terça-feira, 19 de novembro de 2013

Por que pessoas pisam roseirais?



(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Dá-me uma palavra e um olhar completos em si mesmos. Nada que eu tenha que acrescentar. Não sou boa no preenchimento de lacunas, tenho o hábito do aumento que todo sonhador dá.

Dá-me uma ótima notícia, de preferência absurdamente nova para mim, que eu me choque e perca um pouco o rumo para casa.

Dá-me sentimento verdadeiro, cansou-me o estado sempre vazio do outro.

Dá-me algo para eu guardar e nunca mais querer jogar fora, agradam-me eternidades.



Mas, você deu-me um olhar tão triste e decepcionado que cortou-me por dentro, das raízes ao centro nervoso, dos pés à minha alma mal-ajambrada. 

Você não viu o tanto que andei cortada, no caminho de volta. Nada era seu, tudo, meu. Carreguei sozinha, velho costume, embalando a tristeza e lembrando-me de que você olhou-me como se visse a faca cortando, um roseiral murchando, uma noite acabando-se feito eu que já nem disfarço mais. 

Você não sabe, mas seus olhos fizeram a mesma pergunta: 

Por que pessoas pisam roseirais?

Fica a noite. Fica, eu. Fica a certeza de que aquelas rosas nunca mais se reerguerão. Fica seu olhar tão negro quanto as minhas noites.



Por Suzana Guimarães