sábado, 30 de maio de 2015

SOBRE O MEU PAÍS



Todas as coisas trouxeram-me até aqui, todos os fatos isolados e a conjunção deles. Eu tinha um armário lotado de casacos de inverno e não entendia para quê. Os fios de água alcançam rios que alcançam mares e ninguém presta muita atenção, mais ou menos assim foi se formando o meu caminho. Quando tudo mudou, eu nada vi, apenas ia, em frente, sem pensar muito. Cedo me disseram que tudo aquilo que precisa de muita reza para dar certo não presta. Nem houve reza! Tudo está em seu devido lugar e eu gosto de tudo do jeito que está. Contudo, aquele país verde, gigante, morno, de calçadas esburacadas, aquele país que joga na minha cara seu bafo quente assim que piso o chão do aeroporto de Belo Horizonte - ou que seja o chão de São Paulo -, e lança em mim seu cheiro inigualável, aquele país parece gritar, chamando-me, porque um ano passa, dois anos, não, agarra tudo na saudade. Eu amo a minha gente porque é minha, sou eu, e eu a entendo via poros, brilho nos olhos, e eu posso amá-la e odiá-la. Todas as coisas trouxeram-me até aqui e deixaram envelope selado e endereçado, para retorno.

Suzana Guimarães