sábado, 9 de novembro de 2013

DESILUSÃO


(desconheço autoria da imagem)


Se você prestasse para mim, cataríamos conchas nas praias para construírmos o castelo que nunca se ergueria, e então seriam eternas as conchas nos bolsos das roupas. Se você prestasse para mim, eu não perderia tempo pois estaria eternizada numa coletânea de fotografias feitas por você. Se você prestasse, eu não precisaria pedir a Deus todos os dias para você me esquecer, pois ando preenchendo meus vazios muito bem, sozinha, mas inteira, e não com os pedaços com que você me deixa. Se você prestasse para mim, eu não seria escritora, eu seria poesia andando por aí, calmaria, fundo de quintal, alguma fruta vermelha marcando um falso batom na boca.

Você não presta nem para erguer um reino de fantasia, muito menos para fotografias. Você presta apenas para eu confirmar minha eterna suspeita, a de que ser só é bem melhor. 

Por que, já que você não presta, você está no meu caminho? Porque a vida é assim mesmo, e, na estrada, sempre haverá pedras pontudas que nos machucam, matinhos insignificantes que nascem e duram em qualquer canto, chuvas devastadoras ou que pingam em terra árida, e uma porção de insetos. Tem flor bela que dura uma semana, tem coisa boa, coisa ruim; um cem vezes de vontade de pegar outra via, de perceber que tudo não é mais como a gente conhecia.

Se você prestasse para mim, eu não estaria sempre querendo ir embora.


Por Suzana Guimarães