segunda-feira, 28 de outubro de 2013

JURA DE FILHA, porque eu não vejo flores em pedras.


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)

Você não sabe, mas após sua partida, fiz jura, jura de filha. 

Antes, a pedra arremessada, a pedra bruta, a pedra minha, a sua, a dele; antes, a dor do desvio, do choque, da certeza.

Após, agora, o pó. Fiz da pedra, pó. E penso se isso poderá melhorar minha cútis ou não. Nada mais, nada demais, tudo o que posso carregar: pó

Cansei. Não posso salvar todo mundo. Não quero aceitar beijo por dó.

Acertei o relógio da vida comigo mesma. Egoísticamente, vivo para estas horas, horas minhas, e de ninguém mais. 

Enquanto eu o perdia, enquanto você partia, em sua partida, quando abaixo de mim, um chão se abria, a cada passo, a cada ato, no caminho em que eu ia, ao seu encontro, num tempo incontrolável, nas horas que seriam só minhas, miravam-me e muito pouco eu sabia, agora, sei. 
 
Em sua partida, ousaram-me pedrinhas, como se pedras não fossem... quiseram beliscar minh'alma em chaga, ultrapassar os limites permitidos, pisotear solo sagrado, fazer da minha dor, desculpa.

Deixo-lhe aqui minha jura, cada um, pó que lanço aos ares, aos mares, ao sítio de todos os males.

Aprendi em um último momento, em um ano, um dia, uma hora, uma eternidade, aprendi a desviar-me, a evitar, a ignorar - a maior de sua herança, ignorar no osso, aprendi também a triturar, até ao pó.


Por Suzana Guimarães