Los
Angeles, 30 de abril de 2013.
Duas doses
de Cointreau, uma banda estranha tocando
músicas mais estranhas ainda, um pedaço de chocolate amargo, o silêncio enfim
alcançado, uma vontade enorme de deitar-me no sofá e deixar-me ficar por dias,
noites, ensolaradas tardes ou não, para vestir a minha nova pele,
delicadamente, em respiração regular...Todos dormem, já é noite e eu estou
escrevendo esta carta somente porque você esperou a noite toda pela
primeira... lembra-se? Faz tempo.
Você nunca
me pediu uma carta, nem um poema, sequer um leve conto, eu sei, não precisa
contestar minhas palavras, nem pensar, não quero que você pense, apenas sinta e
deixe-se levar, relaxa, a vida é bem menos e bem mais fácil do que você
imagina. Acredito que não precisamos mais nos apresentar, já podemos dispensar
as palavras, explicações, e esse é o único meio que tenho de dizer-lhe isso. Eu
prometi uma carta para você, mas depois,
me vi perdida, por isso, a demora... escrever o quê?
Cara, eu
cansei. Cansei, cansei, até o núcleo mais oculto das minhas células, algo tão
forte que só renovando, fazendo de novo, recomeçando, sem olhar muito para
trás. Não duvide da minha determinação, nunca faça isso, sou aquele tipo de
pessoa que só diz que irá fazer se for mesmo.
Segui ‘mensagens’ colocadas ‘especialmente’ para mim pelo caminho que era
percorrido... Creio nesses sinais, sim, são sinais, enigmas, o grande problema
foi a tradução mal feita deles. Errei em muitas das minhas interpretações... e,
aí, chega você fazendo-me perguntas, questionando certezas...
Seríamos
felizes em nossa cumplicidade – maior que nós, que nossas tolas vontades,
determinadas decisões de ‘nunca mais” – se você parasse de perguntar e eu de
tentar explicar o que eu não sei. E, atualmente, como dizia meu pai, “não sei,
não quero saber e tenho raiva de quem sabe”.
A música se
repete, já não posso mais com tanto licor e eu preciso
dormir cedo porque acordo às 6h. Por que você não vem conhecer o meu mundo? Eu
tentaria caminhar no teu, eu ouviria aquele chato cantor das emoções, tomaria
chá, que detesto, e tiraria todos os saltos das gavetas para parecer um pouco
maior. Você comeria cactus fritos e saborearíamos algumas margaritas, sim, você
iria tentar aprender a se embebedar. Ou então, seguiríamos para a Baviera e
degustaríamos todas as cervejas de lá, ou o famoso uísque da Escócia. Que tal
um tango que eu não sei dançar, na
Argentina? Ou simplesmente alcançar o mais alto dos morros de um Belo Horizonte
para ver uma entediosa segunda-feira
morrer...
Não tenho
longas cartas para você porque não precisamos mais... tenho mãos para compartilhar,
voz arrastada para lhe dizer e uma enorme felicidade por saber que você está
por perto, mesmo morando abaixo da
Patagônia e eu, para lá dos Montes Urais.
Não
precisamos mais de palavras, precisamos de nós, francamente cúmplices,
degustando o prazer de um encontro, porque
a chance de nos conhecermos era remotíssima. Posso renunciar ao dinheiro, ao sucesso, ao
sexo, mas, à felicidade, nem os loucos renunciam.
Beijo,
Suzana
Por Suzana
Guimarães