Outro dia, choveu forte. Respirei fundo ao alcançar o portão da varanda da casa onde moro. O tempo acolheu-me e levou-me aos braços da minha mãe, nos tempos todos que hoje representam um só. Naquele dia, pensei que onde eu estava poderia ser lá, qualquer lugar, ou mesmo aí onde você se encontra. E eu queria lhe dizer isto, que o tempo é mesmo muito vago, não se preocupe então com ele, ele é vago e senhor de si, passante. No portão de casa, neste leito que lhe dói os ossos do corpo, naquele país maravilhoso, esplêndido em suas florestas tropicais, de chuvas - sei, sei, vocês chamam de florestas de chuvas e eu acho isso lindo! -, aqui, agora, onde estou, de frente para o computador, noite, cortinas fechadas, movimento constante em casa e meu corpo reclamando de dores e incômodos que minha alma despreza saber, o tempo pode ser o mesmo.
Era dia, era noite. Eu não sei, eu nunca sabia. Eu perguntei todas as vezes em que estive lá, "Que tempo faz lá fora?". Numa das vezes, ouvi: "Não se importe com ele, é o mesmo de ontem e de hoje." Uma vez, pedi: "Você poderia abrir a janela para eu ver um pouco o lado de fora?". "Não". Ele respondeu. "Há um muro feio, fundos de um prédio, janelas trancadas, vozes muito ao longe, muito de vez em quando". "Esqueça".
"Esqueça. Sim, esqueça, criatura", eu pensava. Vire-se para o lado, há um mundo circulando à sua volta, olhe para ele, viva-o, ele espera por você, por sua participação.
Querida Emily,
E a noite alcança. Não há relógios, nem janelas abertas. Há um abrir e fechar de portas eternos. Há toques e picadas nos braços. Ninguém dorme, mas o rapaz que proíbe janelas abertas já se foi, agora é outro, então é noite.
Querida Emily,
Por Suzana Guimarães