segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Sobre intolerância e os jacus (que me perdoem os pássaros)...

(desenho, por Hilário)


Tenho opiniões bem formadas sobre vários assuntos, mas eu as guardo para mim; no máximo, talvez, saibam delas meu marido, minha mãe e filhos. Ninguém mais. Triste ver a imagem da atleta com traje de competição de seu país passando pelas redes sociais - a moça toda vestida jogando vôlei de praia contra a outra, de bíquini -, e mais triste ainda ler alguns comentários. Ela é uma atleta e está no Brasil para competir. Poderiam falar apenas do desempenho dela, seria melhor.


Talvez, não sei, assim como eu, ela comenta, entre seus íntimos, sobre as mulheres de fio-dental nas praias cariocas... A partir do momento em que a minha liberdade não está sendo ofendida e nem a do outro, tudo é aceitável e é o ideal. Tolerância ao que nos é diferente é sadio. O resto é falta do que fazer. Melhor a pilha de pratos para lavar. Nada contra, também. Albert Einstein, pelo que já li, gostava de lavar a louça suja na pia para liberar a mente.

Difícil, eu acredito, é estar diante dessas mulheres, frente a frente, sendo colegas de trabalho ou de escola, ou vizinhas, e recitar estes discursos hipócritas e preconceituosos na cara delas. Tenho colegas na faculdade vestidas com seus mantos e eu as olho e tudo o que eu quero e faço é apenas retribuir aos cumprimentos sinceros, sorrir também, trocar informações, fazer os trabalhos, enfim, estar diante delas como estaria diante de outra vestida igual a mim. Eu não quero me intrometer naquilo que não é da minha conta! Engraçado, diante delas, não vejo nada demais porque o que elas me transmitem é segurança em suas próprias vidas; boa ou má, vida é vida, é algo inconstante, hoje está ótimo, amanhã, péssimo e ninguém desse jogo escapa.

A impressão que ficou em mim é que, para muitos, no Brasil, é a primeira vez que veem algo assim, feito os "jacus" (que me perdoem os pássaros!), que na minha terra significa gente que nunca passou dos limites do quintal de sua casa e de nada sabe, nada viu, nunca viu e quando vê, olha perplexa. Pelo menos, que eu saiba, até esses guardam para si seus "sustos". Melhor do que sair por aí, escrevendo asneiras.


Suzana Guimarães