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| (arquivo pessoal de Suzana Guimarães) |
Naquele tempo, o óbvio pautava nossos dias. O fundo da casa de dois andares era separado do grande quintal vizinho por um muro baixo. Naquele terreno ao lado, havia uma enorme mangueira, sempre lotada de mangas que pessoa alguma parecia colher, e havia ao pé da árvore um cachorro Pastor Alemão. Ninguém se atrevia a pular o muro e a vida transcorria. Não havia sofrimento ou mesmo algum pensamento mais forte sobre; era apenas um fato.
Não sei quando aquele cachorro ficou velho e passou a ser apenas presença. Não sei se foi substituído por outro e depois mais outro - eu ia lá somente nas férias.
Não sei quando passamos a não mais olhar as mangas e o cão.
Certa vez, alguém comentou que 'ele' não estava mais lá, mas ninguém acreditou. Alguns diziam que provavelmente ele apareceria surgido de algum canto daquele enorme terreno quase abandonado.
Não sei quando o desejo de todos por aquelas mangas passou.
Não sei quando, mesmo passando ao lado, eu já não via mais aquele muro.
Não sei quando a gente perde a simplicidade de apenas ser. Hoje, não me bastariam aquela casa, o muro, as mangas e o cão. Nem os primos, muito menos as férias... - apesar deste álbum de fotografias imaginário conceder-me um certo frescor.
Não me bastariam porque eu lotei a mim mesma de coisas vãs enquanto buscava o sumo em frutas nascidas no balcão do supermercado.
Suzana Guimarães

sabe, Suzana, estas lembranças são costuradas com a linha do tempo e o tecido resiste a toda a sorte de intempéries.
ResponderExcluirficou este cheiro de manga.
o murou desabou.
É interessante como o que escreve, você me leva a pensar em coisas tão distantes do teu tema. Esse ultimo parágrafo, sobre o sumo das frutas do mercado, me deixou pensando sé não é por isso que a humanidade sobrevive. O Darwin dizia que só os que se adaptam melhor, permanecem, não é?
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