segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

PRAZER, SOU FERNANDA

 
Fernanda Soares Clemente - arquivo pessoal
 
 
Num passado mais que perfeito, busquei a perfeição do amor e da felicidade como se pintasse óleo sobre tela, lesse Neruda ou caminhasse com Yung por calçadas suíças, interpretando sonhos e escarafunchando mentes humanas. Mesmo que entre passadas irregulares, faltava pouco para os melhores desfechos. No fim, o entendimento, o suspiro da última página e o quadro num museu de Arte. Hoje, tudo folha em branco, com poucos dizeres:
 
Sou mulher, sou Fernanda, não sou menina, não faço birra, dispenso a pose de moça, sou aquela que ousa. Alcancei a capacidade de enrolar-me e desenrolar-me em tramas alheias, na medida do meu querer.
 
Não creio em tudo o que me dizem, apenas no que constato. Não faço bicos, não monto olhares, não treino máscaras diante do espelho, não enlouqueço as pessoas... eu corro, eu corro muito, tenho crias, tenho tristezas, mas não tenho tempo para confinamentos, minha alma é poeta, mas posso ser seca, direta, mais fácil assim, não sou fantasia, não sou miragem de deserto, não tolero promessas vãs, não suporto amor forçado, não me atenho às falsas lágrimas. Sou concreta, mulher em carne e osso, não sou o sonho dos tolos homens Ken, sou morena, sou Fernanda, meus cabelos são escuros como a madrugada, meus olhos, você não penetra, é preciso me buscar além, no toque, na verdadeira conquista, sou a expectativa de um homem de braços fortes, valente, que conta histórias de guerreiros, para eu nunca me esquecer de onde vim.
 
Blefo, se eu quiser, ah, e nunca quero. Tolice! Sou gente, tenho o corpo fechado para o mal, aberto para a vida, mesmo que eu chore, mesmo que eu me acabrunhe, amanhã, estarei melhor.
 
Não abro portas que não poderei sustentar abertas. Não sei o canto da sereia. Minhas crias me amam, minha mãe me ama, meu passado me libera, nada mais sei de descartáveis quimeras.
 
A coroa de rainha, eu mesma ajustei em minha cabeça, e ela é de safira e eu sou Fernanda, e completo, hoje, 40 anos, então, não me diga o que fazer, para onde ir, como estou, pois eu simplesmente sou.
 
A perfeição do amor e da felicidade, rabisquei outro dia num papel de pão, ela existe num frágil ponto, entre o sim e o não, entre o último riso que dei e aquele que sonhei que poderia dar, entre nãos e vãos... nada importa, a partir de hoje, sou apenas a confissão muda de uma mulher de 40, que nada precisa explicar e entender, apenas respirar e viver.
 
Por Suzana Guimarães.