexta-feira, 15 de abril de 2011

FECHADO

(fotografia, por SCG)
BLOG TEMPORARIAMENTE FECHADO, RETORNANDO À ATIVA EM SETEMBRO DE 2011.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

ENFIM, aconteceu


ilustração, por R. Meneghini

Tempo, senhor traiçoeiro. Travaram luta, ele e minha alma. Ele queria todas as coisas, agenda completa, bem preenchida, caderno de receitas por ordem alfabética, livros enfileirados, roupas guardadas em degradê de cores. Ele queria cochilos imprevistos, beijos e abraços furtivos, locomoção, desvarios logo ao amanhecer. Ele queria palavras, palavras, um punhado de encher as mãos... Ela, a alma, queria silêncio, diálogo de olhos, perfume no ar. Ela queria esperar o dia certo dos acontecimentos, ela insistia em conjugar o verbo esperar, caminhar, e vivia sonhando, tentando alcançar primaveras eternas... ela também sempre ansiou por palavras, principalmente as mais difíceis.

Travaram luta, os dois. Não fiquei para ver o desfecho, parti para outros combates, ocupada demais, deixei que os dois se entendessem. Luta nem sempre é briga, pode ser dança. Que dancem os dois, então!

Mas o tempo, que não traiu minha alma, apenas a provocou, instigando-a a uma boa luta, traiu meu corpo, na estrada, enquanto eu fazia percursos incompletos, por puro medo dele, dele me alcançar; por isso, o incompleto.

Farei um caminho, o meu caminho, e sequer passarei pela Espanha. A minha rota é certa, longa e demorada. Não sei como estará ele, o tempo, nem minha alma (dela, ando me escondendo), mas com certeza, levarei no coração outros corações, pulmões, dedos em teclados, mãos. Levarei os toques que me deram, os enfeites nos cabelos, os presentes.

Meu caminho tem bilhete de ida e volta e com certeza haverá paradas para um café, ralo, sempre ralo, um pouco de pão, copos d'águas, a troca de nossos risos e até das mágoas.

Em cada parada, deixarei um pouco de mim, pois assim devemos ser, descascados, descascando, passando e deixando, pelo menos, pelo menos, um perfume ainda não inventado, algumas cartas, bilhetes, flores em ramalhetes.
                                                                                  
                                                                          Suzana Guimarães



Nota: mesma publicação, na mesma data, em Contos de Lily.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

em segredo

(fotografia, por SCG)

Você chegou num dia vermelho, vermelho da china. Você chegou num hiato, entre um dourado e um pardo. Eu não notei, a princípio, vivia confusa, esbranquiçada, amarga, frustrada...



Nunca me viu, nunca me ouviu, não sabe ao certo o tom da minha pele. Não sabe se sou mesmo de verdade ou uma simples e estudada farsa.


Pouco sabe de mim, mas cuida da minha alma. Você a alcançou num dos teus giros, e eu pergunto "como"?


Tolas, tolas perguntas fazemos. Perdemo-nos em perguntas. O que importam?


Tenho em mãos, o amarelo e branco das margaridas que você me ofereceu. Veste em véu azul do céu que me ofereceu para descanso. Capim cheiroso, pisado de leve, para refrescar dos pesadelos. Algodão em flor para que eu me mova e enxugue as lágrimas.


Tuas mãos, eu nunca toquei, mas flexiono-me para ti, em respeito. Sinta-o.

                                 
                                 por Suzana Guimarães