(fotografia, por SCG) |
quinta-feira, 15 de março de 2012
REVIEW
Certas músicas e certas imagens me trazem recordações profundas, de um encontro desnecessário, de palavras estupradas e profanadas, mas que eu respeito, porque foi um tempo meu, nele, deixei minha pele (ninguém viu), sal e água do meu corpo irrecuperáveis, uma energia gasta como água que escorre sem testemunhas, mas que eu sei. Não rejeito nem o pó que carreguei na sola dos sapatos. Ou eu conto a minha história para mim mesma de forma plena ou desisto da vida.
Um tempo de candura, quentura, um tempo que agarrei sozinha, pensando estar acompanhada; que acreditei, pensando estar em sintonia... tudo ilusões. Na realidade, segui a falsidade de verdades inventadas, aquelas vestidas a caráter e a gente acredita. Fizeram-me crer e eu cri, fizeram-se levitar e eu levitei, fizeram-se contente em baile de carnaval, à espera das melhores surpresas. Fui conduzida por um caminho que vi e escolhi, por fim, eu tive que me refazer, sozinha. Engraçado, não me estraguei sozinha, mas a cura foi solitária.
Aquelas palavras todas precisaram de novo dicionário, frases suplicaram por uma nova gramática... e ficou a certeza em mim mesma de que eu não entendo nada, nada de Línguas. Ouvi minha própria Língua, amada, idolatrada, base do meu país, meu emblema, tatuagem irremovível. Para quê? Entendi tudo errado. Acreditei no olhar estendido a mim, nos silêncios que falavam muito alto, na maneira de ser conduzida pelas calçadas. Vivi um enorme equívoco e hoje me vejo com medo de abrir a boca, de soltar os dedos nos teclados, apavora-me a comunicação. Quem sabe, talvez isso tudo tenha servido para me mostrar que em qualquer lugar em que eu estiver neste mundo, preciso ouvir (aqui, entenda-se ler e também ver) o outro com olhar estático para compreender melhor. Mas, e aí, tornar-me-ei então uma autômata? Não sei ser estática. Sei muito bem ser interna, introspectiva, pensante, quase delirante de tão irreal que soa a mim mesma. Sei me abstrair em pleno meio-dia numa praça gigante, apinhada de gente. Tenho enorme facilidade em lidar com minhas vísceras emocionais. Falo muito, mas conheço a mudez de conservatório (onde só a música bela da vida predomina). Pensei em fazer votos de silêncio, em clausuras, em contemplação, mas meu instinto, meu código genético me empurrou a vida toda para justamente o contrário.
Disseram-me que, quando há um erro de comunicação, a culpa é daquele que comunicou. Já tentei me queimar na fogueira dos infernos, pensando ter ocultado peças importantes para ambos, falas preciosas naquele encontro, já tentei autoflagelação emocional, mas, voltei atrás, no caminho em que me deixaram só, eu refiz o passo a passo e me inocentei. Nunca fui de grandes exposições. Meus barulhos sempre foram balas de festim, sem serventia. Para as pedras preciosas, reservei o melhor de mim, em cantos inacessíveis a qualquer um. Mas, sei de todos os instantes em que me entreguei e esperei pela recíproca ou mesmo pelo desprezo total. Mas, até isso tive que aprender, há quem lhe mata beijando-lhe a face.
Por Suzana Guimarães
Nota: primeiro parágrafo publicado originalmente no Facebook, em 14 de março de 2012.