sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"If you can not see my mirrors, I can not see you too."

Arquivo pessoal de Suzana Guimarães


Estou a fim de escrever, ou longas cartas, doces poemas ou algumas crônicas provocativas... mas, melhor, muito melhor, está sendo eu dormir, comer, ouvir música, fazer compras, estar com meus filhos, ir para a academia, rir do nada, rir por tudo, esquecer, curar minhas feridas, ignorar.

Li na traseira de um caminhão, hoje, mais cedo: "If you can not see my mirrors, I can not see you too."


Lembrei-me de um admirador que, meses atrás, quis conhecer-me pessoalmente. Ele admirava meus textos, meu jeito de ser, meus espelhos, bom, ele dizia isso... Um outro quis conhecer a fantasia, a Lily, pois, a pessoa, ele conheceu há muitos anos. 

Se não abrirmos a porta, não deixamos o outro ver. Mas, ele pode estar querendo ver apenas o que lhe convém... e aí perde a oportunidade de verdadeiramente enxergar quem abriu a porta.

Para minha surpresa, queriam estar comigo, porém, vieram com aviso pendurado no peito, quase em letras garrafais: Você tem unhas esmaltadas, não gosto. Você usa joias, não gosto. Usa perfume francês, não gosto. Veste-se para ir a um bar como se fosse a uma festa, detesto! Suas sobrancelhas são pintadas? 

E eu pensei, na hora, em pelos pubianos. 

A incongruência de muitos salta aos olhos. Eu não havia marcado um encontro sexual, eu não estava à venda, eu não sou mercadoria. 

Meus gostos, meus pelos, meus textos... tudo cabe em mim e, se em mim, nascem, em mim, morrem. Não preciso de extensão alguma. 

Há uma festa presente, e eu estou nela todos os dias, salvo no escuro do luto e nele venho estando já há algum tempo. Luto na alma e corpo. Contudo, a festa permanece, mesmo nas pausas. 

"Se você não pode ver meus espelhos, eu não posso ver você também." Tradução para a frase que chamou a minha atenção. 

Sim, e isso se chama congruência, feito a fluência de um rio que corre para o mar, feito a fluência do meu querer para as coisas e pessoas interessantes, feito eu para mim mesma.

Estou a fim de escrever, mas decidi deixar uma força maior escrever por mim, ela usa pessoas nas ruas, bocas alheias, um punhado de detalhes que ninguém vê. Ela escreve coisas novas, cochicha aos meus ouvidos, diz que irá me fazer sorrir.


Por Suzana Guimarães