quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Já que é dezembro...


Suzana Guimarães, por Hilário


Eu a via sempre, parecia paga para uma eterna propaganda de pasta de dente. Sim, pasta de dente, assim a gente falava, "rímel, laquê, japona", uma lista enorme de palavras que foram expulsas de nossas bocas e do mundo porque decidiram chamar roxo de berinjela e bege de nude. Mas, voltando, eu parei de gostar dela porque ela ri demais e eu me cansei dela. Não, ela não ri demais, eu sei o que é rir demais. Ela força sorriso e ele fica plástico. 

Eu gostaria de fazer minhas últimas críticas, posso? Ando com mania de lista e aproveitarei para fazer a última deste ano, assim espero. 

Faço fofoca quando quero, quando a tampa explodiu porque a comida dentro da lata apodreceu. 

Gostei de alguns livros do Paulo Coelho, gostei mesmo, Na margem do rio Pietra, eu sentei e chorei, por exemplo. E daí? Você critica, por quê? Detesto Cazuza, mas se você gosta, respeitarei. Aprecio a estabilidade do Silvio Santos, sempre o mesmo modelo de terno e o microfone no mesmo lugar, fixado na gravata. Um apresentador de televisão educado que ouve seus convidados. 

Às vezes, penso em morder meus colegas de jiu jitsu, quando é para o pau quebrar. Depois, levanto-me do chão toda sorriso e grata, faço reverência, agradeço.  

Perdendo seu tempo para dizer do que não gosta, todo santo dia, ou de três em três? Cansa. Fecha a casa, quebra o computador, queima os livros e revistas, vai morar no Afeganistão, procura uma toca, uma gruta, e esquece a eletricidade. 

Eu adorava ler, aos treze anos, "Sabrina, Júlia e Bianca". Assustados? Também li os russos e o prazer era o mesmo, outra idade, outra época, mas, tudo, leitura. Detesto gente que caça perfeição e coisa boa o dia todo. Deixa de ser otário. Isso não existe, feito você, que só é perfeito em sua cabeça insana. Há mais normais nos consultórios psiquiátricos que doentes. Eles vão lá para conseguir conviver com os doidos. 

Falo palavrão, não falava, agora, sai mais vezes da minha boca do que eu queria. Nem por isso perdi a pose, a elegância, sou chique, se você não me conhece, fica então sabendo. 

Empáfia em criança... penso rapidamente em reformatório, para os pais. Empáfia em adultos, há várias maneiras de evitar o contato, não se obrigue ao convívio, melhor que a falsidade visível. 

Não gosto do Roberto Carlos, mas há certas músicas que admiro e eu separo o artista da pessoa quantas vezes eu quiser, só me faltava ter arrancado de mim o direito ao gosto, num mundo onde muitos fizeram e fazem a questão de me criticar por qualquer coisa, e num mundo hipócrita, onde as pessoas se tratam por "queridas", "amigas de infância", e dão risinhos bobos, querendo, na realidade, estrangular. Prefiro a mim quando penso em morder meus colegas. Prefiro gente que anda de cara feia pelas ruas afora. Eu ando assim, bem emburrada, e não demonstro o menor sinal de que vou mudar. Faço cara boa quando a ocasião pede, convida-me. 

Estou tão cansada de gente que comecei a ficar surda para o Português também, já não ando ouvindo bem em língua alguma. 

Se eu pegar meu celular numa reunião, numa festa ou num Café, peça licença e se vá, pois eu já nem sei mais de você. Ou, me dá uns minutos, e tenha certeza, irei embora para nunca mais. Mas, se eu nem me lembrar do telefone - algo que detesto, você será rei, rainha, olharei você nos olhos, sorrirei, lhe darei um mundo melhor que um parque de diversão. 

Quando eu chorar, quando eu perder, tenha certeza, estarei esperando de você, no mínimo, um parco uso de gentilezas. Se você não pode me dá-las, não fica me pedindo coisas, favores, lembra-se de algo chamado reciprocidade, se você não sabe o que é, é dar para poder receber. Estou sempre de olho em mim e nas pessoas, por mais tonta que eu possa parecer.  

Adoro diplomacias, embora insista no desejo de morder. Sorria, seja feliz, porém, por amor da realidade humana, não se torne o Curinga, que, de tanto rir, virou monstro, e isso lembra-me as hienas histéricas, elas até passam, pois são quadrúpedes; em humanos, fica péssimo.



Por Suzana Guimarães