quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SOBRE ELE

  
Ele é como um livro que já li, lembro-me  de certas partes da narrativa, e, por isso, eu poderia pular certas falas, por já conhecer. Ele traz o aconchego da certeza de que sei como termina... mas, eu não me lembro muito bem mais como é esse desfecho, pois, muito tempo se passou desde a última leitura.
Não me é desconhecida a capa dura, as folhas que se viram sem esforço, o segredo da história, guardado no título. Sua pele é folha macia que canta, parece que os poros fazem coro em uníssono, chamando-me. O cabelo em tom mais escuro que o escuro de todas as noites, eu conheço há mil anos, algo me atrai, nas coxas, acima um pouco dos joelhos, na nuca, um pouco abaixo do negro da noite que sorri para mim, convida-me. É mais ou menos assim, olho-o de ponta a ponta, seus poros cantam, os ventos que o rodeiam quando ele passa, assobiam para mim, e o visgo que não se esconde entoa cânticos aos anjos.
Nada queima, não há infernos, há frescor, há sensação de que se alcançou a beirada da praia, quando a lua beija o mar, em prata.
Ele é como um livro e também o recanto macio onde eu posso lê-lo, recostada, em paz. Ele é a paz, a sensação de que tenho a posse de todos os dias, todos os anos, as décadas - sou dona do tempo. Sou o tempo que existe, ontem, hoje e futuro num só, quando por mim, ele passa.
Por Suzana Guimarães