domingo, 6 de junho de 2010
XVI - Julho de 2004
Por quê?
Eu queria entender muitas coisas... Entretanto, elas apenas me fogem. A verdade chega a roçar em meu rosto, brevemente, tão brevemente que não consigo fazer registro. Tenho o dom de não fazer registros.
Minha memória acumula fatos, cores, roupas, falas, datas, rostos, ocasionalmente nomes, mas não registra e autentica certos instantes rápidos como a luz ou tão quanto. Aqueles momentos que parecem verossímeis, na realidade, o são, mas eu acho que não acredito neles, talvez porque passam rápido demais ou talvez eu não os queira ver. Quanta coisa a gente não quer ver nesta vida? Mais do que possamos concretamente vivenciá-las. É como se tudo estivesse sob uma neblina ou acontecesse rápido, mas em câmera lenta. Difícil entender?
Certa noite, há muitos anos, eu estava dentro de um táxi, no banco traseiro do carro, parada num semáforo, na Avenida Francisco Sá com Avenida Amazonas, em Belo Horizonte; quando surgiu um carro em alta velocidade na outra pista, vindo da Avenida Amazonas e abalroou o táxi em que eu estava. Era Natal. Havia uma concessionária de carros na esquina à nossa esquerda, de onde vinha o carro. Eu vi o carro voando para cima de nós; vi um pinheiro piscando suas pequenas luzes na tal loja, as piscadas eram lentas, bem lentas; eu me vi sentada no banco do carro. Tudo ficou em câmera lenta, mas com absoluta certeza, foi tudo rápido demais. Pois então, é assim que vivencio certos acontecimentos, mas não registro.
Será um bloqueio? Uma defesa? Certamente que, nos casos de risco de morte, toda pessoa liga uma espécie de válvula de escape, só que eu posso ligá-la em outros momentos também. Penso que é porque não ligo, não dou importância à coisa. Ou não?
Muitos melhores momentos ou, inclusive, os piores que vivi, eu os senti de longe. Como se olhasse através de binóculos. Eu passo por eles. Eles passam por mim. E fica aquela sensação de que não foi bem da forma que deveria ter sido. Parece que olho um querendo ver três. Talvez seja ansiedade. Talvez a tal válvula de escape. Talvez a minha própria personalidade, meio esquiva. As pessoas, muitas vezes, pensam que eu mergulhei de forma profunda. E é essa a imagem que passo. Mas, na realidade, fiquei apenas boiando, como diz R. Pairo na superfície. Olho, mas não vejo.
2 comentários:
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Às vezes o abandono de instintos, chega a ser benéfico para revitalizar a vida, vivida, lavada e torcida!
ResponderExcluirBeijooO'
Sim! Você disse uma verdade, às vezes, é preciso abandonar os instintos. Olhar de longe, ficar à parte, de lado, de frente, de costas... mas nunca dentro. Foram as minhas saídas que me deram força! Bjs, Valéria!
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