segunda-feira, 7 de novembro de 2011

NAQUILO EM QUE NÃO PUDE SER, FUI APRENDIZ


fotografia de SCG - arquivo pessoal



Como é que alguém pode ser quase? Acredito em quase beijo, quase abraço, quase fim, quase tropeço, mas em quase pessoa, quase gente ou quase qualquer coisa que seja (do verbo ser), eu não creio e não aceito . Pois eu só sei ser. Eu sou. Eu sou mulher, sou brasileira, sou mãe, sou esposa, sou advogada, sou artista de nascença.

Em minha plenitude, vago nos mundos que quero e sou livre.

Andam confundindo literatura - pois estou escrevendo poemas, contos, cartas e crônicas - com a minha vida pessoal. Esmiuçam-me, caçam em minhas letras minha essência. Fiz a graça de criar dois Blogs. Em O Medo de Suzana, escrevo verdades; em Contos de Lily, ficção. E quem é que acredita nisso? Quem é que acredita que consigo separar esses dois mundos?

Se confundo, perdoem-me, mas eu nunca me vi como esclarecedora de coisa alguma. Sou sim, questionadora. Questiono tua alma, questiono teu querer, tuas verdades e mentiras. Questiono você inteiro, mesmo sem nunca ter visto o brilho dos teus olhos. Artistas de nascença ganham o dom. Há em mim uma janela de frente para o universo e por ela vejo muito além do que meus olhos me permitem.

Nesse meu mundo que ganhei e que criei para mim, posso escrever sobre dor, sobre sexo, amor, flor, risos, festas e também sobre a merda do cachorro na calçada. Escrevo sentimentos, sensações, e muito mais que os cinco sentidos juntos.

Mas há quem confunda a minha arte de escrever comigo mesma. E, se carrego dor na alma ou não, isso é problema meu. Claro, claro que carrego, eu sou plena, não sou quase. Sou um ser completo. Guardo mágoas, sim. Guardo dor. Guardo o que bem entender. Guardo vitórias e muitas. Ganhei da morte várias vezes, tenho dois filhos, na realidade tive quatro, perdi dois dentro da barriga, mas foram os meus filhos, pouco importando nome e sexo. Recomecei minha vida após os 40 anos. Sou plena. O corpo já não mais acompanha tão bem quanto antes o espírito, mas as horas em cima de um tatame ajeitam músculos e peles, e, principalmente, mente, no topo. Muitas vezes, entro na academia arrastando-me feito lagartixa, mas saio sempre de lá, uma águia.

Ah, uso a literatura também para xingar. E, naquilo em que não pude ser, fui aprendiz.


                                            por Suzana Guimarães