quarta-feira, 23 de novembro de 2011

DOS HOMENS QUE GOSTO



(Suzana Guimarães - arquivo pessoal)



Eu gosto dos homens de sorriso fácil, cujos olhos são sérios. Eu gosto dos homens que não me levam muito a sério, dos homens que se divertem com meu riso solto, minhas gargalhadas sem licença. Eu gosto dos homens que gostam de mim, que me entendem de forma fácil, mesmo que nada compreendam. Gosto dos homens que acreditam em certezas, mesmo que tenham dúvidas, mesmo que o tempo se feche, gosto dos homens que se entregam e dos que não me encostam na parede, são eles próprios a parede, onde posso deslizar feito pluma ou pesar feito chumbo. Não gosto de homens que gritam 'ai', prefiro a palavra feia. Não gosto de homens que não gostam de espelhos, principalmente os da alma. Gosto de homens com cheiro bom ou mesmo com cheiro nenhum. Gosto de homens que sabem abrir a garrafa de vinho, despejá-lo na taça, que saibam abrir um sutiã. Gosto de homens cavalheiros, gosto daqueles que acompanham, que fazem graça, só para ouvir meu riso ou meu xingo, que carregam sacolas, que dizem 'sim', que esperam pelo meu passo calmo na calçada; e dos que não se esforçam para abrir portas, gosto dos que não comparam sentimentos. Gosto de homens com respostas curtas, incansável bom humor, poucas promessas, mas valentes, fortes, despojados, senhores de si mesmos. Gosto dos homens que fazem cafuné. Gosto de homens educados, mas não gosto de príncipes, não gosto dos homens enciclopédia, e nem dos que fumam, dos que não praticam esporte, dos que falam alto, dos que acordam falantes, dos que não sabem apreciar o nada, dos que não aparam a barba. Gosto de homens que não pegam na minha nuca e dos que não beijam minhas mãos. Gosto de homens que esperam a hora e a minha hora. Gosto de homens que procuram compreender o que é sangrar e parir. Gosto de homens que elogiam minha pele despida. Gosto dos homens que entendem meu falatório barato e meus profundos silêncios. Gosto dos homens que não me deixam ranzinza, que me distraem e dos que gostam de aprender e de ensinar. Gosto dos homens com palavras doces, dos calmos, mas que sabem bater na cara de qualquer safado. Eu gosto dos homens que me fazem rir.


Por Suzana Guimarães