sábado, 10 de março de 2012

QUERIDA EMILY (e as minhas asas? São teus braços, respondeu o anjo),

(Suzana Guimarães, por Luís R.Meneghini)



Querida Emily,


Vou reorganizar minha agenda, remodelar os "biscuits" de anjos que enfeitam os cantos da casa. Reaprender a escrever com caneta, deslizar a tinta, alongar um pouco as letras que sobem, descer com elegância as que descem... Vou montar novo álbum! Nele, constarão todos aqueles que de alguma forma eu os achei belos, daquela beleza que fala sempre mais alto, grita. Nele, estarão todos aqueles que limparam meus sapatos nos dias dos lamaçais e bateram de leve em minhas costas, esvoaçando o pó que carrego há tanto tempo.

Mas, conte-me, conte-me sobre o menino do cabelo escuro e escorrido. Diz para mim, o que a faz se lembrar dele enquanto espera a luta que trava se findar. Conte-me. Enquanto espero em silêncio por tua vitória. O mal pode fazer crescer raízes perversas, mas eu acredito em milagres e no poder da vida. Vai ver, onde se multiplicam células, onde perturbada está a vida, crescida em excessos, está a cura de outros. Tua doença cura os males ao teu redor, pense nisso. Ou não, não pense, fale-me do menino indefinível que você reconhece no vento que chega bem antes dele. Conte-me, até que chegue o dia em que você pulará deste leito e irá até ele e a mim também, disposta a ver comigo minhas renovações. Nos mistérios que a cercam encontra-se meu norte.


Por Suzana Guimarães