sábado, 16 de novembro de 2013

SOBRE CLAREZAS


(desconheço autoria da imagem)

Uma carta chegou. Foi uma carta de amizade, uma doação. Neste mundo egoísta, aquelas letras brilharam nas águas que me invadem.

Há uma gente disposta a me proteger, a cuidar de bem valioso, por assim considerar, cristal que não se deve trincar, sequer isso... e eu perdendo-me em xingos que de nada adiantam, pensando em quem machuca não pelo prazer do ato, mas pela cegueira eterna, pela visão que não alcança nada além do próprio umbigo, ou uma verruga nova no pescoço. 

A minha mãe é assim, o meu filho... mesmo machucados, carregam-me porque gente que luta também precisa de mão estendida para se levantar do chão, porque às vezes tudo é só ruína, tudo dói e a gente chora mesmo sem querer, sem hora, sem pedir licença.

Eu me esqueci de quem faz suporte, de quem costura remendos; me perdi nos cortes.

Os dias mais lindos virão - já que todos são nascituros. Ouvirei 'Cherry blossom girl', beliscarei alguma Vodka que me lembre cisnes cinzas, dias cinzas, sentidos acinzentados, um par de mãos, algum desejo contido ou um sussurro que alcance os céus, qualquer coisa boa, porque qualquer coisa boa a gente encontra nesta vida, principalmente, quando não se está sozinho.


Por Suzana Guimarães