segunda-feira, 26 de setembro de 2011

SILÊNCIO VENTOSO

(fotografia, por SCG)


Não sei bem se tu és porto, se tu és alegre

Não sei se tu és cinza...

Pouco vi

Quarenta e poucas horas

Quarenta ruas

Quarenta pessoas

Quarenta palavras

E mais nada.


Não, não! Havia um silêncio ventoso...

chegou em mim já no aeroporto

Eu poderia pegá-lo, de tão presente

Eu poderia materializá-lo, de tão irreal.

Algo que alcançou além da carne, no osso.


Um vento fino e frio, distante

vinha com ele

subia pelas bainhas do vestido

alcançava minhas pernas.


Lá no alto, ao chegar à sacada

Bateu macio em meu rosto

silêncio ventoso...


Perseguiu-me pelas ruas, no encalce de minhas palavras

Mudas!

Na casa do poeta famoso instalou-se de vez: eternizou-se.


E se fez desnecessário o riso das moças, o zunir das crianças invisíveis, o bater dos martelos...

Nem era preciso esforço

Silêncio ventoso...


Não sei bem se tu és porto, se tu és alegre

Não sei se tu és cinza...


Só sei que tu me deixaste assim que os céus desceram arrastados
quase alcançando as aves de metal, os terraços alagados...


Tu me deixaste?


Não, não. Tu nunca me possuíste, eu apenas passava...


(Por Suzana Guimarães)


Poema dedicado à cidade de Porto Alegre/RS/Brasil