quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Eu preciso de apenas um para me carregar no colo, dez mil não me carregaria​m.

Fotografia, por Suzana Guimarães


Ele diz que ora sou T'pol, ora Rainha Branca. Não importa, só sei que ele me ama. Ele diz que há um molhado eterno em meus olhos, ele se preocupa, mas é brilho... Ele sabe de mim, mas ele é único. Sou desenho abstrato demais e ninguém quer me ler. Ele, não, com desembaraço, ele para o olhar, fixa em mim, respira-me e entende o desenho: um rosto, ou dois. Uma ave ou o perfil de um homem. Uma velha ou um chapéu. Ele relaxa o suficiente e me vê, sem esforço, ele nasceu assim, ele nasceu assim para ser assim, meu! E eu dele.

Eu poderia chorar por todos que não quiseram me entender, eu poderia me deixar prostrar, porém, não preciso de muito, quem carrega muito nunca tem braços suficientes, nunca tem condução adequada, nunca está pronto, está sempre fazendo ou por fazer.

Eu não irei chorar porque concordo com o Nelson*, "toda unanimidade é burra". Dez mil me detestaram, um, amou. Há ímpares que bastam, dispensam pares, somos assim. Nem somos par, somos extensão um do outro, continuação da obra do artista, ora eu represento a terra, ora ele representa o céu e vice-versa. Não há nada para acrescentar ou melhorar, é o que é e ponto. Ele diz que opiniões alheias, ele dispensa, tem as próprias, o gostar dele independe de qualquer outro. Com certeza, ele manda a unanimidade às favas.

Eu preciso de apenas um para me carregar no colo, dez mil não me carregariam.

O amor acaba quando a gente precisa desenhar para o outro entender. Vai ver, a gente nem estava amando e sendo amado, apenas desenhando. Ele dispensa também o desenho, qualquer um que seja, fica aflito quando eu quero fazer algum esboço, mostrar que o traço saiu errado e que precisamos ajeitá-lo. Ele faz um sumário, antecipando que é sumário, poucas palavras para encerrar. E diz: "pulemos".

E assim vamos nós, pela milionésima vez nesta vida, juntos, ora eu rainha, ele conselheiro; ora ele, rei, eu, fiel escudeira. Sabemos o que é guerra e paz, mas dispensamos também conceitos. Amor não se desenha e nem se conceitua, se respira.


Por Suzana Guimarães

* Rodrigues