terça-feira, 15 de julho de 2014

SOBRE O QUE É REALMENTE ETERNO


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Tive uma colega, muitos anos atrás, que me contou algo sobre a sua vida no Japão. Enquanto morou lá, ela fazia agrados, favores ou pequenas ou mesmo grandes gentilezas aos seus vizinhos japoneses. No dia seguinte, o vizinho agradado estava à sua porta segurando com muita honradez uma cumbuca de comida para ela. 

Já escrevi que adoro o livro "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry, mas que tenho birra dele em alguns momentos. O "eternamente responsável" soa bastante ditador e hipócrita. Sou mesmo responsável por toda a eternidade por certos gostares, pelo que conquistei nos corações alheios ou não? Sério? Por quê? Ele só diz isso e não justifica. 

A vida é redonda, as pessoas nem sempre nos gostam despretensiosamente, muitos atos são recebidos por educação de ambas as partes envolvidas e nem sempre "tudo aquilo" foi tão espontâneo assim. Mas, não importa, apesar de qualquer "senão", temos que estar o mais rápido possível diante da casa do outro com uma cumbuca de arroz nas mãos, para ofertar. Hipocrisia? Não. Educação. 

Deixo o "eternamente" para um único caso: se alguém salvar a minha vida - e eu sei como é -, estarei eu eternamente responsável por essa pessoa, de uma forma ou de outra. Porque é bem que só se paga na mesma moeda. Porque é mesmo para sempre. É inesquecível. Porque fica guardado no fundo da memória e dos pulmões. Porque eu só posso pagar com vida.

Se hoje você me dá um beijo, amanhã, retribuo com um abraço ou mesmo outro beijo. Uma cumbuca para cá, outra para lá e está tudo de muito bom tamanho.



Por Suzana Guimarães