(Suzana Guimarães - fotografia, por A. Guimarães) |
sábado, 31 de março de 2012
SOBRE FESTAS
Ela, minha mãe, anda dizendo que as festas perderam a graça, desde que parti. Ele, outro dia, disse-me: "você é a própria festa!". Sim, há algo de brilhantina em mim, fogos de artifício, barulho de pacote de balas, aquele tipo que incomoda no cinema - não, não faço barulho nesse lugar sagrado, mal respiro. Talvez, porque eu fale muito, muito depressa, e ria ao mesmo tempo, talvez porque estou sempre com pressa (mas meu passo é sempre lento!), talvez porque eu goste da brincadeira de esconde-esconde...
Faço festa por muito pouco, brindo qualquer coisa, e adoro contar histórias. Sou romântica sem freios, apaixonada de arder, sofri de medos tolos e até hoje os vigio de longe, mas, tenho emoções suicidas; não me desafie, não me seduza, não tente me ganhar e muito menos ameace me perder; não me diga que tenho medo, deixa de ser bobo, tenho sim, além dos tolos, hoje, amordaçados, e, por isso, posso ir muito além de tuas pobres palavras. Então, sou a véspera da festa, a véspera da chuva, dia quente na praia, palavra perfeita, flecha fincada no alvo, sou desejo secreto, leve embriaguez, feliz, feliz...
Mas, eu me guio para o silêncio das águas, dos mares calmos, das tempestades na madrugada. Não danço um frevo sem fazer uma pausa, não aprecio barulho sem fim. Gosto de apreciar o nada, de ouvir melodias internas, mesmo que desafinadas, gosto da concha, durmo em concha, em pouca luz, entre um punhado e um, eu fico com um.
Aprecio os brilhos, inclusive os falsos, o mundo seria paupérrimo se existisse apenas luz de verdadeiros diamantes.
Isso tudo para dizer que: há algo de chato nesta festa de um site de relacionamentos que se movimenta numa correria desembestada, sem razão para tanto, que me deixa tonta, que me deixa monga, sim, estou ficando parva, não pelos amigos (eu já disse, considero até os falsos), mas, por mim mesma, pois eu gosto de aconchego, sou mineira, cresci sem pressa, em cidades que continuam as mesmas de quarenta anos atrás. Gosto de me sentar em frente à uma mesa e tomar café por horas, comendo queijo em tiras. Gosto de saber que o tempo pode ser meu possuído, gosto de saber, apesar daquela pressa toda, que posso perder tempo. E, nesse local, eu ando apenas gastando meu tempo e desfolhando-me murcha.
Por Suzana Guimarães