Penso que mesmo aqueles que sofrem dor cruel ou qualquer tipo de violência conseguem sentir os ventos mornos dos espíritos de Deus ou mesmo do Espírito Santo a lhes acalentar, diminuindo-lhes o sofrimento ou mesmo extinguindo-o. Feito uma capa invisível que coloca o corpo e a alma sofridos num patamar acima do mal. Embrulhada numa névoa morna, a pessoa sente menos ou deixa de sentir. E o sopro da Vida não poderia ser quente ou frio porque dói ou assusta.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
7. BATER, SOPRAR E TORNAR MORNO
Para você, Carina.
Sou uma pessoa que lê tudo, tudo mesmo! Jornal velho e rasgado sujo de urina de cachorro, bula de remédio, papel de bala, avisos pregados nas paredes, rótulos... compulsivamente. Leio coisa boa e coisa ruim! Leio por ler, por vício. E, nessa mania que começou na infância, sei, já no início da leitura, se é coisa que presta ou não. Não. Não sou formada em Letras e nem crítica de qualquer coisa, mas eu sei o que presta para eu ler. Às vezes, leio do fim para o início ou do meio para o início... procurando frases ou palavras que me fisguem. Depois leio tudo e, se for bom, leio de novo. E posso vir a ler mais e mais vezes porque gostei da batida. Para mim, uma boa leitura é aquela que possui cadência. Bate e sopra, bate e sopra. E a batida tem que me levar...
Encontrei uma pessoa num blog que escreve muito bem. Fiquei fascinada! Ela parecia ler em mim coisas que escrevi com muita dor em meu coração. Entretanto, senti num determinado instante que havia algo estranho e acabei percebendo que ela só bate. E a batida é pesada e forte, feito aquele tambor grande, o surdo, que de surdo não tem nada. Bate estalando os dedos, eu poderia ouvir os estalidos. E daí passou o meu encantamento.
Não dá para escrever sem um momento de leveza, não dá! Ninguém apanha tanto, todo dia, que não lhe venha um sopro morno para lhe livrar da tortura e do desespero. Antes de imergir na língua Inglesa - e eu ainda não consegui o mergulho profundo ou mesmo aparente, pois vago perdida na superfície - eu não gostava de gente e coisas mornas. Morno para mim significava uma pessoa totalmente sem graça, bege ou gris. Uma coisa chatinha, bonitinha. Para mim, tudo e todos deveriam ter cor ou nenhuma. Contudo, aprendi com os americanos a gostar do morno. Há muitas coisas mornas e gostosas. Minha filha no banho sempre diz, "Tá quente, mamãe" ou "Tá frio, mamãe", ela nunca reclama, "Tá morno"! Quando está morno, ela se senta na banheira silenciosamente. Os americanos usam a expressão housewarming , para aquilo que seria o nosso "chá de casa nova". Para eles, a casa nova será abraçada, acariciada, amornada de amores dos amigos. Muito lindo isso!
Penso que mesmo aqueles que sofrem dor cruel ou qualquer tipo de violência conseguem sentir os ventos mornos dos espíritos de Deus ou mesmo do Espírito Santo a lhes acalentar, diminuindo-lhes o sofrimento ou mesmo extinguindo-o. Feito uma capa invisível que coloca o corpo e a alma sofridos num patamar acima do mal. Embrulhada numa névoa morna, a pessoa sente menos ou deixa de sentir. E o sopro da Vida não poderia ser quente ou frio porque dói ou assusta.
Penso que mesmo aqueles que sofrem dor cruel ou qualquer tipo de violência conseguem sentir os ventos mornos dos espíritos de Deus ou mesmo do Espírito Santo a lhes acalentar, diminuindo-lhes o sofrimento ou mesmo extinguindo-o. Feito uma capa invisível que coloca o corpo e a alma sofridos num patamar acima do mal. Embrulhada numa névoa morna, a pessoa sente menos ou deixa de sentir. E o sopro da Vida não poderia ser quente ou frio porque dói ou assusta.
Essa pessoa a qual me refiro, se esquece, ao escrever, de soprar. Talvez, quem sabe, ao soprar uns ventos mornos ou que fossem frios ou quentes, mas fossem sopros e não somente batidas, ela encontrasse mais beleza na vida, nela mesma e nos outros? Talvez esteja faltando ela apenas soprar.
Gostei de muitos dos seus textos, Carina, porque você bate, mas sopra. Ontem, bateu com força. Hoje, abriu o baú da família do marido e me fisgou já nas primeiras linhas. Eu pude ver o azul dos olhos do bisavô, a '"véia" mostrando onde estaria o pelo e vi inclusive, você perambulando pelos túmulos atrás do cantinho dela. Cheguei a ver as flores que você colocaria de presente ao fazer pedidos para a "santa".
Eu li o seu texto, do início ao fim e depois, li de novo. E posso voltar lá novamente para ver se deixei passar algo.
Bom, primeiro eu postei um comentário abaixo da sua publicação e depois fui fritar bifes, cebolas e tomates, e, enquanto fazia isso, fiquei pensando em coisas mornas, olhares mornos, uma tarde na Bahia morna, um chá morno. Infelizmente, a água morna e o café morno justificam o mau uso da palavra. O dicionário diz que morno é tépido e, também, coisa sem energia, frouxa! Pois bem, então coloquemos menos energia nas coisas, sejamos mais frouxos. A dureza pode estafar. A moça do blog deveria tentar a inércia, o exercício do querer menos ou nada mesmo. E é geralmente nessas horas que o nossos desejos se realizam!
É melhor se deixar balançar na tarde morna de um país calorento, espantando moscas.
P.S.: Eu, por pudores, deixei de postar esse comentário em seu Blog porque considerei uma invasão. O comentário tomou ares de redação de vestibular, quando não se contam linhas, se é que isso é possível. Vou deixar postado aqui no meu blog. Mas, é para você, Carina, as minhas conjeturas a respeito de bater, soprar e tornar morno!