sábado, 28 de dezembro de 2013

CARTAS DE DEZEMBRO - a sexta



(arquivo pessoal de SCG)



Los Angeles, 28 de dezembro de 2013.



Querida E.,

Recebi poucas notícias de você nos últimos dois anos, mas algumas 'ladybuggies' e algumas fotografias que a mim chegaram avisaram a constância dos ventos bons ao seu encontro.

A primeira delas foi acompanhar sua barriga crescendo, criando um ser humano, uma pessoa muito linda, com nome de rainha. E, só isso já bastava! Quem com crianças anda, jamais envelhece. Andam por aí, à procura da juventude eterna, mas, poucos sabem que só as crianças podem isso transmitir. Aquele que se afasta delas cheira a pó antisséptico, minha irmã diria, cheiro de velho chato. 

Quem anda com crianças ao lado cheira a rosas, assim se foi minha avó, que deixou um guarda-roupa que assemelhava-se a um roseiral. Algo que ninguém nunca entendeu, apesar das filhas e netas terem vasculhado-o à procura do talco especial ou do sachê jamais descoberto.

Sei também que, quem estava longe, voltou. Cabe a você aceitar ou não, é o seu direito. Talvez esse alguém tenha vindo no cheiro da criança, da notícia da boa nova. Isso me alegra, saiba. Deixa os ventos sagrados cumprirem sua missão. Deixa o tempo tomar sua própria direção...

Só há um jeito de ser feliz, aprendi com a minha mãe, venho aprendendo com o meu filho de apenas 13 anos... algo muito difícil para mim e penso que para muitos, para ser feliz é preciso estar de todo livre, e, para estar de todo livre, é preciso ter os braços soltos, a mente vazia à espera do novo e a certeza de que no fundo, no fundo, não há gente perfeita. O que eles fazem, minha mãe e meu filho? Eles seguem as suas vidas, sofrendo também, mas bastante indiferentes a tudo o que lhes incomoda, parecem estar sempre deslizando por entre plumas, nuvens, em um riacho de águas doces...

Eu não a esqueci, apesar de que aquela Suzana vestiu-se e despiu-se de muitas ao longo do tempo. Feito um vendaval, fui desbravando as matas escuras da hipocrisia humana, soltando-me de amarras inúteis e infrutíferas. Parei de pedir por atenção. Nasceu em mim, um olhar novo, eu mesma me vendo e isso me bastou, basta-me.

Você será sempre o toque leve, a palavra pouca, mas suficente, um encontro que não precisa correr para dar certo.

Desejo-lhe um feliz ano novo, ao lado da sua princesa com nome de rainha, ao lado do homem belo que lhe acompanha.


Beijinho na testa,

Com carinho,


Suzana



Por Suzana Guimarães