| (fotografia, por SCG) |
Não sei bem se tu és porto, se tu és alegre
Não sei se tu és cinza...
Pouco vi
Quarenta e poucas horas
Quarenta ruas
Quarenta pessoas
Quarenta palavras
E mais nada.
Não, não! Havia um silêncio ventoso...
chegou em mim já no aeroporto
Eu poderia pegá-lo, de tão presente
Eu poderia materializá-lo, de tão irreal.
Algo que alcançou além da carne, no osso.
Um vento fino e frio, distante
vinha com ele
subia pelas bainhas do vestido
alcançava minhas pernas.
Lá no alto, ao chegar à sacada
Bateu macio em meu rosto
silêncio ventoso...
Perseguiu-me pelas ruas, no encalce de minhas palavras
Mudas!
Na casa do poeta famoso instalou-se de vez: eternizou-se.
E se fez desnecessário o riso das moças, o zunir das crianças invisíveis, o bater dos martelos...
Nem era preciso esforço
Silêncio ventoso...
Não sei bem se tu és porto, se tu és alegre
Não sei se tu és cinza...
Só sei que tu me deixaste assim que os céus desceram arrastados
quase alcançando as aves de metal, os terraços alagados...
Tu me deixaste?
Não, não. Tu nunca me possuíste, eu apenas passava...
(Por Suzana Guimarães)
Poema dedicado à cidade de Porto Alegre/RS/Brasil