terça-feira, 5 de novembro de 2013

SOBRE JULGAMENTOS


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)

Conheci muitos homens homossexuais nem um pouco 'frescos' e muitos homens heterossexuais que resumem bem a expressão "isso é coisa de viado!'. Pouco me importa a opção sexual, eu já escrevi sobre isso, mas me incomoda homens gazelas e mulheres que se fantasiam de homens. A visão dessa imagem 'distorcida' da realidade, eu finjo que nem vejo, para não julgar e também não levar a vida dos outros para dentro da minha. 

Porém, imagino alguém lendo isso que escrevo, sentado numa poltrona, um homem de batom e vestido ou uma mulher de terno e chapéu, igual a uma que vi outro dia, atendente numa loja de instrumentos musicais. Imagino esse alguém triste, por um segundo que seja, pela total falta de compreensão ou tentativa de compreender um gosto, um delírio, ou mesmo um desajuste consciente, contudo, sem cura.

Daí, eu desisto dessa tentativa boba de opinar sobre a ' fauna' humana, há cores e espaço para todos, menos para a minha hipocrisia. Só posso mesmo dizer de mau ou bom gosto, ou, preferencialmente ficar calada.

Ando pensando nas pessoas suficientes, nas insuficientes e nas que aparentam ser uma das duas, mas só aparentam. O externo é lugar onde todo mundo passa, por isso é onde não costumo me ater, prefiro a caça ao interno. Ando pensando em tudo o que realmente me incomoda e me vejo sempre parada e triste diante de fatos onde é visível uma vontade oculta e perversa de atingir, entristecer, dar uma cutucada, no âmbito social ou familiar. 

Provocar as carolas ou as putas, dá na mesma. 

Ah, como adoro uma cutucada! Mas, além de só o fazer após ser provocada, até isso ando dispensando, só mesmo quando beira a água na borda do copo e eu me dou ao direito de ser incorreta. Inclusive, para isso, temos que nos dar chance: a de estarmos inteiramente inadequados, fora das aceitações. Permito-me agora a ofensa interna, silenciosa, só minha, que antes, eu, tão ética, não me permitia, como por exemplo, dizer 'sua vaca', 'seu viado', sorrindo.

Se você diz que estou julgando alguém, você também está julgando, a mim, então, estamos quites, um não é melhor que o outro. O que sabemos sobre o outro? Muito pouco. Apenas o que ele deixa revelar em partes. Mas, temos mania de toga, mesmo na hipocrisia de dizer não usá-la. Deixemos os julgados e os em julgamento para as Cortes, para os Tribunais, para os homens das Leis, nos casos de crimes assim entendidos como crime e não como preconceito ou implicância barata. E para Deus.


Por Suzana Guimarães