quinta-feira, 28 de setembro de 2017

​Aproveitei as recusas da vida para apreciar meus ganhos.


​Aproveitei as recusas da vida para apreciar meus ganhos.
Não houve muito tempo para mim, ou melhor, houve, mas eu sou de ânsias e vontades, sou de criações, e, por isso, estive mergulhada, criando dois filhos, fazendo e desfazendo amor e vivenciando meus endereços. 

Tenho tempo agora para olhar as coisas e as pessoas que passam... eu tinha o meu, para ser precisa, era o nada, ocorria sempre que eu escapava, claro, eu escapava, mas isso sempre foi esporádico. Sei abstrair o olhar e soltar-me desse mundo de estares e fazeres.

Mas agora posso experimentar, da forma mais primitiva possível, como se degustasse um alimento bom. Vejo coisas e pessoas, principalmente as coisas, vendo. Comprei uma torta de frango após um dia com agenda cheia. Essa compra foi um brinde, já que eu estava muito cansada para ainda passar em um supermercado. Em casa, todos a receberam com brilho nos olhos; e, coincidentemente era dia de comemoração. Hoje, mais cedo, uma mulher segurou a porta do elevador para mim - e eu nem estava fazendo questão -, falou palavras boas, traduzidas em bom dia, boa tarde, qual o seu andar e tenha um dia bom. 

Excelente! ​Deixei de lado o sonho dos grandes mergulhos. Fixo-me no momento presente dessa respiração, mesmo que imbuída de sonhos - descobri que eles foram meu oxigênio, minha salvação, então, sonho, mas sonho meio que acordada, parecendo aqueles cochilos de meio de tarde, quando não podemos de forma alguma puxar a coberta, o travesseiro e adormecer.
Não me pergunte nada sobre o futuro, o que é isso? Não me relembre o passado, hoje sou só amor para comigo mesma...



Errei mais que acertei. Acreditei muito, esse foi meu carrasco, esse jeito bobo de colocar fé e força no outro. Porém, não me arrependo, hoje, posso, calmamente observar a vida por sob o prisma de uma loja de cristais, tudo bastante lindo e desejável, mas nem tudo para mim. Descobrir que não posso realmente todas as coisas liberta-me. Posso uma coisa só, com certeza: sentar-me e deliciar-me com o sorvete que saboreio enquanto escorre pelas minhas mãos. ​



Suzana Guimarães


Nota: Texto publicado originalmente aqui.

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