domingo, 8 de agosto de 2010

LÁ, ONDE O RIO É COLORADO AZUL E TUMBLEWEED NASCE, VIVE E MORRE. DEPOIS, VOA NO VENTO.

fotografia, por SCG
                                                           

Na terra seca, meus olhos ardiam. Na terra seca, eles abrasavam porque o calor atravessava meu corpo e violentava minhas texturas mais íntimas. Eu porém não me sentia seca, estava úmida de lembranças. Na terra seca, eu me reencontrei. Percebi que muitas vezes sou ardor insuportável. Talvez eu arda inúmeras vezes sem necessidade, mas na terra do bafo quente onde qualquer vivente respira, tudo é esperado e normal. Talvez, isso seja muito apreciado por lá, pois vi sorrisos aguados. 

Vi tanta areia e elas andavam por dentro da minha barriga, devagarinho... rolavam, giravam, passeavam e desciam involuntárias. Meus pensamentos faziam o mesmo movimento, ou eram eles que moviam as areias? 

O que eu via da janela do carro era somente aridez, mas quando desci desse carro, senti um bafo tão quente, não do Sol, mas do próprio ar, uma outra forma de vida que eu deconhecia. Descobri que pouco sei de muita coisa. No meio da aridez, um rio azul cobalto, colorado, que meus olhos jamais haviam visto e eu podido imaginar. As lembranças ainda subiam e desciam em mim, faziam contrações feito as árvores retorcidas de calor, enquanto eu admirava a terra desolada, onde certo arbusto, o "tumbleweed", se contorce e se arranca do chão por quase nada, um fio fino que o segura, depois rola, rola e você pensa ver bola voando no balé dos ventos. Mas é apenas mato, nasce mato, depois seca, depois morre e mesmo morto ainda voa. Toda noite voa sem rumo. Desci do carro e entrei no rio. Eu que nunca havia mergulhado em águas tão doces, tão naturais... tudo, entretanto, antagônico, numa terra tão dura e quente, água tão leve e congelante... senti o quanto meu corpo estava pesado... mas eu forcei e imergi para sumir com toda aquela areia que remexia no ventre, para sumir com as contrações e com a brasa nos olhos. As águas revelaram-me meu corpo seco, quente, urgente, exigente que mal afundou. Descobri nessas águas, que muitas vezes, querendo ou não, fui e ainda sou passível de ser igual àqueles arbustos, mato que cresce em qualquer canto que haja um pouco de vida. Percebi que mesmo com pouco ar, mesmo morto, mesmo ardendo em brasa, mesmo tudo tão árido, tudo é vida. Mas nunca a mesma vida. Eu, tão igual àquele mato que espirra sementes aos ventos. Depois de seca, contorcida, se arranca do chão por quase nada, presa por muito pouco, e depois rola, rola, rola no vento... e joga sementes também aos ventos, esperando sempre feito aquela gente que espera por hábito de sempre esperar. 

Saí daquelas águas, perplexa. Saí purificada. O rio azul levou aquela sensação estranha de que é ruim ser bem pouco.

À noite, choveu após longo tempo seco. E eu me refiz naquele movimento cíclico da vida, que, por vezes é feito também de pouco, bem pouco.


                                               Suzana Guimarães

9 comentários:

  1. Ei Su!
    Se sinto um pouco assim quando me deixo mergulhar
    no mar de Pasargada quase todos os dias.
    A sensação de que a agua leva da gente
    o que tem que ser levado,
    deixando o espaço pra novas vivências,
    que do que os Seres com o nós
    precisam:espaço pras novas vivências.
    Temos um paego estranho
    com o que ja foi...
    sabe aquela brusa que nunc amas vamos usar?
    ou aquele pingente que nos foi dado por alguem que nos magoou?
    Tenho xatamente um assim...oljho pra ele e penso:Ele ja foi,agora vc vai....mas dai começo a dialigar com ele:Vc é tão lindo...
    e guardo novamente no saquinho de veludo e log
    estarei usando como se
    nada tivesse tido vontade.
    As vivencias são assim...ocupam espaço
    e a agua parece que leva.Mas sabemso que não é a agua...somos nós mesmas que precisamos
    seguir adiante...
    Bom ler vc assim numa segunda feria antes de ir pra aerobica na orla de Pasargada...
    Adorei essa final:
    "
    E eu me refiz naquele movimento cíclico da vida, que, por vezes é feito também de pouco, bem pouco."

    Linda semana pra nós
    Bjins entre sonhos e delírios

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  2. Lindo, lindoooooo Suzana!!!
    Sair purificada, renovada, até mesmo renascida.

    A gente precisa de tão pouco, mas tão pouco pra isso..

    Beijoooooooo!

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  3. Ei menina...
    Que nunca percamos de vista este pouco que é muito.
    E se um dia ele se afastar muito, que saibamos desbravar mundos para reencontrá-lo.

    Bjus energizantes e uma brisa leve pra desarrumar seus cabelos e fazê-la ter certeza que a vida acontece mesmo quando não queremos ou desejamos.

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  4. Tempestuosa, devassa e destruidora, porem leve, muito leve pluma ou esponja que deixa-nos a flutuar.
    PS: Atravéz de Observando e Absorvendo estou aqui, gostei, muito bom.
    Abraço

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  5. Suzana/Lily, só agorinha li seus recados, tive um dia cheio e daqui a pouco terei que ir à escola (ufa!)...Mas antes de ir n/poderia de dizer-te que bom que voltou, ia deixar um recado dizendo que o batom precisava ser retocado, bom, não precisa mais!
    E esse rio azul? Manda suas águas para os rios que cortam minha cidade, são vários, várias pontes, mas todos marrons; manda esse azul do seu rio para colorir essas águas... Deixo-te uma música que é sobre um rio, talvez o seu, os meus: "Ouve o barulho do rio, meu filho/deixa esse som te embalar/as folhas que caem no rio, meu filho/terminam nas águas do mar/quando amanhã por acaso faltar/uma alegria no seu coração/lembra do som dessas águas de lá/faz desse rio a sua oração/lembra, meu filho, passou, passará/essa certeza, a ciência nos dá/que vai chover qdo o sol se cansar/para que flores não faltem/para que flores não faltem jamais'. (Marisa Monte)
    Beijo e muita paz!

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  6. Adoro uma música que diz assim...

    É pouca a água
    E muita a sede
    Uma represa, um apartheid
    A vida seca, os olhos úmidos

    GK

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  7. Passando pra deixar
    um bom dia de terça pra vc, pra dizer que te espero pra ler esse meu poema
    e pra deixar
    bjins entre sonhos e delírios

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  8. BOM DIA MINHA QUERIDA CARRAPATA!!KK
    Passei meio que atrazado pra agradecer sua visita, mas como bem seu texto narra, não precimaos de muito para mostrarmos que, as vezes poucos, mas muitas das vezes, uma muita Grande amizade que ganhamos, faz com que essse amigo perdoe o atrazo...
    Por isso estou aki, mesmo atrzado, mas como um grande amigo, fiel e carrapato tbm, pois sabes que não te largo e não te esqueço, linda amiga..
    Um dia assim!!!

    Mais do que lindo, cheinho de muita Paz e Amor em seu coração..

    Bjs do Carrapatão

    marcio RJ

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  9. Crônica belíssima.
    O renascer, alvorecer....viver.
    Cheguei aqui através do blog do Lu Cidreira e curti muito.
    Bjs.

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